
Fascismo e trabalho: Trabalhadores estrangeiros da Prisão de Stadelheim (palco de muitas execuções durante o período nazista) trabalham em uma fábrica de propriedade da empresa de câmeras AGFA. Foto: US Memorial Holocaust Museum
Por Por Tim Wheeler
Vestidos com uniformes pretos, máscaras pretas e óculos escuros para esconder o rosto, um grupo de homens e mulheres marchou pela vigília do Dia do Trabalho em Sequim, Washington, na segunda-feira. A mulher que liderava essa procissão carregava um cartaz: “Sinais do Fascismo”, e os que a seguiam, parecendo agentes do ICE, carregavam placas que proclamavam: “Opressão de Pessoas LGBTQ+”, “Apagando e Falsificando Dados do Governo”, “Entrelaçamento da Religião com o Governo” e “Substituindo a Ciência pela Ideologia”.
Foi tão impactante que muitos dos quase mil manifestantes tiraram fotos e gravaram vídeos com seus celulares desse grupo de “capangas do ICE”. O alerta contido nesses cartazes é confirmado todos os dias pelas táticas de intimidação do aspirante a ditador fascista Donald Trump.
Ainda assim, eu acrescentaria outro sinal àqueles que eles carregavam: *“Ganância Insaciável”.
De fato, eu colocaria isso como o número um na acusação criminal contra Trump e seus cúmplices do MAGA. Eles acabaram de impor o chamado “Big Beautiful” projeto de Trump, que contém um trilhão de dólares em cortes no Medicaid e nos benefícios alimentares do SNAP. Infligiram esses cortes a crianças pobres e famintas, pessoas sem-teto, veteranos e idosos. Em seguida, reduziram os impostos dos milionários e bilionários em bem mais de um trilhão de dólares.
Isso é Robin Hood ao contrário: roubar dos pobres para dar aos ricos.
Aprendi muito do que sei sobre fascismo lendo livros do grande antifascista búlgaro Georgi Dimitrov e do igualmente grande antifascista italiano Palmiro Togliatti. Em seu famoso relatório “Contra o Fascismo e a Guerra” para o 7º Congresso Mundial da Internacional Comunista em Moscou, em 2 de agosto de 1935, Dimitrov definiu o fascismo como a “ditadura terrorista aberta dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro”.
Dimitrov alertava contra a simplificação excessiva do fascismo. Ele surge de uma luta pelo poder entre facções concorrentes da classe capitalista. O fascismo vem passo a passo, de forma incremental. Eu decorei uma das observações de Dimitrov: “Quem não combate as medidas reacionárias da burguesia e o crescimento do fascismo nesses estágios preparatórios não está em posição de evitar a vitória do fascismo, mas, ao contrário, facilita essa vitória.”
Tanto Togliatti quanto Dimitrov são claros em afirmar que o principal alvo dos fascistas é a classe trabalhadora, especialmente seu setor organizado, o movimento sindical. Em particular, os fascistas miram as forças mais conscientes de classe dentro da classe trabalhadora: comunistas e socialistas aliados.
Leia o ataque de Dimitrov contra a torrente de mentiras demagógicas que Adolf Hitler, Josef Goebbels, Heinrich Himmler e outros nazistas despejavam para enganar os trabalhadores alemães, chegando a usar o termo “Nacional-Socialista”, quando o fascismo é o oposto direto do socialismo:
“O fascismo prometeu aos trabalhadores ‘um salário justo’, mas, na realidade, trouxe-lhes um padrão de vida ainda mais baixo, de miséria. Prometeu trabalho aos desempregados, mas trouxe-lhes tormentos ainda mais dolorosos de fome e trabalho servil forçado. Na prática, transforma os trabalhadores e os desempregados em párias da sociedade capitalista, despojados de direitos; destrói seus sindicatos; priva-os do direito de fazer greve e de ter sua imprensa operária; força-os a integrar organizações fascistas; saqueia seus fundos de seguridade social e transforma as fábricas e usinas em quartéis onde reina o poder arbitrário desenfreado dos capitalistas.”
Não é essa uma descrição vívida do que Trump está impondo todos os dias? Sim, “passo a passo”, mas também a uma velocidade relâmpago.
No entanto, tanto Dimitrov quanto Togliatti estavam escrevendo sobre o fascismo em 1935, anos antes de Hitler e do Terceiro Reich nazista instigarem a Segunda Guerra Mundial — um esquema para destruir o socialismo e conquistar o mundo. Foi o capitalismo financeiro enlouquecido, extraindo lucros máximos do trabalho de trabalhadores não pagos — escravos — que eram famintos e depois exterminados nas câmaras de gás.
A construção do infame campo de extermínio de Auschwitz foi financiada pelo Deutsche Bank, ainda hoje um dos maiores e mais ricos bancos do mundo. O conglomerado químico alemão I.G. Farben construiu uma enorme fábrica logo ao lado de Auschwitz para produzir borracha sintética — Buna — durante a Segunda Guerra Mundial. A Wehrmacht alemã precisava desesperadamente da borracha sintética para os pneus dos caminhões que sustentavam sua ofensiva contra a União Soviética.
De onde a I.G. Farben obteve a fórmula para fabricar a Buna? Da Standard Oil, de propriedade dos Rockefeller, uma corporação que se recusou a compartilhar esse segredo com o governo dos Estados Unidos.
