PUBLICADO EM 17 de jul de 2020
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A ema gemeu e a espiral do tempo se alvoroçou contra o sinal fechado; vai abrir

João do Vale, cantor e compositor maranhense

Por Marcos Aurélio Ruy

Como uma profecia o cantor e compositor maranhense João do Vale (1934-1996) compôs o Canto da Ema, eternizada na voz do cantor e compositor paraibano Jackson do Pandeiro (1919-1982), em 1956. Como os tempos são de ema, vale destacar a importância de João do Vale para a música popular brasileira.

Esta seleção também contempla um dos mais importantes nomes do rock porque a segunda-feira (13) marcou o Dia Mundial do Rock e Roger Waters e a sua ex-banda Pink Floyd têm presença certa em qualquer história que se conte desse gênero musical que se universalizou.

Músicas diversas, de épocas diferentes, para comprovar que toda obra de qualidade não perde a atualidade.

Maria Gadú

Muito importante lembrar da obra da paulista Maria Gadú, uma das mais importantes vozes da MPB contemporânea. Ela escolheu morar no Rio de Janeiro e iniciou carreira profissional em 2009 e desde então é presença certa no rico acervo da MPB.

“Quem justifica o ato? Quem vai lavar as mãos?

Sopro do desalento? Quem se desnuda ao vento?

Quem vai ser indiscreto? Ser divisão do pão?

Quem vai sair do rumo? Quem vai mudar o prumo?”

 

Quem? (2011), de Maria Gadú; participação especial de Lenine

Silvio Rodríguez

Como um dos principais expoentes da música cubana, Silvio Rodríguez é um dos criadores da Nova Trova Cubana, movimento que transformou a música do país caribenho, nos anos 1970. Suas canções tratam tanto das questões individuais e sociais para mostrar que tudo caminha lado a lado. Aprecie Al final de Este Viaje en la Vida (Ao final desta viagem da vida) e o talento desse grande músico e poeta.

“No final da viagem é o horizonte

No final da viagem, partiremos de novo

No final da jornada, começa um caminho

Outra boa maneira de andar descalço

Contando a areia”

 

Ao final desta viagem da vida (1978), de Silvio Rodríguez

https://youtu.be/Vbnoq4DPwoc

Ceumar

A cantora, compositora e instrumentista mineira, Ceumar é uma das destacadas representantes da música caipira que se inova e se mantém no imaginário popular. No ano passado, lançou a música Espiral, que deu nome ao seu quarto álbum. Importante prestar atenção a essa artista.

“Eu sei que a vida pode parecer

Um salto pro abismo que é você (…)

Talvez o tempo possa nos dizer

O que as escolhas vieram trazer”

 

Espiral (2019), de Carlos Lacerda e Ceumar

Paulinho da Viola

Desnecessário comentar o talento do carioca Paulinho da Viola, um dos maiores nomes da música popular brasileira. Paulinho é um bom exemplo da renovação da MPB firme e forte sempre. Aqui a sua canção Sinal Fechado, vencedora do Festival de Música da Record, em 1969, antes de pertencer a Edir Macedo, portanto.

Com maestria, o compositor dribla a censura num diálogo entre duas pessoas paradas com seus automóveis num semáforo. Chico Buarque, também carioca, gravou essa música em 1974, quando a censura vetava qualquer coisa que aparecesse com seu nome. Sem parecer provocação, o nome do disco foi Sinal Fechado, mas como canta Paulino da Viola, “vai abrir”.

“Olá, como vai?

Eu vou indo e você, tudo bem?

Tudo bem eu vou indo correndo

Pegar meu lugar no futuro, e você?

Tudo bem, eu vou indo em busca

De um sono tranquilo, quem sabe

Quanto tempo, pois é

Quanto tempo?”

 

Sinal Fechado (1969), de Paulinho da Viola

Gabriel O Pensador

As canções de Gabriel O Pensador são sempre críticas ao sistema opressor da juventude e da classe trabalhadora.

“Não quero estudo nem trabalho

Não vem que não tem

Porque eu sou um playboyzinho e disso não me envergonho

Não sei o que é a vida Não penso Não sonho

Praia, surf e chope essa é a minha realidade”

 

Retrato de Um Playboy (Juventude Perdida; 1993), de Gabriel O Pensador

Roger Waters

O inglês Roger Waters também dispensa comentários. O ex-integrante da banda Pink Floyd esteve no Brasil recentemente e a canção Another Brick in the Wall (Outro Tijolo na Parede) decepcionou fãs seguidores de Jair Bolsonaro por se contrapor à repressão entre os muros da escola como na vida.

A clássica música mostra o tempo em que a pedagogia da repressão imperava nas escolas. Mas é preciso sempre denunciar porque a forma violenta de educar é um dos pilares do movimento Escola Sem Partido, de cunho nazista. Aliás o mais recente nomeado ministro da (des)Educação defende a violência física para “educar” crianças.

“Não precisamos de nenhuma educação

Não precisamos de controle mental

Chega de humor negro na sala de aula

Professores, deixem as crianças em paz

Ei! Professores! Deixem essas crianças em paz!

Tudo era apenas um tijolo no muro

Todos são somente tijolos na parede”

 

Another Brick in the Wall (1979), de Roger Waters; canta Pink Floyd

João do Vale

O nordestino João do Vale se transformou num dos principais nomes da MPB ao se destacar no antológico espetáculo Opinião, em 1964. O musical, dirigido por Augusto Boal, produzido pelo importante Teatro de Arena e pelo importantíssimo Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, marcou a resistência à ditadura.

Além de João do Vale, o elenco do espetáculo era composto por Nara Leão (depois substituída por Maria Bethânia), João do Vale e Zé Kéti. O texto era assinado por Armando Costa, Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pontes.

Um dos grandes sucessos do musical foi Carcará, de João do Vale. “Carcará/Num vai morrer de fome/Carcará/Mais coragem do que home/Carcará/Pega, mata e come”, dizem versos da histórica canção que trouxe a vigorosa voz da baiana Maria Bethânia para o nosso cancioneiro.

Como uma profecia o cantor e compositor maranhense João do Vale (1934-1996) compôs o Canto da Ema, eternizada na voz do cantor e compositor paraibano Jackson do Pandeiro (1919-1982), em 1956.

“A ema gemeu no tronco do jurema

Foi um sinal bem triste, morena

Fiquei a imaginar

Será que é o nosso amor, morena

Que vai se acabar?”

 

O Canto da Ema (1956), de João do Vale, Ayres Viana e Alventino Cavalcanti; canta Jackson do Pandeiro

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