O Sindicato Nacional dos Aposentados decidiu levar para a Justiça a cobrança de um calendário de vacinação contra a Covid-19 para os idosos. A entidade quer que os governadores de todos os estados do país apresentem datas e esclareçam as dúvidas da população com relação aos critérios para a prioridade de imunização.
“Protocolamos notificações judiciais em todos os tribunais brasileiros contra os governadores e governos pedindo que eles apresentem claramente a prioridade da vacinação para os idosos. A população está muito perdida, indo em postos e achando que pode tomar a vacina”, diz a coordenadora do departamento jurídico do Sindicato, Tonia Galleti.
“Entendemos a realidade de que não tem vacina para todos, mas queremos saber quais serão os novos critérios: aqueles com alguma comorbidade? Os que estão acima de 85? Como será feita essa seleção?”, questionou a advogada.
Na última terça-feira (19), o secretário municipal de saúde de São Paulo, Edson Aparecido, afirmou que idosos com mais de 75 anos na capital receberão a primeira dose somente a partir de 23 de março. A data seria uma estimativa já que depende do recebimento das doses do imunizante e da vacinação dos profissionais da saúde.
No planejamento inicial do governo do estado, gestão João Doria (PSDB), quando o início da vacinação estava previsto para 25 de janeiro, pessoas a partir de 75 anos seriam vacinadas a partir de 8 de fevereiro.
“Não somos contra a vacinação do pessoal da saúde, mas não temos definição nenhuma. E são os que mais precisam porque mais de 50% das pessoas que estão morrendo têm acima de 60 anos. Também já deveriam estar curtindo a vida, sem trabalhar e, no entanto, estão sustentando a família. Cresceu em 52% o crédito consignado. Pelo menos tínhamos de ter a esperança da vacina para vivermos mais tranquilos e com dignidade”, disse o presidente do Sindicato, João Inocentini.
Em nota, o governo de São Paulo afirma que está vacinando, neste primeiro momento, os profissionais da saúde que atuam na linha de frente do combate ao coronavírus e que aguarda a liberação de mais doses para a contemplação dos demais grupos prioritários: idosos com mais de 60 anos e pessoas com deficiência vivendo em instituições de longa permanência, indígenas aldeados, de acordo com definição do PNI (Programa Nacional de Imunização), do Ministério da Saúde.
“A expansão da campanha para demais públicos será feita com base em dados técnicos e será desenvolvida segundo a disponibilidade das remessas do Ministério da Saúde”, diz a nota.
O ministério diz, também por meio de nota, que à medida em que o laboratório disponibilizar novos lotes de vacina, o PNI irá dispor de novas grades de distribuição e cronogramas de vacinação dos grupos prioritários, conforme previsto no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação.
“Cabe esclarecer que todos os trabalhadores da saúde serão vacinados e a ampliação da cobertura desse público será gradativa, assim como os demais públicos prioritários elencados no grupo conforme disponibilidade de vacinas.”
Decepção
A metalúrgica aposentada Alda Silvestre de Sousa, 66 anos, disse que já estava animada para ser vacinada no começo de fevereiro, mas que foi um “balde de água fria” quando soube que as datas não seriam mais as mesmas.
“Agora não sabemos nem se vai ter vacina para todo mundo. Eu já tinha feito meu cadastro e pensei que havia chegado a minha hora. Seria uma vitória porque estamos esperando para respirar um pouco melhor, não para relaxar”, disse.
O aposentado Carlos Roberto de Lima, 69, foi à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Doutor César Antunes da Rocha, na região de Interlagos (zona sul da cidade de São Paulo) para retirar remédios na farmácia da unidade nesta quarta-feira (20). Ele afirmou querer ser vacinado “o quanto antes”, mas não sabe quando isso irá ocorrer.
“Essa briga entre o [governador de São Paulo] João Doria e o [presidente Jair] Bolsonaro acaba prejudicando a população de uma forma geral, principalmente pela diferença de opiniões, que acabou atrapalhando a [campanha de] vacinação”, disse. Um filho de Lima, de 40 anos, está internado com o novo coronavírus.
O porteiro Milton Miotti, 63, pretende ser vacinado contra a Covid-19, mesmo não acreditando na eficácia da vacina, porque nem todos os insumos são brasileiros. “Já que a vacina é feita aqui [Brasil], como posso ter certeza de que os insumos [vindos de outros países] são de confiança?”, questionou.