Equivoca-se quem diz que “a esperança é a última que morre”. Na realidade, “a esperança nos faz viver”. A luta dos trabalhadores e das trabalhadoras em defesa de seus direitos e sua dignidade, celebrada anualmente dia 1° de Maio, no mundo todo, particularmente as manifestações que ocorreram no Brasil este ano, por um país mais democrático, economicamente soberano, socialmente justo e ecologicamente sustentável, são provas disso.
Essas manifestações são, historicamente, significativas. Há cerca de 150 anos, trabalhadores de muitos países, começaram a lutar para se reduzir a 8 horas a jornada de trabalho, que, na época, chegava a 16 horas. O 1º de Maio é um símbolo dessa e de outras lutas que garantiram a conquista de muitos direitos e beneficiaram a sociedade no seu todo. No Brasil, essas lutas geraram um estilo mais avançado de democracia e a recuperaram quando foi cerceada.
Nos últimos anos, sofremos retrocessos, comprovados pelo congelamento de investimentos sociais; pelas reformas trabalhistas que precarizaram as condições de trabalho; pela privatização de empresas estatais; pelo favorecimento de grandes grupos econômicos, sobretudo transnacionais; pela canalização de recursos públicos para pagamento de dívidas não auditadas, a bancos nacionais e estrangeiros; pela alta taxa de juros e outros fatores.
Essas situações desafiam a classe trabalhadora deste país a agir de forma unitária. As comemorações do 1° de Maio deste ano, foram, portanto, significativas para reivindicar, prioritariamente, a revisão dos critérios de pagamento da dívida pública, do congelamento de gastos sociais e das reformas trabalhistas; o estancamento de privatizações; e a implementação de políticas de geração de emprego em condições dignas, especialmente para a juventude.
A missão que Cristo conferiu a seus discípulos de serem “sal da terra e luz do mundo” (cf. Mt 5,13-16) nos inspira como Igreja, a nos manifestarmos, especialmente nesta ocasião, como o fez a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em sua Mensagem ao Povo Brasileiro, no último dia 28 de abril, solidários à justa reivindicação dos trabalhadores, das trabalhadoras e de outros setores socialmente excluídos do Brasil, pela universalização de direitos.
Segundo a CNBB, “melhores condições de trabalho, aumento de renda, redução da carga horária, mais tempo de descanso e convivência social, enfim, condições mais saudáveis de vida, continuam sendo desafios”, e chama a atenção para “o trabalho análogo à escravidão, presente em todo o território nacional” como “chaga social que precisa ser energicamente combatida pelos poderes constituídos e por toda a sociedade”. Essa é nossa esperança. Ela nos faz viver.
Dom Reginaldo Andrietta é Bispo Diocesano de Jales (SP)