PUBLICADO EM 19 de dez de 2018
COMPARTILHAR COM:

As negociações coletivas em 2018

Os resultados mostram que os sindicatos resistem bem, evitando a destruição dos direitos e colocando uma pauta para regular, por meio da negociação, os itens que julgam pertinentes. Essa será uma longa disputa que, nesse ano, somente começou.

Já se passaram 12 meses desde que a nova legislação trabalhista entrou em vigor, promovendo grandes alterações no sistema de relações de trabalho e nos direitos trabalhistas. O acompanhamento que o DIEESE faz das negociações coletivas, por meio do processamento das bases estatísticas do Sistema Mediador do Ministério do Trabalho, a pesquisa e a assessoria aos sindicatos, indica resultados importantes nos processos negociais.

Os reajustes salariais tiveram bons resultados até a data-base de junho quando, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (INPC-IBGE), o aumento necessário ficou em 1,76%. Já em julho, agosto e setembro, quando houve repique inflacionário, o reajuste necessário dobrou, subindo para 3,6%, o que trouxe dificuldades para 1/3 das negociações, que não conseguiram repor integralmente o poder de compra dos salários. Até então, mais de 90% dos acordos e convenções conquistaram reposição integral da inflação.

Considerando o contexto econômico adverso, com altas taxas de desemprego, a capacidade ociosa das empresas e a complexidade colocada pela reforma trabalhista, a performance sindical nas negociações tem sido muito boa: mais de 80% das categorias conquistaram aumentos salariais em torno de 1%. Mesmo o resultado do último trimestre, quando a taxa de reposição salarial ficou abaixo da inflação para 1/3 das categorias, não é de todo ruim, pois a experiência indica que, nas próximas negociações, os trabalhadores poderão colocar essa questão novamente na mesa, mesmo porque os percentuais a serem aplicados para repor o poder de compra dos salários são baixos, em torno de 1%. Considerando o contexto das graves adversidades, os sindicatos seguem bem no quesito salarial.

É sempre bom lembrar que as categorias conduzem negociações por empresa para tratar da repartição dos ganhos de produtividade por meio da PLR – participação nos lucros e resultados, momento no qual, em cada contexto, são definidos outros ganhos salariais além dos aumentos reais conquistados nas convenções coletivas.
A novidade ficou por conta da agenda patronal na mesa de negociação. Os empregadores passaram a apresentar pautas propondo a supressão ou redução de direitos de muitos itens. A resistência sindical tornou os processos negociais mais longos e muitos ainda não foram encerrados.

De um lado, os empregadores querem se livrar da assistência que os sindicatos dão ao trabalhador no momento de homologar a demissão. Importante registrar que, entre os 10 principais motivos de ações na justiça do trabalho, predominam questões relacionadas às verbas trabalhistas. A nova legislação define que a homologação firmada pelo trabalhador dá à empresa quitação definitiva de tudo.

Os empregadores procuram flexibilizar a jornada de trabalho, o pagamento das horas extras, intervalos, deslocamentos, entre outros tantos itens. Querem retirar a ultratividade e restringir o papel dos sindicatos.

Insistem em não acatar as decisões autônomas dos trabalhadores que, em assembleia, definiram medidas para o custeio sindical, por meio das contribuições ou taxas negociais, instrumentos que estão sendo criados para viabilizar financeiramente as entidades sindicais.
Os resultados mostram que os sindicatos resistem bem, evitando a destruição dos direitos e colocando uma pauta para regular, por meio da negociação, os itens que julgam pertinentes. Essa será uma longa disputa que, nesse ano, somente começou.

O financiamento tem tido muitos embates e bons resultados, seja com convenções que acatam a taxa negocial ou com termos pactuados com assistência do Ministério Público do Trabalho ou a Justiça do Trabalho.

Nada é fácil, mas a luta e a ação mobilizadoras, o pensamento estratégico e o planejamento são elementos que, juntos, fortalecem a ação sindical e a relação com os trabalhadores. Na adversidade, o sindicalismo se renova.

Clemente Ganz Lúcio é Diretor técnico do DIEESE

ENVIE SEUS COMENTÁRIOS

QUENTINHAS