PUBLICADO EM 17 de dez de 2018
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Renault pede reunião de acionistas sobre futuro com Nissan

A montadora francesa Renault pediu à Nissan a convocação de uma assembleia de acionistas para falar sobre a situação da aliança entre as marcas após a prisão de Carlos Ghosn em Tóquio, no dia 19 de novembro.

Foto: reprodução

O ex-presidente das empresas é acusado sob suspeita de má conduta financeira e ocultação de renda. Ele nega qualquer irregularidade.

A solicitação foi feita por meio de uma carta enviada nesta sexta-feira (14) por Thierry Bolloré, vice-presidente da Renault.

“A acusação da Nissan cria riscos significativos para a Renault e para a estabilidade de nossa aliança industrial”, escreveu Bolloré. “Acreditamos que o fórum de acionistas seria a melhor maneira de abordar esses assuntos de maneira aberta e transparente.”

O conselho da Nissan, que se reúne nesta segunda (17), está sem um presidente desde que os promotores japoneses determinaram a prisão de Ghosn. De acordo com pessoas ligadas ao caso, Hiroto Saikawa, presidente-executivo da empresa, ainda não respondeu ao pedido de Bolloré de convocação de assembleia.

A aliança entre as montadoras teve início em 1999 —na época, a Nissan estava à beira da falência. A Renault investiu € 5 bilhões (R$ 22,05 bilhões) para obter o controle de 36% das ações da japonesa.

Atualmente, a marca francesa detém 43,4% das ações da parceira.

Carlos Ghosn, que estava na Renault desde 1996, foi o executivo escolhido para comandar a Nissan. Fábricas foram fechadas e 21 mil funcionários, demitidos. Foi odiado no início, mas os resultados o transformaram em ídolo.

Com a retomada dos negócios, a montadora japonesa tornou-se maior que a Renault. Contudo, tem apenas 15% de participação na montadora francesa, o que torna reduzido seu poder de decisão e gera tensões.

A resistência inicial dos japoneses em serem comandados por ocidentais, algo que parecia superado, mostra-se ainda forte.

Esse é um dos pontos que mais preocupam os franceses: com a queda de Ghosn, as rusgas voltam a colocar em dúvida o interesse da Nissan em manter a aliança.

Enquanto tinha plenos poderes, Ghosn era enfático ao falar que a união entre as empresas —que desde de 2016 inclui também a Mitsubishi Motors— não se transformaria em uma fusão. As marcas deveriam seguir independentes e compartilhando tecnologias, mas com linhas próprias de produtos e investimentos.

Renault e Nissan chegaram a dividir uma fábrica no Brasil, em São José dos Pinhais (PR). A inauguração ocorreu há 20 anos, antes da aliança entre as empresas. Hoje, a unidade produz apenas modelos da marca francesa; os carros de origem japonesa são montados em Resende (RJ).

Há ainda uma linha em conjunto na Argentina, que produz a Nissan Frontier e, em breve, montará os modelos Mercedes Classe X e Renault Alaskan. São picapes de porte médio que compartilham motores e outros componentes.

Parcerias desse tipo são fundamentais para as montadoras e têm crescido. O grupo Volkswagen está se unindo à Ford para produzir utilitários, Toyota e BMW desenvolvem carros esportivos em conjunto, entre outros exemplos recentes. A cada anúncio do tipo, as empresas se valorizam.

Ameaças de rompimento na aliança teriam impacto imediato e negativo nas ações das empresas. Sem a presença de Ghosn no conselho e com japoneses novamente detendo o comando de suas marcas —a Mitsubishi é controlada pela Nissan—, a Renault seria a maior prejudicada.

Fonte: Folha SP

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