O maior período democrático de nossa história é também o de mais baixo crescimento. Quando “contratou” a Constituição de 88 a população esperava por dias melhores. Por que a democracia não trouxe prosperidade? O que deu errado?
Segundo o economista Márcio Pochmann, entre 1980 e 2020 o capitalismo brasileiro viveu um período de decadência, com crescimento médio pouco acima de 2%. São 40 anos de estagnação, com duas décadas perdidas.
Nos anos 30, com uma visão desenvolvimentista, iniciamos um processo de industrialização, urbanização e profissionalização do aparato estatal.
O Brasil foi o segundo país que mais cresceu no mundo entre 1930 e 1980, com uma taxa média de 6% ao ano. Uma modernização conservadora que não enfrentou os graves problemas de concentração de riqueza e renda. Mas tínhamos um crescimento “chinês”.
Em 1930, o PIB brasileiro representava 0.8% do PIB mundial. Em 1980, passamos a responder por 3.2%. Em 2020, regredimos para apenas 2%.
A crise dos anos 80 transferiu renda dos mais pobres para o andar de cima e desestruturou a economia. Passou a ser mais vantajoso especular no mercado financeiro do que produzir. Nossos industriais viraram rentistas e importadores.
O problema da inflação foi resolvido somente em 1994 com o Plano Real. O endividamento foi resolvido já nos anos 2000. Mas nossos problemas estruturais históricos ficaram sem solução.
Temos uma estrutura tributária vergonhosamente injusta. Só Brasil e a pequena Estônia não tributam a distribuição de lucros e dividendos. O que justifica a alíquota máxima do imposto de renda de 27,5% para os mais ricos? Por que a tributação incide sobre o consumo e não sobre a renda e o patrimônio?
Vivemos um processo galopante de desindustrialização. A participação de nossa indústria no PIB é hoje de menos de 10%. Incrivelmente, voltamos ao mesmo patamar de 1910.
Tivemos alguns momentos de bonança, mas com uma triste constatação. A esmagadora maioria dos empregos gerados foi de baixa qualificação, com remuneração de até dois salários mínimos.
Cerca de 4/5 dos empregos brasileiros estão hoje no setor terciário.
As conseqüências são dramáticas. Em 1985, perto de 3% dos brasileiros recebiam alguma transferência de renda do governo federal. Em 2014, esse percentual saltou para 26%. Mais de 1/4 da população passou a depender de pensões, aposentadorias ou de outros programas federais.
Se no final da década de 80 o país possuía 90 mil pessoas em suas penitenciárias, 30 anos depois temos perto de 900 mil brasileiros encarcerados. A prisão foi a “saída” apresentada para um crescente exército de excluídos pelo sistema.
O avião nunca cai por um único motivo. Conspiração internacional movida por interesses geopolíticos? Máquina de fake news? Corrupção? Desastre econômico? Ausência de um projeto nacional de desenvolvimento? O mais provável é que a “caixa-preta” revele a conjunção destes fatores.
Bolsonaro surfou neste insucesso apresentando-se como a negação da Nova República. Convenhamos, não foi uma tarefa difícil.
Ricardo Cappelli é jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo representa em Brasília. Foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) na gestão 1997-1999.