PUBLICADO EM 12 de mar de 2019
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Morre Coutinho, que protagonizou dupla lendária com Pelé no Santos

Ser considerado o melhor parceiro de Pelé já seria um grande elogio para qualquer jogador, mas em se tratando de Coutinho isso é muito pouco. O piracicabano, cujo nome era Antônio Wilson Vieira Honório, que nasceu em 11 de junho de 1943 e morreu nesta segunda (dia 11), aos 75 anos.

A causa da morte não foi divulgada. Em seu site oficial, o Santos, equipe pela qual Coutinho jogou a maior parte de sua carreira, revelou que o ex-jogador faleceu na sua casa e que o velório será no estádio da Vila Belmiro. A cerimônia será a partir de 1h, no salão de Mármore e terminará com o sepultamento, previsto para acontecer às 18h no cemitério Memorial da cidade.

Encontro entre Pelé e Coutinho em 2014 — Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Divulgação Santos FC

Pelé lamentou a morte do antigo companheiro e disse que um dia fará tabelinha com ele no céu.

Ele tem de ser considerado um dos maiores atacantes da história do futebol.

Ídolo do grande time do Santos das décadas de 1950 e 1960 e centroavante do famoso ataque formado por Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, sabia se colocar como poucos dentro da área e era muito frio nas conclusões, dificilmente marcava um tento dando um chutão, preferia as conclusões com um toque sutil, geralmente finalizando no chamado contrapé do goleiro, que, sem ação, via a bola entrando mansamente em sua meta. Cronistas da época, relatavam que em muitos dos seus gols (só com a camisa do Santos foram 370 gols em 457 partidas, o que o torna o terceiro artilheiro da história do clube, perdendo apenas para Pelé e Pepe), a pelota nem chegava a tocar nas

Tudo na carreira de Coutinho aconteceu precocemente. Foi descoberto pelo Santos em preliminar de um jogo que o time faria contra o XV de Piracicaba. Jogando pelo Palmeirinha de Piracicaba, contra o XV de Piracicaba, o garoto franzino e pequeno, que por essas características recebeu o apelido de “Cotinho” (daí a origem de ele ser chamado de Coutinho no Santos) fez o gol da vitória do time e, nos vestiários, o mesmo que o Santos usava, recebeu o convite santista. O detalhe é que Coutinho participou da partida por acaso, antes do início do jogo o técnico do Palmeirinha percebeu que faltava um jogador no seu time e “Cotinho” recebeu o uniforme para jogar, segundo seu relato, como quarto-zagueiro.

Ele chegou ao Santos com apenas 14 anos, em 1958, depois de fugir de casa. O adolescente, que gostava de jogar futebol e não era torcedor fanático de nenhum clube e talvez por isso não se impressionava em treinar ao lado de nomes como Pagão, Jair da Rosa Pinto e Pepe, estreou no time principal no mesmo ano com apenas 14 anos, 11 meses e 6 dias, já fazendo um gol, contra o Sírio Libanês, de Goiás.

No ano seguinte, passou a ter destaque no time principal, revezando-se com Pagão na posição de centroavante. Foi aí, que começou a brilhar a dupla com Pelé. O entrosamento dos dois em campo era perfeito e daí surgiram as lendárias tabelinhas, que invariavelmente terminavam em gols. Os toques eram precisos entre os dois, inclusive há relatos de que sequência de seguidos toques de cabeças entre a dupla provocou a criação do chamado “cabeça de área” no futebol brasileiro (o volante), que teria a missão de ficar na frente dos zagueiros para ajudar a marcar a dupla santista.

A parceria que parecia perfeita com Pelé sempre teve altos e baixos. Mesmo no auge, em campo, os dois discutiram em campo em várias oportunidades. A relação entre Pelé e Coutinho gerou algumas lendas. A mais famosa deles é que Coutinho, para não ser confundido com Pelé (os acertos sempre eram do Pelé e os erros eram meus, gostava de brincar o centroavante), passou a usar esparadrapos nos pulsos. O que não é verdade, o próprio Coutinho dizia que isso aconteceu em um período em que ele teve uma contusão nos pulsos.

