PUBLICADO EM 03 de fev de 2025
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Chefes de volta ao comando no novo governo Trump

Atkins fala sobre Chefes no comando. A próxima edição do Manifesto Comunista poderia simplesmente incluir uma foto dos bilionários da tecnologia na posse de Trump ao lado da icônica frase de Marx: “O governo moderno nada mais é do que um comitê para gerir os negócios comuns da burguesia como um todo.” 

Chefes de volta ao comando no novo governo Trump

Chefes de volta ao comando no novo governo Trump: donos das maiores empresas de tecnologia, Mark Zuckerberg, Jeff Bezos, Sundar Pichai e Elon Musk prestigiam a posse. Foto: Julia Demaree Nikhinson.

Em novembro passado, quatro dias após a eleição presidencial, o comentarista da Fox News, Jimmy Failla afirmou que Donald Trump venceu Kamala Harris porque tinha uma “arma secreta”. Essa arma? A classe trabalhadora, pelo menos segundo Failla.

Segundo esse comentarista, Trump “se conectou com os eleitores da classe trabalhadora em níveis sem precedentes… num momento em que muitas pessoas se sentem ignoradas pelas elites de Washington.”

A mesma narrativa foi repetida no Dia da Posse, com coberturas divididas nas redes sociais de direita, contrastando os parlamentares do Partido Democrata em seus ternos formais de um lado, e americanos comuns em seus moletons Carhartt e jeans do outro, comendo cachorros-quentes e pipoca enquanto aguardavam a chegada de Trump na Capital One Arena.

A mensagem era clara: Trump luta contra o “establishment político” para erguer as massas, aqueles que trabalham para sobreviver e enfrentam dificuldades.

Sejamos honestos: Failla, a Fox News e o restante da câmara de eco da extrema direita não estão completamente errados. Não há como negar que Trump conseguiu garantir o apoio de um número significativo de americanos da classe trabalhadora (principalmente, mas não exclusivamente, brancos). Caso contrário, ele não teria conseguido 77 milhões de votos.

Mas afirmar que Trump é o campeão dos trabalhadores, um guerreiro contra os poderosos e ricos em nome do povo? É aí que a história desmorona completamente.

A verdadeira base de Trump

Os verdadeiros aliados de Trump, aqueles por quem ele realmente luta, não estavam nas arquibancadas da Capital One Arena.

Não, os verdadeiros aliados de Trump eram os interesses financeiros sentados logo atrás dele durante a cerimônia de posse. Em lugares normalmente reservados para familiares próximos ou ex-presidentes, estavam os titãs da tecnologia da economia do século XXI.

Elon Musk, Mark Zuckerberg, Jeff Bezos, Sundar Pichai — juntos, sua riqueza estimada se aproxima de um trilhão de dólares. Eles representavam perfeitamente a política capitalista dos EUA hoje. Esses bilionários investiram centenas de milhões de dólares em seu candidato e foram a Washington para celebrar sua conquista.

Claro, independentemente de qual dos dois partidos esteja no poder em Washington, é sempre a classe capitalista que governa. No entanto, o segundo governo Trump está levando isso a um nível completamente novo.

Agora, os grandes nomes das finanças, tecnologia e comércio não estão mais satisfeitos em simplesmente comprar influência no governo por meio de lobby e doações de campanha. Agora, eles estão assumindo diretamente o controle dos instrumentos do Estado para garantir condições que aumentem seus lucros e poder. Além do presidente bilionário, pelo menos uma dúzia de outros bilionários e multimilionários assumirão cargos no governo.

Aqui estão alguns dos novos nomeados de Trump:

  • Scott Bessent (gestor do Soros Fund), como Secretário do Tesouro;
  • Howard Lutnick (CEO da Cantor Fitzgerald), como Secretário de Comércio;
  • Linda McMahon (promotora de lutas), como Secretária de Educação;
  • Frank Bisignano (ex-executivo do JPMorgan Chase e Fiserv) à frente da Seguridade Social;
  • David Sacks (da “máfia do PayPal”), como novo czar de IA e criptomoedas;
  • Warren Stephens (financista), como embaixador no Reino Unido;
  • Leandro Rizzuto Jr. (executivo da Conair) na Organização dos Estados Americanos;
  • Charles Kushner (magnata do setor imobiliário e pai de Jared Kushner), como embaixador na França;
  • Steve Witkoff (outro magnata do setor imobiliário), como enviado de “paz” no Oriente Médio;
  • Mehmet Oz (médico da TV), como administrador do Medicare e Medicaid;
  • Kelly Loeffler (negociante de criptomoedas) liderando a Administração de Pequenas Empresas.

