Por Val Gomes
O bloco Parangolé Valvulado, de Juiz de Fora, Minas Gerais, lançou para o carnaval de 2020 o frevo enredo “Do Cariri ao Paraibuna”.
A música, de autoria coletiva, enaltece diversas expressões culturais e artísticas do Nordeste e, seguindo o que há de melhor na tradição carnavalesca, tece com sutileza e humor críticas aos problemas do Brasil atual como, por exemplo, o óleo que poluiu o litoral.
O frevo usa muito bem a metalinguagem. Nos remete à marcha “Acorda Maria Bonita”, de 1956, composta originalmente como baião por Antônio dos Santos, o Volta Seca, o mais jovem integrante do bando de cangaceiros de Lampião.
Também são mencionados o mestre Vitalino, o rei do baião Gonzagão, o Quinteto Armorial, de Ariano Suassuna, a música Cajuína de Caetano Veloso em homenagem ao amigo sergipano Torquato Neto, o canto-grito de uma passagem do filme de Glauber Rocha “Deus e o diabo na terra do sol” e a poesia musicada de Patativa do Assaré.
Para o guitarrista Danniel Goulart, um dos músicos do Parangolé Valvulado, ao homenagear o Nordeste brasileiro, com sua cultura poderosa e arte singular, o enredo “Do Cariri ao Paraíbuna” valoriza e reconhece um “povo que ajudou a construir o Brasil e resiste à seca, aos preconceitos e ao esquecimento de muitos governantes”.
Do Cariri ao Paraíbuna
(composição coletiva do bloco Parangolé Valvulado)
Acorda, acorda,
Acorda Maria Bonita levanta e cai direto no mé
O frevo já tá começando
O bloco já tá na avenida
E hoje é dia de Parangolé
Descendo o São Francisco a nado
Com olhos encharcados de agreste
Eu sigo sempre Valvulado
Eu quero alcançar o Nordeste
Parangolé vem cantar
Que muito além do Baião
De lá do barro do chão
Um Vitalino plantou
No povo um sopro de luz
Que ensinou ao Brasil
Se entrega corisco
Eu não me entrego não!
Sou um canto que resiste
Ninguém bole em meu quintal
Sou Gonzaga, Armorial
E se preciso bacurau
Guerreiro de todos os santos com seus orixás
E entre Sergipe e Alagoas deságuo no mar
Entrei num baque de Maracatu
E nos sotaques do Boi-Bumbá
Pulei fogueira em Campina Grande
Chapei os cocos num bar potiguar
Em Teresina a sina é Cajuína
” Só deixo o meu Cariri ” para Parangolear
Tem óleo no mar
Que coisa feia, ô
Mais feia, ô
A coisa tá feia!
Acorda!
O bloco
O Parangolé Valvulado surgiu em 2008 por iniciativa de um grupo de músicos, estudantes, professores e artistas que queriam brincar na rua de forma democrática e lúdica. “Privilegiamos a música autoral e os frevos inéditos, mas durante a farra sempre aparecem homenagens aos Mutantes, ao Pink Floyd e outras lendas”, diz Danniel, explicando que o frevo enredo é uma mistura de bateria de escola de samba com frevo e guitarras distorcidas que surgiu de forma “orgânica e espontânea”.
Sobre o nome do bloco, o guitarrista lembra que Parangolé é uma obra de arte que as pessoas vestem e que se modifica à medida que se dança, em ideia lançada por Hélio Oiticica, artista plástico da Tropicália. “O Valvulado vem da grande quantidade de músicos que gostam de amplificadores à válvula”.
Este ano o bloco estará na Avenida Getúlio Vargas, no centro de Juiz de Fora, domingo, 16 de fevereiro, com concentração ao meio dia.
A programação inclui ensaios abertos (o primeiro será em 25 de janeiro, sábado, 14h às 22h, na Ladeira Alexandre Leonel, 10, em frente ao Spazio Design) e o Baile Valvulado no Trade Hotel em 7 de fevereiro, sexta, às 21h.
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