PUBLICADO EM 28 de set de 2018
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“Batman O Cavaleiro das Trevas” chega aos 10 anos como um filme sério e profundo

“Batman deixou de ser uma história em quadrinhos”, foi o que sentenciou o lendário crítico de cinema Roger Ebert (1942 – 2013) quando Batman, o Cavaleiro das Trevas foi lançado, em 18 de julho de 2008. Segundo ele o filme “redefiniu as possibilidades dos filmes baseados em quadrinhos”.

Por Carolina Maria Ruy

Desde 1989, com o lançamento do Batman de Tim Burton, cineastas tentaram levar o herói para a grande tela. Mas até Christopher Nolan assumir esta tarefa, o resultado eram filmes infantilizados, confusos e pouco densos. O original, de Burton, tem sua graça, muito devido ao coringa do genial Jack Nicholson, mas apresenta um apagado Michael Keaton como Bruce Wayne. Os que vieram depois foram lastimáveis.

Para piorar, um ano antes, em 1988, foi lançada a icônica HQ The Killing Joke (A Piada Mortal), escrita por Alan Moore e desenhada por Brian Bolland. A revista elevou o padrão e as expectativas em torno do personagem, conferindo a ele e, sobretudo, à sua relação com seu arqui-inimigo Coringa, uma grande carga dramática e complexidade psicológica. Esta atmosfera só pôde ser traduzida para o cinema vinte anos depois, com o segundo filme da trilogia de Nolan.

Batman, o Cavaleiro das Trevas — o primeiro longa a usar extensamente a tecnologia de câmera Imax— foi um sucesso crítico, conquistou oito indicações ao Oscar e levou duas estatuetas, uma póstuma, para o desempenho chocante de Heath Ledger, como o Coringa, e outra, muito merecida, para edição de som.

Na época o jornal Wall Street Journal escreveu que se tratava de “um experimento social em escala mundial” para “ver se a audiência vai aparecer para assistir a um épico baseado em quadrinhos” e disse que o filme ia “além da escuridão” mergulhando “num abismo infernal, com paradoxos sombrios, traições infindas e corrupção generalizada.”

O resultado foi um grande sucesso comercial. E isso, aliado à sua notória qualidade técnica e artística, levantou questionamentos sobre ele não ter sido indicado ao Oscar de melhor filme naquele ano [vencido pelo medíocre (minha opinião) Quem Quer Ser um Milionário?].

Segundo o jornal The Washington Post, passada uma década, vale a pena refletir sobre os preconceitos que o filme enfrentou de parte da crítica na época de seu lançamento, e como alguns dos mais renomados críticos de cinema americanos do período não foram capazes de apreciar o que Nolan realizou.

O filme explora de forma pertinente a fronteira entre a loucura e a sanidade. O Coringa é um louco sério e perigoso. Um caso a ser estudado. Ele está muito mais próximo de Alexander DeLarge, o Alex, de Laranja Mecânica (Stanley Kubrick), do que de algum fantasioso Duende Verde, em Spiderman, ou Lex Luthor, do Superman. Consta, aliás, que Heath Ledger de fato usou o filme de Stanley Kubrick como inspiração para compor seu personagem, assim como as referências punks como Sid Vicious e Johnny Rotten para lhe dar um tom e uma aparência anárquica. Do outro lado, o senhor Wayne está longe de ser um padrão de normalidade.

O filme é o que melhor traduz a complexa relação entre Batman e Coringa, personagens que, em uma análise psicológica se complementam em uma Gotham City caótica e contraditória. As cores e os sons da cidade, as crianças e os moradores de rua, vivendo em um estado medieval em plena era tecnológica, são mais realistas que o desejável.

Em Batman O Cavaleiro das Trevas o mundo é representado por uma combinação de sofisticada modernidade e obscuro medievalismo. Sob esta perspectiva o filme chega aos seus dez anos consolidado como uma grande obra. Uma obra que merece ser revista e levada a sério.

Carolina Maria Ruy, jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical

Assista o trailer:

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