O grande escritor alemão Goethe dizia que a moda é a tradição instantânea. O novo normal não é tradição porque é novo e não é instantâneo porque se acumula. O novo normal não é uma moda.
O novo normal nas relações de trabalho é a sua desorganização total, de forma que sempre há algo pior do que aquilo que serve de referência; o organizado se torna uma ilha cercada por todos os lados.
Assim, por exemplo, o empregado formal é acossado pelos informais, o motorista Uber diz que o motorista 99 é mais sacrificado, o entregador de pizza diz que o desalentado que não procura emprego passa pior que ele. É uma escada em que cada degrau é um purgatório na descida para o inferno.
O novo normal também é o acúmulo sucessivo de situações precárias que, sem ter solução, adquirem inércia porque se petrificam.
A miséria, o desemprego, as relações precárias de emprego, o endividamento das famílias, a não obtenção de benefícios sociais (o empoçamento do Bolsa Família) e a deterioração de serviços públicos (as filas do INSS) são condições negativas que se transformam em dados de uma realidade presente e aparentemente inacessível como um iceberg gelado.
Foi para enfrentar última dessas situações constrangedoras que as centrais sindicais determinaram a realização de manifestações nos postos do INSS. Hoje, dia 14, em vários deles e alguns locais de concentração os ativistas (cadê os aposentados do Sindnapi?) puderam demonstrar seu repúdio às filas, sua solidariedade aos prejudicados e exigiram medidas imediatas para enfrentar a precarização do serviço e reforçar a presença dos funcionários públicos qualificados para tanto.
É ainda muito pouco e um pouco tardiamente, mas é um começo.
Para enfrentar o novo normal que se banaliza é preciso organizar a insatisfação que oriente ações solidárias, imediatas e unitárias que o tornem anormal e provoquem sua mudança, derretendo o iceberg.
João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical