PUBLICADO EM 23 de dez de 2021
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DIEESE: 66 anos produzindo conhecimento; fortalecendo a luta sindical

Se sua entidade ainda não é sócia, nós precisamos de seu apoio para continuar produzindo pesquisas e estudos que fortalecem a luta dos trabalhadores!

O DIEESE está fazendo aniversário! O DIEESE é do movimento sindical.

Fundado pelo movimento sindical em 21 de dezembro de 1955, após a greve de 1953 contra a carestia. São 66 anos ao lado do movimento sindical:
– Produzindo para fortalecer as lutas dos trabalhadores
– Realizando pesquisas e estudos
– Prestando assessoria nas negociações coletivas
– Oferecendo formação sindical e educação

Estamos em 17 Unidades da Federação e em diversas entidades sindicais.

Se sua entidade ainda não é sócia, nós precisamos de seu apoio para continuar produzindo pesquisas e estudos que fortalecem a luta dos trabalhadores!

Nosso agradecimento a todos que fazem parte da história do DIEESE.

Direção Executiva do DIEESE

Direção Sindical Nacional do DIEESE

Direção Regional do DIEESE

Sócios do DIEESE

Confira parte da entrevista com um dos fundadores do DIEESE, Luiz Tenório de Lima, sindicalista do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados de São Paulo

Trajetória no Dieese

O DIEESE passou por todo um sistema de preparação. Ele não surgiu de um estalo, não, ele foi fruto de todo um acúmulo de aprendizagem. Então, nós fizemos o Pacto de Unidade Intersindical, que começou com cinco sindicatos: gráficos, metalúrgicos, marceneiros, têxteis e vidreiros. Ali na rua dos Cerealistas. Então, naquela rua era uma casa baixa de um sócio, onde funcionava o sindicato, que se transformou em sede e dali nós começamos a “mandar brasa” em tudo. E todas as nossas lutas sindicais durante esse período, as lutas reivindicatórias, elas encontravam a barreira de como provar que era aquela percentagem que os trabalhadores reivindicavam, não tinha como, não tinha um aferidor.

O único em que a justiça se baseava – aí vamos chegar no DIEESE – era uma comissão do Ministério do Trabalho, a qual não tinha a nossa presença nem participação, e a Secretaria de Abastecimento de São Paulo, comandada por Ademar de Barros e o secretário era o João Acioli, até um advogado do Sindicato dos Têxteis. Então esses dois dados nunca, nunca conferiam com aquilo que a gente achava que era o custo de vida e nós nos batíamos, e só levávamos alguma vantagem quando fazíamos greves enfrentando polícia, enfrentando todas as dificuldades pra fazer uma greve como fizemos em 53, a chamada “Greve de 700 mil trabalhadores.”

Então surgiu a idéia da gente criar o nosso próprio organismo de levantamento de custo de vida. Aí eu, como secretário do Pacto; Salvador Romano Lossaco, presidente do Sindicato dos Bancários – aqui eu rendo a minha homenagem porque sem ele não “tinha” existido o DIEESE; Remo Forli, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos – eram os dois maiores sindicatos época, os mais combativos eram esses dois; nós, do Laticínio, que não era numericamente tão expressivo, mas politicamente era peso-pesado; enfim, nós somamos cinco sindicatos e começamos a trabalhar dia e noite. Mas era até meia-noite, uma hora, duas horas da manhã, elaborando, pesquisando, estudando, e um dos homens-chave nisso aí chama-se – foi este que já falei – Salvador Romano Lossaco, que não era do Partido Comunista, era um anarquista nato, mas de uma fidelidade de classe e de uma competência para ficar do nosso lado que era impressionante. Nós fundamos o DIEESE. Fundamos o DIEESE e pusemos: Departamento Intersindical de Estudos de Estatística e Estudos Socioeconômicos.

Antes era só Departamento Intersindical de Estatística. Aí um jornalista chamado Xavier Toledo – que era um jornalista do Correio Paulistano que trabalhava na Câmara e que acompanhava a gente, era um simpatizante – disse: “Olha, vocês têm que acrescentar, à ‘Estatística’, ‘Estatística e Estudos Socioeconômicos’, porque vocês abrem a perspectiva de se tornarem um instituto.” E nós incorporamos essa sugestão, ficou DI-E-ESE. Foi um negócio muito bonito, uma vitória grande.

Do DIEESE, no começo, participaram apenas aqueles sindicatos que não concordavam com o Pacto de Unidade, que já era majoritário e tinha abertamente a hegemonia dos comunistas, embora, é claro, não tinha 100% de gente comunista, mas a maioria dos sindicatos, que acompanhavam o pacto de unidade tinha a hegemonia do Partidão. Então, alguns dirigentes sindicais e alguns sindicatos mais conservadores, mais retraídos, não entravam pro Pacto. Então foi também um caminho que nós descobrimos pra trazermos eles pra participarem da luta conjunta. Por isso, além dos cinco, depois vieram outros. Constam da ata de fundação do DIEESE mais ou menos 19 sindicatos.

Nós tivemos o cuidado de manter sempre o DIEESE como instituição técnica. Nunca aceitamos – inclusive eu não aceitei, mesmo como dirigente do Partido Comunista, que já era naquela época do comando municipal do partido, reagi e não permiti, como os outros companheiros não permitiram – que um partido comunista instrumentalizasse o DIEESE, fizesse dele – vamos dizer assim – um trampolim político para certas ocasiões. Nós nunca fizemos isso pra garantir a unidade daqueles que vinham com o DIEESE.

O primeiro técnico do DIEESE era um homem muito alienado politicamente, um excelente técnico, mas estava pouco se lixando para as lutas dos trabalhadores. Esse técnico fez um bom trabalho nos primeiros 20, 40 dias. Quando nós apresentamos o primeiro resultado, assustou a Federação da Indústria, presidida na época pelo Antônio de Visatti, cuja sede é aqui no Viaduto Maria Paula… pertinho, aqui, da João Mendes. Eles se mancomunaram, estudaram, chamaram esse técnico, triplicaram o salário que nós tínhamos estabelecido, que era o que a gente podia pagar. O cidadão não deu pra gente nem bom-dia, nem boa-tarde, caiu fora, a gente ficou sabendo que ele já estava lá e que ele não ia mais voltar pro DIEESE.

Então o Partido Comunista, que tinha presença em todas as universidades, em todos os jornais, através do Câmara Ferreira, que era o jornalista responsável pelo jornal “O Hoje”, do Partidão e era o assistente dos universitários, localizou o Albertino Rodrigues. Um homem muito sereno, muito discreto, não era assim “queimadão.” O Câmara Ferreira trouxe “ele”, nos apresentou, nós o acolhemos. Ele então deu estrutura, estrutura do ponto de vista técnico, funcional, e começou o trabalho, e aí ninguém segurou mais. Apuramos um resultado e a Federação da Indústria, pra desmoralizar a gente, apresentou um resultado maior do custo de vida, pra desmoralizar o DIEESE, pensando que a gente ia morder a isca. Então nós fizemos uma reunião de emergência e concluímos o seguinte: “Vamos lançar uma nota afirmando que o dado certo é o nosso, mas pelo tempo que eles nos enganaram, nós aceitamos – e vamos exigir – receber o índice que eles estão dando. Mas os dados reais são os nossos; esses que eles estão apresentando, nós queremos porque é muito maior e eles têm nos dado um enorme prejuízo através dos anos”. Com isso, nós não mordemos a isca e com isso o DIEESE se credenciou, e aí já foi assinado um convênio com a CEPAL, esse organismo das Nações Unidas pra América Latina.

E aí o DIEESE começou com uma credibilidade crescente e uma equipe que foi se revezando até chegar o golpe de 64. E no golpe de 64, eles, os militares, intervieram em tudo: grêmios estudantis, eles destruíram; sindicato, não precisa falar porque vocês conhecem a história. Eu, de uma vez só, eu perdi o mandato de presidente da Federação dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação do Estado de São Paulo; presidente do nosso Sindicato de Laticínios; diretor da CNTI; diretor do DIEESE; tudo isso eles caçaram de uma vez e me caçaram também os direitos políticos por dez anos. Essa violência, todavia, não chegou no DIEESE. Eles não tinham como justificar uma intervenção no DIEESE, embora assustassem todo mundo e ameaçassem o Albertino, que teve que se mandar para Portugal. Aí foi quando assumiu a Lenina. De grande qualificação profissional. Em seguida o Walter Barelli. E aí as coisas começaram a caminhar; mesmo dentro da ditadura nós nos reagrupamos e, com o DIEESE, nós conseguimos realizar muita coisa, realizamos inclusive estudo para o MIA. Movimento Intersindical Anti-Arrocho, fundado por nós, nós na clandestinidade, porque a lei salarial que os militares estabeleceram, ela só reajustava o salário na média dos últimos três anos. Era uma lei terrível, mas que tinha que prevalecer, porque a ditadura a impôs através de um ato.

A partir daí é que nós nos firmamos outra vez dentro dos sindicatos politicamente pra poder enfrentar a situação. O DIEESE dando a sua contribuição, nós participando com muita coragem, e eu apresento a minha homenagem a todos aqueles companheiros que tombaram, que se arrebentaram na luta. Eu tive o esquadrão da morte na minha casa, eu tive a minha prisão preventiva decretada por quatro vezes, até que fui pego, por sinal no dia do AI-5, em uma reunião do partido ali na rua Santo Amaro.

Confira aqui toda a entrevista

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