Depois que ambos pararam de jogar Coutinho também deu algumas alfinetadas e fez críticas ao seu parceiro, ao mesmo tempo que trocavam vários elogios e abraços. Em um dos últimos encontros da dupla, promovido pelo Santos, os dois tentaram jogar videogame comandando o grande time do Santos da década de 1960, e mostrou a dupla bem afiada nos comentários e bem-humorados.

Com tanto sucesso no Santos, Coutinho também foi convocado precocemente para a seleção brasileira. Perto de completar 17 anos, foi convocado para sua primeira partida na seleção principal. Mas, mesmo assim, não teve com a camisa do Brasil o mesmo sucesso que teve jogando no Santos. Fez apenas 15 jogos com a camisa amarela, marcando seis gols. Tinha tudo para ser o titular do Brasil na Copa de 1962. Mas, num dos últimos amistosos antes do Mundial do Chile, contra o País de Gales, acabou se contundindo. Mesmo assim, ficou entre os 22 jogadores que conquistaram aquele Mundial, mas não entrou em campo.

Se não teve participação no bicampeonato mundial com a seleção, Coutinho foi fundamental nas conquistas do Santos da Copa Libertadores e do Mundial de Clubes em 1962 e 1963. Fez gols decisivos e foi figura de destaque no jogo que é apontado como a melhor atuação do grande time do Santos: a decisão do Mundial de Clubes de 1962, quando o esquadrão santista bateu o Benfica por 5 a 2, jogando em Lisboa.

Em meados da década de 1960 e com apenas 25 anos, Coutinho já sofria com sérios problemas no joelho e com sérios problemas para manter o peso ideal para jogar. Mesmo em declínio, ainda jogou no Santos até 1968 (teve uma volta rápida ao clube em 1970), mostrando sua categoria de artilheiro em alguns jogos.

Longe da Vila Belmiro teve passagem por Portuguesa, Vitória, Atlas (México), Bangu e terminou a carreira precocemente aos 30 anos, jogando pelo extinto Saad, de São Caetano do Sul.

Depois de para de jogar, ele tentou a carreira como treinador, mas nunca obteve grande sucesso. Vivendo perto da Vila Belmiro, tímido e avesso a dar entrevistas, Coutinho dizia ter sorte de ter jogado no grande time do Santos e que sem os seus companheiros não teria sido nada. Em 2014, o jogador teve que amputar um dos dedos do pé por problemas causados por diabetes e começaram os problemas de saúde que o levaram à morte.

Para aqueles que não viram Coutinho jogar, o seu estilo de jogo seria parecido com o de Reinaldo (ídolo do Atlético-MG), pela técnica e pela frieza para finalizar, e com Romário, pela colocação dentro da área e também pela precisão nos chutes. Mas esses dois excepcionais atacantes não conseguiram o feito de Coutinho que foi o único a se aproximar tanto de Pelé – até pelo fato de jogar ao lado – na arte de fazer gols (e há quem diga que dentro da grande área Coutinho chegou a ser melhor do que o Rei).

Mengálvio, que fez parte do ataque santista com Coutinho na década de 60, lamentou a morte do companheiro em sua conta no Instagram.

Também jogadores da atual geração do Santos se manifestaram sobre a perda do artilheiro, como Rodrygo.

Descanse em paz, Coutinho. Que Deus possa confortar os familiares e amigos neste momento tão difícil. Ídolo da história do @SantosFC e do futebol mundial, uma referência para nós mais jovens no clube.

O Santos, time em que Coutinho passou a maior parte da carreira, se manifestou, assim como outros clubes, ex-jogadores e entidades do futebol.

Fonte: Folha SP

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