É difícil escrever sobre a perda de um professor, de um amigo, de um companheiro que como poucos foi a tradução do que Gramsci chamou de intelectual orgânico.
Quando entrei no DIEESE, a história de quem era Osvaldinho dos Metalúrgicos do ABC era a referência para todo novo técnico, afinal era o economista que assessorava Lula, quem tinha apresentado Lula a Suplicy, quem tinha sido preso e torturado pela ditadura, quem tinha aberto a primeira subseção do DIEESE, entre tantas outras histórias.
Quando o conheci, ainda auxiliar-técnico do departamento, a figura simples, amável e humilde, ao mesmo tempo crítico, rigoroso tecnicamente e firme em suas posições ajudaram-me a entender o que era ser um técnico do DIEESE.
O fato de ambos sermos do ABC paulista nos aproximou e são incontáveis as histórias, os conselhos, os aprendizados que tive a sorte de vivenciar em conversas informais e reuniões que tivemos.
Osvaldinho foi o trabalhador intelectual, o metalúrgico que virou economista, o trabalhador que virou professor. Como ferramenteiro seu rigor nos números ultrapassava em muito as duas casas após a vírgula e suas partituras em excel contavam a história de uma categoria que ajudou a mudar o Brasil.
Como intelectual militante sua jornada transitava entre os turnos das fábricas que nunca dormiam. Quem passava ao lado do prédio do Sindicato do Metalúrgicos do ABC em horários incomuns não era difícil de ver a luz da sala da subseção acessa que entre textos e números no dia seguinte apresentava uma proposta nova, um dado novo, uma resposta a uma pergunta do dia anterior.
Quem quisesse compreender o que era o metalúrgico, o que é a indústria automobilística no país tinha que entrevistar Osvaldo Rodrigues Cavignato do DIEESE dos Metalúrgicos do ABC. Como poucos compreendia a relação contraditória entre a defesa dos direitos dos trabalhadores e a necessidade da preservação da indústria para o desenvolvimento da região e do Brasil.
Como poucos, ensinou o que é ser um técnico do DIEESE, que não pode perder o rigor da ciência, mas que, também, não pode se esquecer seu lado, que é trabalhador e nunca deixará de ser trabalhador.
Foi Osvaldinho que melhor me ajudou a entender o que é ser um trabalhador-estudante e um trabalhador-intelectual e me ajudou a compreender que o papel da Escola do DIEESE é superar a contradição intrínseca do DIEESE entre o papel do intelectual e do dirigente sindical.
Osvaldinho foi esse trabalhador dos números, ferramenteiro dos métodos, forjador de ideias e como todo trabalhador um dia se foi, mas suas produções, suas histórias, permanecem na luta dos trabalhadores por dias e noites melhores e mais justas.
Companheiro Osvaldo Rodrigues …
Cadê o Osvaldinho????
Presente!
por Clemente Ganz Lúcio – Sociólogo, coordenador do Fórum das Centrais Sindicais, membro do CDESS – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável da Presidência da República, membro do Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil, consultor e ex-diretor técnico do DIEESE (2004/2020)