PUBLICADO EM 17 de out de 2018
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Bolsonarismo veio pra ficar, alerta o consultor sindical Vargas Netto

Em 1974, uma década pós-golpe contra Jango, o regime foi amplamente derrotado pela oposição. Com o bipartidarismo em vigor, a Arena tomou de lavada do MDB – a frente oposicionista. No Estado de SP, foram 3.413.478 votos para a oposição e 2.028.581 à Arena.

Foto: Arquivo

Foi uma eleição plebiscitária. E teve forte onda pró-oposição. Passados 44 anos, a eleição de 2018 vivencia nova onda. Desta vez, direitista e anti-PT.

Dia 11, o programa Repórter Sindical na Web (TV Agência Sindical) e nas TVs Comunitárias de Guarulhos e Distrito Federal, entrevistou João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical. Ela avalia a onda atual, que deu larga vantagem à direita nas eleições majoritárias e proporcionais.

Resultado

Não foi surpresa. Surpresa é a intensidade da avalanche. Que haveria avalanche era quase certo, mas seu grau foi surpreendente.

Nas Assembleias Legislativas, há renovação de bancadas quase inteiras, todas contrárias ao movimento sindical. Na Câmara, teve também renovação e contrária à plataforma dos trabalhadores. No Senado, salvou-se praticamente Paim, do PT do Rio Grande do Sul.

Para presidente, a vitória forte quase faz Bolsonaro levar em primeiro turno.  Fosse a eleição poucos dias depois, pela onda, Bolsonaro teria ganho.

Força da onda

O bolsonarismo apresentou-se a eles próprios e a nós como um fenômeno muito complexo. Eu ponho no liquidificador pra fazer a vitamina do bolsonarismo várias frutas. Elas são:

Insegurança – Generalizada, que afeta desempregados, desalentados, perseguidos, reprimidos, violentados. A revolta junta tudo isso.

Insatisfação – Insatisfação desorientada. Com o quê? Por quê? Como? Onde? Nisso aparece forte o apelo conservador, principalmente das igrejas evangélicas.

Corrupção – Tem aí um sentimento muito forte, trabalhado ao longo de anos, produzindo suas vítimas.

Antipetismo – Outra fruta que está nesse liquidificador.

Isso tudo junto cria o fenômeno Bolsonaro.

Raiz

E onde ele radica? Radica na Bolsa, no rentismo. Declarações ou propostas do grupo do Bolsonaro refletem de pronto na Bolsa. Aplaudidas com aumento ou contestadas com baixa. As grandes ações, que seguem a desorientação bolsonarista, não são as ações das empresas industriais de produção. Mostra que, embora a elite financeira e econômica esteja com Bolsonaro, há alguma dificuldade da direção da indústria, por exemplo.

Escala

Um pouco abaixo na escala, em termos de renda ou prestígio social, há esse estamento médio, o funcionalismo médio, judicatura, polícia, funcionários de vários ministérios etc.

Descendo mais, você tem a classe média empreendedora, que odeia imposto e se possível sonega, mas empreende pra sobreviver.

Já na classe operária propriamente dita, embora o bolsonarismo tenha gotejado ali, ele não é um fenômeno tão marcante quanto nessas outras áreas.

Ainda mais pra baixo tem a imensidão de desalentados, informais e pobres em geral. À exceção dos que, lembrando da era Lula, mantêm fidelidade àquela política, a grande massa seguiu a desorientação que o bolsonarismo representa.

Transversalidade

Os resultados eleitorais são transversais, atravessam todos os cortes de região, exceto o Nordeste. O fenômeno bolsonarismo veio pra ficar, independentemente do embate eleitoral. Um exemplo é a bancada do PSL na Câmara, que passou de sete deputados pra 52. E com a característica de ser antitrabalhador e antissindical.

O sindicalismo e nossa Agenda Prioritária de 22 pontos foram desautorizados pela urna no primeiro turno.

Democracia

Ela se sustenta. Nossa Constituição completa 30 anos. Temos essa expectativa e devemos lutar por sua manutenção.

Agressão 

Por hora, a grande questão que se coloca no futuro não é necessariamente a agressão à democracia no sentido institucional. Claro que se desenham agressões às lutas reivindicatórias. Mas, do ponto de vista institucional, nós temos mecanismos de resistência democrática.

Votos de Haddad

O desafio é ajudar Haddad, Manuela, os propagandistas e apoiadores da campanha a ouvir exatamente esses setores da sociedade, com o fundo do quadro da sociedade.

É preciso chegar à massa de brasileiros que estão numa situação desesperada, com desemprego, desalento, informalidade, quebra de direitos, agressões etc. É essencial ouvir esse pessoal. Veja: o presidente do PSL, numa manobra de impacto, anunciou que Bolsonaro dará 13° ao Bolsa Família. Com isso ele neutraliza o mal-estar criado pela agressão ao 13° salário do general Mourão.

Haddad deve reforçar ser a favor de aumento ao Bolsa Família e de uma décima terceira prestação, mas sem tirar do abono salarial. Pela proposta do Bolsonaro, o trabalhador formal será tungado em detrimento do pobre em geral.

Falar aos desorientados 

Esse povão nosso está desorientado, desesperado, mas está atento e quer entender. É preciso buscar uma discussão sobre a correção na hora do voto.

Movimento sindical

Devemos unir, resistir e agir. O bolsonarismo fez funcionar a lei do tubo da pasta de dente. Há estragos que foram feitos. Teremos de ter capacidade de resistência.

Programa de TV reprisa entrevista

Nesta quinta, dia 18, o Repórter Sindical reprisará a entrevista com João Guilherme Vargas Netto, face à atualidade e clareza de sua análise. Acompanhe pela TV Agência Sindical.

Fonte: Agência Sindical

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