PUBLICADO EM 01 de nov de 2019
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‘Clã Bolsonaro testa os limites das instituições’, afirma Paulo Pimenta

Para líder do PT, novo episódio de Eduardo Bolsonaro tem que ser um marco. “É preciso que a sociedade reaja e que as instituições coloquem um freio”

“Bolsonaro tem uma ideia de que não foi ele que foi eleito, mas a família foi eleita”, diz petista – Foto: MICHEL JESUS/CÂMARA DOS DEPUTADOS

Ao comentar a fala do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), defendendo a volta do AI-5, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que “os ventos estão levando os ares democráticos”. Para o ex-ministro Eugênio Aragão, o parlamentar não pode ser levado a sério, mas tem de ser objeto de representação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. De acordo com outras opiniões, falas como a de “03” estimulam o ódio e a intolerância.

Para o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), “esse caso tem que ser um marco, para se colocar um freio” nesse comportamento, por parte das instituições. Algumas vozes, observa, já se fizeram ouvir, como a do próprio Marco Aurélio e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que na opinião de Pimenta foi adequada. “Manifestações como a do senhor Eduardo Bolsonaro são repugnantes”, declarou Maia em nota.

“Faltam o Dias Toffoli (presidente do STF) e a PGR”, aponta Pimenta. “É fundamental que, nesse momento, se instaure uma representação no Conselho de Ética da Câmara e no STF.” Mais do que isso, que essas ações tenham resultado. “Porque as instituições precisam dizer ‘não’. A democracia é um valor intrínseco à base constitutiva da Constituição Federal de 1988 e quem atentar contra ela está cometendo um crime.”

A inação das instituições estimula o sentimento de impunidade e “dá asas” – continua o petista – para que outros façam a mesma coisa, se sintam no direito de defender o fechamento do STF, o fim da democracia, a volta da ditadura.

“A família Bolsonaro tem formação autoritária e desprezo pela democracia, e se pudesse governava em um ambiente de ditadura. O Bolsonaro tem uma ideia de que não foi ele que foi eleito, mas a família foi eleita. Têm uma visão de clã. O clã Bolsonaro governa o Brasil.”

“Eles vão testando os limites das instituições. Falam em fechar o STF (Eduardo Bolsonaro, outubro de 2018) e depois, com a repercussão, ‘não foi isso que quis dizer’, e fica por isso mesmo. Esses dias (setembro de 2019), Carlos disse que é impossível aprovar as reformas num ambiente democrático. Depois, Bolsonaro publica o vídeo das hienas, e pede desculpa.”

Foi o que aconteceu nesta quinta-feira (31). No final da tarde, depois de toda a repercussão, Eduardo Bolsonaro recuou, e disse que “não existe qualquer possibilidade de retorno do AI-5”.

Construção de narrativa
Mas esse comportamento não é gratuito, continua o líder petista. “Essas falas e vídeos vão rendendo, estão nas redes e são trabalhados pela base deles. E, por outro lado, constroem uma narrativa.”

A narrativa é que Bolsonaro “não consegue entregar o que prometeu na campanha, a economia não reage, porque as instituições atrapalham, o STF impede de governar, o parlamento não ajuda, ‘meu partido é horrível’ e nenhum partido, nem o meu, presta’”.

Em outras palavras, a narrativa é de que o país é ingovernável, as instituições estão tomadas por interesses. “Cria-se um ambiente para justificar medidas autoritárias”, diz Pimenta.

Até que tamanho essa bola de neve pode chegar? “Isso é imponderável. É preciso que a sociedade reaja e que as instituições coloquem um freio nisso”, conclui o deputado.

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