por Marcos Aurélio Ruy
A seleção desta semana traz quatro nomes da música popular brasileira, de diferentes gerações e o trabalho de resistência ao apartheid e em defesa dos direitos humanos da grande cantora e compositora sul-africana Miriam Makeba.
Lirinha, Antônio Nóbrega e Paulinho Timor, de maneira diversa cantam o sonho de construção de uma civilização voltada para o amor e o respeito. Tema presente nas obras de Dolores Duran, gigante da música popular brasileira. Vale conferir as obras desses talentos.
Antônio Nóbrega
O pernambucano Antônio Nóbrega chegou a participar do Quinteto Armorial, de Ariano Suassuna (1927-2014). Desenvolveu concepções próprias criando um som singular. Em “Ninguém Solta a Mão, Ninguém” traduz o sentimento de milhões de brasileiros em defesa da unidade contra o nazifascismo.
“Demos as mãos
nesta roda virtual;
a ciranda contra o mal,
ela não pode parar.
Pois de mãos dadas
a corrente não se parte.
Contra o ódio, viva a arte,
nossa voz não vão calar”
Ninguém Solta a Mão, Ninguém (2020), de Antônio Nóbrega e Wilson Freire
Miriam Makeba
Importantíssima voz contra o apartheid – regime segregacionista, implantado em 1948 na África do Sul e só acabou em 1994 com a eleição de Nelson Mandela (1918-2013) para a presidência do país -, a cantora e compositora Miriam Makeba (1932-2008), conhecida como Mama África, homenageada na música de mesmo nome de Chico César.
Nos anos 1960 foi viver nos Estados Unidos, onde enfrentou problemas após casar com o porta-voz do movimento Panteras Negras, Stokely Carmichael (1941-1998). Sua voz ainda ecoa em defesa da igualdade e da liberdade.
“Todos os teus filhos
Devem colher o que você plantou
Este continente é o lar
Meus irmãos e irmãs
Levantem-se e cantem”
A Luta Continua (1975), de Miriam Makeba
Paulinho Timor
O sambista paulistano, Paulinho Timor canta a resistência da cultura popular aos desmandos do capital, que destrói a natureza e a vida das pessoas.
“O samba sempre foi a voz do povo
E vem de novo com muita força e vigor
O samba ainda tem a sua magia, perfume e fantasia
E mania de revolução”
O Samba Chegou (2019), de Paulino Timor
Lirinha
O também pernambucano Lirinha tem um trabalho voltado para as questões sociais na música, no teatro e na literatura. Integrou o grupo Fogo do Cordel Encantado do início em 1999 até 2010, quando partiu para carreira solo. Além de misturar sons regionais com rock e MPB, a atuação cênica é uma constante em seus shows.
“O trabalho é um processo entre a natureza e os homens
Realiza, regula, controla
Toda força é usada pra controlar e depois se divide pra produzir
Ninguém está só
Todos trabalham, e todos têm acesso aos frutos do seu trabalho?”
Mercadorias e Futuro (2008), de Buguinha Dub e Lirinha
Dolores Duran
A carioca Dolores Duran (1930-1959) estreou em disco em 1952, mas já cantava nas noites da capital fluminense. Suas composições são antológicas e traduzem o sentimento das mulheres na intenção de suplantar as barreiras do patriarcado.
Cantou e compôs boleros, salsas, choros e sambas, com grande destaque para o samba-canção. Inovou a música popular brasileira e se impôs num mercado amplamente machista.
“Ai, a solidão vai acabar comigo
Ai, eu já nem sei o que faço e o que digo
Vivendo na esperança de encontrar
Um dia um amor sem sofrimento
Vivendo para o sonho de esperar
Alguém que ponha fim ao meu tormento”
Solidão (1958), de Dolores Duran
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