PUBLICADO EM 18 de ago de 2018
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Para reflexão do potencial eleitor de Bolsonaro

Parcela do eleitorado – indignada com a situação do País, enfurecida com a corrupção e com a violência – tem sede de vingança. E esse sentimento aproxima essas pessoas do candidato Jair Messias Bolsonaro, que não faz outra coisa na vida a não ser reforçar a revolta nas pessoas.

Quando um agente político identifica uma situação de desconforto e recomenda uma punição para os seus supostos responsáveis, esse gesto o aproxima das pessoas que estão incomodadas com a situação, fazendo-as imaginar que esse diagnóstico comum é suficiente para fazer dele (agente político) seu representante no Congresso ou no Poder Legislativo. O “messianismo” ou a crença na vinda de um salvador ou redentor, caído do céu, imaculado e justiceiro, para libertar o povo de seus males, é um fato na cultura da Humanidade, mas, ao mesmo tempo, pode gerar a alienação dos indivíduos quanto a serem, eles mesmos, os agentes para a solução dos problemas identificados.

O método adotado por Bolsonaro para sensibilizar seus apoiadores consiste em apontar problemas (criminalidade, corrupção, desemprego), indicar os supostos culpados (a esquerda, os comunistas, os malandros e corruptos), além de sugerir uma suposta solução (a punição, no caso a repressão, o encarceramento, o corte de direitos e serviços públicos etc), numa construção que denota causa e efeito.

Para potencializar e manter as pessoas presas a essa fórmula, seus apoiadores utilizam as redes sociais para espalhar discórdia, mentiras e apontar fatos da realidade que chocam a sociedade. Existe um exército de mercenários, a serviço dos bolsonaristas, que alimenta, estimula e sustenta esse tipo de campanha permanente.

É o modo de comunicação troll, que provoca reações enfurecidas, estimula um comportamento de massas, manipula, maneja e molda as crenças e sentimentos das pessoas sem contar com o consentimento ou vontade consciente delas. Provoca os instintos mais primitivos do ser humano.

Essa é uma fórmula – empregada em larga escala pelos fascistas e nazistas – que conduz as pessoas, sem que elas tenham o trabalho de raciocinar, disparando o gatilho mental da raiva ou do ódio sempre que se depara com uma situação ou notícia ruim.

O exemplo mais acabado disso foi o nazismo, uma doutrina ideológica de direita, que Adolf Hitler liderou na Alemanha no século passado. As táticas adotadas pelo Partido Nazista começaram por apontar os judeus como os culpados por todos os males da Alemanha. A partir daí, promoveram o seu expurgo da vida política e econômica e acabaram por praticar o seu extermínio como “solução final”.

O nazismo tinha como elemento mobilizador exatamente essa fórmula empregada por Jair Bolsonaro e sua turma, que consiste em culpar a esquerda, os comunistas e os pobres, especialmente os negros e as pessoas que dependem de políticas de transferência de renda, pelos males do País.

Com esse método, as pessoas são induzidas a achar que a punição, a repressão, o encarceramento – combinados com a supressão de direitos e de liberdades de determinados segmentos – vão resolver todos os problemas do País.

O assustador nisso é que os bolsonaristas, sem o menor pudor, exploram a fé e a ignorância (desinformação) de muita gente, de um lado, invocando a religião e a defesa da família, e, de outro, a necessidade de emprego da força para punir os culpados pelos problemas do País.

Em nome da defesa da família, toda hora invocando o nome de Deus, atribuem a piora da situação à corrupção, às políticas de transferência de renda para presidiário, às quotas aos vulneráveis, à ausência de porte de armas, ao Estatuto da Infância e do Adolescente, que não pune o menor infrator com o mesmo rigor dos adultos.

As pessoas, envenenadas contra os “inimigos”, se enchem de ressentimento e até de ódio e viram militantes ou ativistas de teclados, repassando pelas redes sociais toda e qualquer “informação” contra esse suposto inimigo. Nessa hora, até o nome do candidato (que tem por segundo nome “Messias”) fortalece a ideia de que essa “ira santa” é legítima.