A lista continua.

O novo gabinete de Trump está projetado para valer pelo menos 7 bilhões de dólares, superando em muito a riqueza recorde de seu primeiro gabinete (3,2 bilhões de dólares) e tornando os 118 milhões de dólares do gabinete de Joe Biden insignificantes, em comparação. E isso sem contar os nomeados para novas agências, como Musk na recém-criada DOGE (Departamento de Eficiência Governamental), elevando o valor total do governo bem acima de 450 bilhões de dólares.

Capitalismo monopolista de Estado turbinado

A administração Trump está entregando à classe capitalista o controle direto sobre os poderes econômicos do Estado, que serão usados para manipular taxas de juros, tarifas, impostos, regulações (e desregulações) e todas as demais ferramentas do governo para enriquecer a elite às custas do resto da população. Trata-se de um capitalismo monopolista de Estado em esteroides.

Mas, ao contrário do típico Estado capitalista, que intervém na economia para estabilizar o sistema em nome da burguesia como um todo, o governo Trump foi capturado por setores específicos — tecnologia (agora fortemente inclinada à direita), criptomoedas e capital especulativo, combustíveis fósseis, grandes segmentos do setor financeiro e bancário, partes da indústria farmacêutica e o chamado “pequeno capital” (como fábricas de médio porte e negócios independentes nos EUA).

Outros, como empreiteiras militares, sempre apostam nos dois lados e lucram independentemente de quem governa. No entanto, nos bastidores das fabricantes de armas, as esperanças são altas de que mais guerras e tensões internacionais (especialmente com a China) estejam no horizonte. Trump pode se vender como o “presidente da paz”, mas as empresas bélicas não estão nada preocupadas.

Politicamente, o caráter desse novo regime também simboliza um caminho acelerado para o fascismo.

Os capitalistas mais reacionários e propensos à violência estão ocupando os postos de poder, com o movimento de massa MAGA servindo como base de apoio. Quando combinado ao poder financeiro dos monopólios e à influência ideológica dos fanáticos do livre mercado e evangélicos, isso representa uma fórmula para dividir a classe trabalhadora e enfraquecer ainda mais a já limitada democracia burguesa.

A próxima edição ilustrada do Manifesto Comunista poderia simplesmente incluir uma foto dos bilionários da tecnologia na posse de Trump ao lado da icônica frase de Marx: “O governo moderno nada mais é do que um comitê para gerir os negócios comuns da burguesia como um todo.”

Se alguma vez houve um argumento visual para o socialismo e para a necessidade de retirar o poder das elites econômicas, foi a posse de Trump. Os meses que a antecederam e os dias desde então foram uma verdadeira orgia de ganância — uma celebração da corrupção, exploração e poder desenfreado.

O governo Trump não é tão sólido quanto parece

Mudar a correlação de forças será uma tarefa árdua, exigindo unidade da coalizão anti-MAGA existente, o resgate de setores da classe trabalhadora e das camadas médias que apoiaram Trump e o uso estratégico das divisões dentro da própria classe capitalista — e não faltarão rachaduras.

Marx disse uma vez: “Um capitalista sempre mata muitos outros.” Ele se referia à concentração e centralização do capital inerente à monopolização. Mas essa frase também se aplica ao inevitável fogo amigo dentro do governo Trump, como já vimos no passado.

Divergências, demissões, traições e divisões no Congresso podem desestabilizar sua administração e abrir brechas para a resistência.

A luta contra os planos de Trump precisa ser construída nas ruas, nas câmaras municipais, nos legislativos estaduais e no Congresso. Contradição, competição e conflito sempre definem o capitalismo — especialmente o capitalismo em crise.

C.J. Atkins é editor-gerente do People’s World. Possui doutorado em ciência política pela Universidade de York, em Toronto, e tem experiência em pesquisa e ensino sobre economia política e a política da esquerda americana.

Texto traduzido do site People´s World por Luciana Cristina Ruy.

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