PUBLICADO EM 27 de fev de 2019
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Trump e Kim se reúnem de novo, mas incerteza sobre paz continua

É a segunda vez na história que o presidente americano e um ditador norte-coreano se encontram. Líderes se encontraram pela primeira vez há 8 meses com poucos resultados práticos

O Presidente Donald J. Trump e líder norte-Coreano Kim Jong un, caminham juntos para a sua reunião bilateral expandida, terça-feira, 12 de junho de 2018, no Hotel Capella em Singapura / Foto: Shealah Craighead

​A reunião de cúpula entre Donald Trump e Kim Jong-un, que começa nesta quarta (27) em Hanói (Vietnã), pode resultar em um anúncio histórico visando pôr fim formal à Guerra da Coreia.

Pirotecnia à parte, e ambos os líderes gostam de fotografias e slogans fáceis, os passos para a pacificação da península coreana são muitos, e incertos em sua viabilidade.

É a segunda vez na história que o presidente americano e um ditador norte-coreano se encontram.

Trump e Kim, que passaram 2017 trocando acusações que levaram o mundo a especular seriamente se haveria uma guerra nuclear na Ásia, se encontraram há meros oito meses, em Singapura. Agora, terão dois dias de conversas na capital vietnamita.

Pouco aconteceu em termos de negociações de lá para cá, exceto o cumprimento de duas concessões desiguais.

Kim não fez mais nenhum teste nuclear ou de mísseis. Trump, por sua vez, não fez mais exercícios militares de grande escala com a Coreia do Sul, sua aliada.

Mas o Norte não paralisou sua produção nuclear.

O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos calcula que a ditadura acumulou material físsil (plutônio e urânio enriquecido) para até sete novas ogivas em 2018, tendo apenas fechado o já destroçado sítio de testes que utilizava.

Já os EUA instilaram desconfiança em seus parceiros ao sul da linha desmilitarizada resultante do armistício da Guerra da Coreia (1950-53). Para Seul, o afã de Washington de chegar a bons termos com Kim pode colocar sua segurança em risco.

Os rumores ventilados pela diplomacia americana de que Trump vai propor a Kim que anunciem o fim do conflito só reforça essa impressão.

Tal declaração só faria sentido real com a presença de um representante da Coreia do Sul. E mais: há o temor, em Seul e também em Tóquio, de que os EUA só estejam buscando uma forma de desengajar-se militarmente da península coreana, onde mantêm 28,5 mil soldados.

Essa leitura é condizente com o que Trump vem promovendo em outros lugares, como o Afeganistão.

O problema é que a Coreia do Sul poderia até desenvolver armas nucleares para sua própria defesa nesse caso —não exatamente o melhor resultado de um acordo de paz.

Líderes militares americanos reiteram que não vão abandonar seus aliados, mas o risco está colocado para os sul-coreanos. E também para os japoneses, estes também na mira dos mísseis de médio alcance já operacionais e com capacidade nuclear de Kim.

Aqui entra também a China, principal garantidora de Pyongyang. Durante a crise de 2017, Trump pressionou Pequim para que apertasse o cerco contra Kim, sem sucesso.

No ano seguinte, os chineses foram a figura oculta na cúpula dos líderes.

A redução da atividade americana na região soou como música para a ditadura comunista em Pequim, que busca consolidar-se como poder principal no oeste do Pacífico.

O nó fulcral para Trump e Kim é definir o que é a desnuclearização da península, anunciada como objetivo no ano passado. Para os americanos, seria o fim do programa nuclear comunista e a destruição de seu arsenal.

Ele é estimado pelo pesquisador Hans Kristensen, do Boletim dos Cientistas Atômicos (EUA), em 10 a 20 ogivas. O especialista afirma, numa conta conservadora, que há material para produzir até 60 bombas.

Já Kim indicou, depois de Singapura, que não se iria se desfazer de suas armas. E que considera desnuclearização a saída de forças americanas capazes de empregar armas atômicas e seu comprometimento em defender o Sul.

A questão para o jovem ditador de 35 anos é que a dinastia de sua família, da qual é o terceiro representante, tem a continuidade lastreada pela capacidade de dissuasão oriunda de bombas e mísseis.

O frenético avanço no programa de armas em 2017, que assustou ao testar mísseis que poderiam vir a atingir os EUA, é prova disso: Washington acabou por legitimar a ditadura ao tratá-la como igual na frente de câmeras.

Um compromisso de Kim para a suspensão da produção de material físsil é mais factível, mas mesmo isso enfrentaria a barreira de permitir inspeções a seu arsenal.

Assim, o eventual anúncio de “paz” precisa ser lido com desconfiança. De resto, a situação sacramenta a existência de duas Coreias, o que dificulta ainda mais eventual reunificação pacífica no futuro.

Analistas apostam mais em uma nova rodada de concessões como caminho para a normalização na península. A Coreia do Norte gostaria do fim das sanções impostas pelos EUA, por exemplo.

Qualquer que seja o resultado, contudo, pode confirmar a tendência de distensão registrada após a fotogênica cúpula de 2018, o que observadores concordam ser melhor do que o estado anterior.

Fonte: Folha SP

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