E por que a I.G. Farben construiu sua fábrica de Buna justamente ao lado de Auschwitz? Porque a maioria dos homens aptos que trabalhariam naquela planta eram soldados alemães combatendo na guerra insana de Hitler. Auschwitz forneceu à I.G. Farben dezenas de milhares de prisioneiros escravizados, muitos deles soldados aliados capturados da URSS, da Polônia e de outras nações eslavas. Os escravos incluíam também prisioneiros judeus, mulheres, crianças e homens cujo trabalho não pago enriqueceu enormemente os capitalistas alemães. Famintos, eram depois levados às câmaras de gás de Auschwitz, envenenados com Zyklon-B, um gás fabricado pela própria I.G. Farben. Seus corpos eram incinerados nos fornos de Auschwitz.
Esse arranjo mostrou-se tão eficiente, tão lucrativo, que o conglomerado siderúrgico Krupp também construiu uma imensa fábrica para produzir cartuchos de artilharia a poucos passos dos barracões de Auschwitz.
Escrevi uma denúncia com a manchete “Dinheiro de Sangue”, publicada no People’s Weekly World em 5 de abril de 1997, que relatava os lucros astronômicos acumulados pela I.G. Farben, Kruppstahl e outros capitalistas alemães durante a Segunda Guerra Mundial.
A República Democrática Alemã (RDA) publicou um Livro Marrom, que obtive na Biblioteca do Congresso:
“Quase 20 milhões de pessoas de quase todos os países da Europa foram arrastadas pelos fascistas para a Alemanha como trabalho escravo”, acusa o Livro Marrom. “Centenas de milhares deles foram torturados, espancados até a morte, fuzilados e gaseados.”
A I.G. Farben declarou lucros de 32 milhões de marcos do Reich em 1932. Mas em 1943, sua receita, inflada pelo trabalho não pago de dezenas de milhares de escravizados, registrou 822 milhões de marcos do Reich. Sua margem de lucro havia se multiplicado mais de vinte e cinco vezes!
O “Empreendimento Familiar” Krupp sozinho explorou 97.952 prisioneiros de guerra e internos de campos de concentração em suas siderúrgicas no Ruhr. “Já nos primeiros cinco anos da corrida armamentista fascista, a Krupp pôde registrar um lucro líquido de 500 milhões de marcos do Reich”, denunciava o dossiê da Alemanha Oriental. “No quinto ano da guerra, sua família criminosa já acumulava um lucro de mais de 110 milhões de marcos do Reich — extraído da exploração de 250.000 pessoas… das quais dezenas de milhares pereceram como prisioneiros nos próprios campos de concentração do truste.”
Bilionários e Hitler
O caso de amor dos bilionários alemães com Adolf Hitler remonta às eleições de 6 de novembro de 1932, nas quais os nazistas sofreram uma derrota desastrosa, perdendo 22 cadeiras no Reichstag, enquanto os comunistas aumentaram sua votação em 750.000 e conquistaram mais 11 deputados. A classe trabalhadora alemã, desesperada e faminta pela Grande Depressão, estava se voltando para o socialismo.
Os “Reis do Ruhr” — Krupp, Thyssen, Porsche, Daimler e I.G. Farben — convocaram Hitler para uma reunião secreta. Prometeram bancar sua tomada do poder se ele apagasse a palavra “socialismo” do vocabulário e redobrasse os ataques contra os sindicatos alemães. Hitler aceitou, e as altas finanças alemãs foram totalmente nazificadas.
Alfried Krupp foi considerado culpado de crimes de guerra nos julgamentos de Nuremberg. Seu império siderúrgico foi confiscado e ele foi condenado a doze anos de prisão. Cinco anos depois, os EUA e seus aliados da OTAN, já profundamente envolvidos na caça às bruxas da Guerra Fria, libertaram Krupp da prisão e devolveram-lhe suas siderúrgicas.
Nos EUA os lucros dispararam
Veja como os lucros nos Estados Unidos dispararam para os grandes bancos e corporações no último meio século. A fatia dessa riqueza crescente conquistada pelos trabalhadores encolheu, enquanto a dos super-ricos tornou-se tão gigantesca que criou uma camada da classe capitalista: os bilionários.
Isso nos leva de volta a Donald Trump. Minha falecida esposa e eu estávamos batendo de porta em porta em campanha por um candidato no lado oeste de Port Angeles, anos atrás. De alguma forma, entrei numa conversa sobre Trump com um rapaz. “Meu pai é encanador sindicalizado em Nova Jersey”, disse o jovem trabalhador. “Ele e outros encanadores estavam instalando acessórios caríssimos de banheiro no cassino-hotel Taj Mahal, em Atlantic City, de Trump. Eles colocaram mais de dez milhões de dólares em pias e vasos sanitários folheados a ouro. Quando terminaram, Trump não quis pagar. Finalmente, o Sindicato dos Encanadores disse aos rapazes de Trump: ‘Ou vocês nos pagam, ou vamos lá e arrancamos todos os acessórios.’ Trump acabou cedendo e pagou. Aliás, alguns anos depois, o Taj Mahal faliu. Trump gosta de escravidão.”
Tim Wheeler escreveu mais de 10.000 reportagens, denúncias, artigos de opinião e comentários em seu meio século como jornalista do Worker, Daily World e People’s World.
Texto traduzido do People´s World por Luciana Cristina Ruy
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