PUBLICADO EM 26 de jan de 2021
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Segunda onda negligencia medidas de contenção do Covid-19 e mortes aumentam

O estudo “A Segunda Onda da Pandemia (Mas Não do Distanciamento Físico): Covid-19 e políticas de distanciamento social dos governos estaduais no Brasil”, publicado sexta-feira (22) pelo Ipea alerta: colapsos como o observado na cidade de Manaus nas últimas semanas poderão se repetir em outras cidades brasileiras se estados e municípios não tomarem medidas mais rigorosas de distanciamento físico e critérios claros, objetivos, transparentes e abrangentes para o relaxamento das medidas. 

UPA José Rodrigues em Manaus, janeiro de 2021. Foto: Márcio James/Amazônia Real

A crise sanitária observada no estado do Amazonas nos últimos dias – com o aumento substancial do número de casos de Covid-19 e o esgotamento da capacidade de atendimento hospitalar – mostra a importância da adoção de medidas de distanciamento. “O caso do Amazonas indica que medidas rígidas de distanciamento acabam, em alguns casos, sendo impostas como um último recurso, ao invés de serem adotadas de forma preventiva”, ponderou o autor da pesquisa, o economista Rodrigo Fracalossi, do Ipea.

A pesquisa levantou que entre os meses de abril e dezembro de 2020, o grau de rigor das medidas de distanciamento físico no país diminuiu de 6,3 para 2,9 (-54%) – em uma escala de 0 a 10. No mesmo período, o número médio de novos óbitos aumentou de 1,0 para 3,1 por 1 milhão de habitantes.

Outros dois fatores que aumentam a probabilidade de agravamento da crise são a desmobilização de hospitais de campanha ao longo dos últimos meses – aumentando a pressão sobre os sistemas de saúde – e o fim do auxílio-emergencial, que implica para muitos a necessidade de voltar a trabalhar presencialmente.

Na avaliação do autor do estudo, a adoção de medidas de distanciamento de forma preventiva, bem como a criação de parâmetros claros para determinar seu grau de rigor (número de novos casos, óbitos e disponibilidade de leitos, por exemplo), poderia reduzir os impactos negativos da segunda onda.

Imunidade de rebanho não foi confirmada

Segundo o estudo: “Quando o número de novos casos e óbitos passou a diminuir de forma sustentada, estados que haviam adotado políticas de distanciamento físico rígidas ou medianamente rígidas reduziram o grau de rigor das medidas. Tais políticas faziam sentido naquele contexto: certas atividades poderiam ser retomadas a fim de se evitar danos econômicos e sociais desnecessários. Ademais, a retomada de atividades econômicas, sociais e culturais ocorreu em um contexto no qual outras medidas preventivas – uso obrigatório de máscaras e protocolos de higienização, por exemplo – haviam sido amplamente adotadas, o que diminuiria o risco de uma segunda onda. Em teoria, tal risco também seria diminuído caso a população tivesse adquirido imunidade de rebanho, o que poderia ter ocorrido em algumas localidades: uma estimativa publicada na Science indicou que a soroprevalência do vírus em Manaus era de 76% em outubro de 2020 (Buss et al., 2020). No entanto, a hipótese de que a imunidade de rebanho havia sido atingida em Manaus não foi confirmada quando se tornou claro que a cidade atravessava uma segunda onda da pandemia. Como Manaus atravessou uma segunda onda mesmo com grande parte da população tendo sido previamente infectada, a probabilidade é alta de que
outras regiões do país também passem por processo semelhante”.

O IPEA também alertou para o fato de que o o provável fim do auxílio-emergencial cria pressões adicionais para que parte da população saia de casa e recomendou “a adoção – ou manutenção – de campanhas de adesão da população a normas de distanciamento físico”.

Leia aqui o estudo completo

Fonte: IPEA

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