PUBLICADO EM 13 de nov de 2020
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A luta não cessa até todos terem acesso aos frutos do seu trabalho; músicas

A música leva a lugares inimagináveis como canta o grande compositor Lupicínio Rodrigues (1914-1974) na canção Felicidade: “O pensamento parece uma coisa à toa, mas como a gente voa quando começa a pensar”.

Antônio Nóbrega durante a cerimônia de recebimento de entrega do Título de Cidadão Paulistano na Câmara Municipal de São Paulo. Foto: Henrique Boney

por Marcos Aurélio Ruy

A seleção desta semana traz quatro nomes da música popular brasileira, de diferentes gerações e o trabalho de resistência ao apartheid e em defesa dos direitos humanos da grande cantora e compositora sul-africana Miriam Makeba.

Lirinha, Antônio Nóbrega e Paulinho Timor, de maneira diversa cantam o sonho de construção de uma civilização voltada para o amor e o respeito. Tema presente nas obras de Dolores Duran, gigante da música popular brasileira. Vale conferir as obras desses talentos.

Antônio Nóbrega

O pernambucano Antônio Nóbrega chegou a participar do Quinteto Armorial, de Ariano Suassuna (1927-2014). Desenvolveu concepções próprias criando um som singular. Em “Ninguém Solta a Mão, Ninguém” traduz o sentimento de milhões de brasileiros em defesa da unidade contra o nazifascismo.

“Demos as mãos

nesta roda virtual;

a ciranda contra o mal,

ela não pode parar.

Pois de mãos dadas

a corrente não se parte.

Contra o ódio, viva a arte,

nossa voz não vão calar”

 

Ninguém Solta a Mão, Ninguém (2020), de Antônio Nóbrega e Wilson Freire

 

Miriam Makeba

Importantíssima voz contra o apartheid – regime segregacionista, implantado em 1948 na África do Sul e só acabou em 1994 com a eleição de Nelson Mandela (1918-2013) para a presidência do país -, a cantora e compositora  Miriam Makeba (1932-2008), conhecida como  Mama África, homenageada na  música de mesmo nome de Chico César.

Nos anos 1960 foi viver nos Estados Unidos, onde enfrentou problemas após casar com o porta-voz do movimento Panteras Negras, Stokely Carmichael (1941-1998). Sua voz ainda ecoa em defesa da igualdade e da liberdade.

“Todos os teus filhos

Devem colher o que você plantou

Este continente é o lar

Meus irmãos e irmãs

Levantem-se e cantem”

 

A Luta Continua (1975), de Miriam Makeba

 

Paulinho Timor

O sambista paulistano, Paulinho Timor canta a resistência da cultura popular aos desmandos do capital, que destrói a natureza e a vida das pessoas.

“O samba sempre foi a voz do povo

E vem de novo com muita força e vigor

O samba ainda tem a sua magia, perfume e fantasia

E mania de revolução”

 

O Samba Chegou (2019), de Paulino Timor

 

Lirinha

O também pernambucano Lirinha tem um trabalho voltado para as questões sociais na música, no teatro e na literatura. Integrou o grupo Fogo do Cordel Encantado do início em 1999 até 2010, quando partiu para carreira solo. Além de misturar sons regionais com rock e MPB, a atuação cênica é uma constante em seus shows.

“O trabalho é um processo entre a natureza e os homens

Realiza, regula, controla

Toda força é usada pra controlar e depois se divide pra produzir

Ninguém está só

Todos trabalham, e todos têm acesso aos frutos do seu trabalho?”

 

Mercadorias e Futuro (2008), de Buguinha Dub e Lirinha

 

Dolores Duran

A carioca Dolores Duran (1930-1959) estreou em disco em 1952, mas já cantava nas noites da capital fluminense. Suas composições são antológicas e traduzem o sentimento das mulheres na intenção de suplantar as barreiras do patriarcado.

Cantou e compôs boleros, salsas, choros e sambas, com grande destaque para o samba-canção. Inovou a música popular brasileira e se impôs num mercado amplamente machista.

“Ai, a solidão vai acabar comigo

Ai, eu já nem sei o que faço e o que digo

Vivendo na esperança de encontrar

Um dia um amor sem sofrimento

Vivendo para o sonho de esperar

Alguém que ponha fim ao meu tormento”

 

Solidão (1958), de Dolores Duran

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