PUBLICADO EM 29 de maio de 2020
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Seria coincidência decretar academias como atividade essencial?

Leal aos financiadores de disparos de fake news – que sustentam sua base – Bolsonaro faz de tudo para recompensá-los e defendê-los. Até ameaçar a democracia

Abraço caloroso entre os amigos Hang e Bolsonaro, no Planalto, em 29 de abril – Foto: Marcos Corrêa/PR

Em pleno avanço do novo coronavírus, com número crescente de mortes pela covid-19, o presidente Jair Bolsonaro deu mais uma demonstração de desprezo pelas vítimas e seus familiares e ampliou a lista do que pode ser considerado atividade econômica essencial para funcionar na quarentena. No último dia 11, o Diário Oficial da União publicou o Decreto 10.344, que incluiu as academias de ginástica entre essas atividades. Os governadores rechaçaram a medida, que logo caiu no esquecimento.

A ação da caneta de Bolsonaro sobre atividade essencial, que beneficiava também setores industriais, de construção civil, salões de beleza, barbearias e academias de esportes de todas as modalidades, interessava, inclusive, a Smart Fit, quinta maior rede de academias esportivas do mundo e a maior da América Latina, com mais de 800 unidades no Brasil e outros 10 países da região, com mais de 1,5 milhões de clientes. E a Bio Ritmo, rede para um público mais seleto, com 30 estabelecimentos em todo o país.

O dono do negócio, o empresário Edgard Corona, se ocupa também de outras atividades. Integra o Instituto Brasil 200 e, segundo investigações, pedia recursos entre outros empresários para impulsionar mensagens falsas para beneficiar Jair Bolsonaro e de ataques ao Poder Legislativo – leia-se fechar o Congresso.

Ameaça à democracia
Após 16 dias da publicação do infrutífero decreto – já que estados e municípios podem decidir em contrário –, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes incluiu Edgard Corona em uma lista de empresários a serem investigados por financiar o disparo de fake news. E despertou a ira de Bolsonaro, seus filhos e apoiadores.

“Estamos trabalhando para que se faça valer o direito à livre expressão em nosso país. Nenhuma violação desse princípio deve ser aceita passivamente”, escreveu o presidente em suas redes sociais no final da noite desta quarta (27).

Bolsonaro e seus seguidores subiram o tom. Nesta quinta (28), o presidente disse que “não haverá mais outro dia como ontem” e que “acabou”. Ele se referia à operação da Polícia Federal, que na véspera cumprira mandados de busca e apreensão contra aliados e acusados de estarem envolvidos na produção e distribuição e fake news.

Véio da Havan
Apontado como grande financiador do gabinete do ódio, Luciano Hang é um dos empresários mais influentes do governo. Autor de frases como “meio ambiente é o câncer do país”, “do jeito que estão as coisas eu posso ter que demitir meus 22 mil empregados e fechar o negócio” e “eu não dependo da Havan, vou para o exterior, ou para a praia”, tem uma dívida de R$ 168 milhões com a União.

E Bolsonaro, uma dívida impagável, pelo que tudo indica. Em reunião ministerial de 22 de abril, o presidente chegou atacou a fiscalização ambiental do Rio Grande do Sul, que embaraçou a obra de uma loja da Havan em Rio Grande. E disse: “O Iphan para qualquer obra do Brasil, como para a do Luciano Hang. Enquanto tá lá um cocô petrificado de índio, para a obra, pô! Para a obra. O que que tem que fazer? Alguém do Iphan que resolva o assunto, né?”

Mas a caneta de Bolsonaro já havia feito seus rabiscos. Em 11 de dezembro, exonerou a diretora do Iphan Kátia Bogéa, no comando do órgão desde 2016. E a substituiu por Larissa Rodrigues Peixoto Dutra, casada com Gerson Dutra Júnior, conhecido como Patropa, agente da Polícia Federal que trabalhou na segurança de Bolsonaro em 2018 e amigo dos filhos do presidente.

A mudança, porém, não surtiu o efeito desejado. A obra continua paralisada: uma empresa contratada por Hang havia reportado ao Iphan um achado arqueológico. A confusão foi tanta que o próprio Hang achou melhor nem tocar mais no assunto.

Fundos de investimento
Outro investigado por financiar fake news é Otavio Oscar Fakhoury. O patrocinador do site Crítica Nacional, tem recursos provenientes de diversas fontes, entre elas o mercado imobiliário, com empresas como a Epof Empreendimentos e Participações Imobiliárias, que atua também no setor de mineração, a FKO Empreendimentos e Participações Imobiliárias. E também do ramo financeiro.

Era dos pais de Fakhoury o Banco Mercantil de Descontos, liquidado pelo Banco Central por irregularidades em algumas operações. A familiaridade com o mercado financeiro o levou a esses negócios. Chegou a se associar a um fundo de investimentos, o Mauá, dirigido pelo diretor de Política Monetária do Banco Central na gestão de Armínio Fraga (governo FHC), Luiz Antonio Figueiredo. Guedes chegou a indicar Figueiredo para conselheiro do Banco do Brasil. E a experiência de Fakhoury inclui anos de trabalho no Lehman Brothers, Merrill Lynch e Citibank.

Em março, o Banco Central anunciou pacote de R$ 1,216 trilhão, para aumentar a liquidez no mercado durante a pandemia da Covid-19, montante equivalente a 16,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Estão incluídas linhas de crédito corporativo para irrigar o mercado e um novo Depósito a Prazo com Garantia Especial (DPGE), com acesso aos fundos de investimento com valores maiores, no valor estimado de R$ 200 bilhões.

Fonte: Rede Brasil Atual

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