Para sair dessa armadilha, as pessoas precisam raciocinar, pensar, agir racionalmente. Por exemplo. Precisam indagar se o candidato e sua equipe são capazes, têm propostas viáveis ou reúnem condições para solucionar os graves problemas do País. Sobretudo, devem procurar saber se o candidato tem, ele mesmo, capacidade de pensar o País, de analisar a realidade e a conjuntura por seus próprios méritos e identificar as soluções sem abrir mão de suas responsabilidades, pois é ele, em última análise, que irá responder pelo Governo. A punição apenas castiga os erros do passado, mas não resolve os problemas que deram causa à punição nem os outros problemas que exigem decisão política, capacidade intelectual, idoneidade moral, recursos e capacidade de gestão.

Ninguém deve pautar seu voto apenas pelo diagnóstico. Se alguém constata que uma situação está ruim não significa que ela (essa pessoa) estará habilitada ou reúne condições para melhorar a situação. Votar por coincidência de diagnóstico não apenas não é recomendável, como é temerário.

Esse tipo de eleitor, que age de modo irrefletido ou por impulso, confiando cegamente no messianismo do candidato, sem verificar se ele e sua equipe têm condições de resolver os problemas que afligem a população, é o mais vulnerável. Ele será a potencial vítima de sua escolha, caso seu candidato seja eleito. Além do risco de estar elegendo seu próprio algoz, tende a perder em qualquer hipótese: na vitória e na derrota de seu candidato.

Na hipótese de vitória, a frustração será inevitável, tanto pela falta de governabilidade (incapacidade de aprovar e implementar o que prometeu) do futuro governante, quanto pelo conteúdo das propostas, que, no caso de Bolsonaro, sinalizam para um brutal corte de serviços públicos e de direitos e programas sociais.

Para assegurar a governabilidade e evitar a paralisia ou o colapso das instituições e dos serviços públicos, é indispensável que o governo reúna quatro tipos de estabilidade: política, social, financeira e de gestão.

E Bolsonaro não reúne nenhuma delas, a começar pela base parlamentar. Seu partido não elegerá nem 20 deputados nem três senadores e irá precisar, para aprovar suas propostas de alteração na Constituição, de pelo menos 308 votos na Câmara e 49 no Senado.

Quanto ao conteúdo, as propostas não se destinam a proteger os assalariados (trabalhadores, servidores e aposentados) nem atender às demandas da população por serviços públicos de qualidade, saúde, educação, transporte e emprego, mas ao desmonte do Estado, com a venda de estatais e o corte de direitos trabalhistas, previdenciários e a redução dos programas sociais e dos serviços públicos.

A prioridade máxima será a repressão em substituição à prevenção, o que irá ampliar a violência, tanto de parte dos policiais, como dos próprios bandidos e infratores, que passarão a ser mais violentos com suas vítimas. O argumento de que o País já está em “guerra civil” só levará, nessa perspectiva, a uma escalada nessa guerra, onde os mais fracos (os cidadãos) serão os mais prejudicados.

Num cenário desses, os eleitores muito engajados na defesa das ações de repressão estarão muito mais expostos à violência policial do que os demais, já que a polícia em ação não identifica quem é aliado ou adversário do governo.

No caso de derrota, esse eleitor se transformará (se já não for) numa espécie de talibã – com seu fundamentalismo persecutório, moralista e justiceiro – e irá questionar o resultado eleitoral e defender as “ideias” do candidato derrotado, comprando briga com familiares, amigos e vizinhos, deixando em segundo plano sua vida profissional.

Se o eleitor tiver consciência desses riscos e quiser botar fogo no País, pode continuar apoiando candidatos com essas características. Entretanto, se quiser resolver os problemas, deve refletir melhor sobre seu voto. Estará entre duas opções: condenar o País à escuridão ou acender uma vela.

Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, consultor, analista político e diretor de Documentação do Diap.

Luiz Alberto dos Santos é advogado, Mestre em Administração e Doutor em Ciências Sociais e professor colaborador da EBAPE/FGV e ENAP.

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