PUBLICADO EM 18 de abr de 2023
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Reagan e Trump, duas ervilhas em uma vagem destruidora de sindicatos

Presidente Ronald Reagan apertando a mão de Donald Trump em uma recepção para membros da Fundação “Amigos da Arte e Preservação em Embaixadas” no The Blue Room, 1987. Foto White House Photographic Collection

Berry Craig (People´s World)

O velho ditado “muitas verdades são ditas em tom de brincadeira” me lembra de uma placa no salão de um sindicato, em Paducah, de 1980: “Um membro de sindicato votando em Ronald Reagan é como uma galinha votando no Col. Sanders.”

O mesmo vai para Donald Trump, que apesar de seu indiciamento, parece ser o favorito para vencer o aceno presidencial do próximo ano pelos Republicanos. (Trump diz que ele ainda vai concorrer apesar do indiciamento, e prevê “potenciais morte e destruição” no despertar dele sendo acusado por pagar dinheiro pelo silêncio da estrela de filmes adultos, Stephanie Clifford, também conhecida como Stormy Daniels. Ele está enfrentando pelo menos mais três investigações).

Eleito quase 43 anos atrás, Ronald Reagan foi o presidente mais anti-sindical desde Herbert Hoover. Trump foi o presidente mais anti-sindical desde Reagan. Mesmo assim os Republicanos Reagan e Trump alegam ser os campeões das pessoas que trabalham todos os dias.

Reagan foi um artista vigarista que falava de operários, mas andava corporativo. Assim é Trump. Eles diferem apenas no estilo: Reagan chegou como o afável cara das “manhãs na América;” Trump é um vociferante e desbocado intolerante. Reagan preferia o “apito de cachorro” em ceder ao preconceito; Trump é parcial para o megafone.

O falecido presidente da AFL-CIO, Richard Trumka, chamou Trump por provar ser apenas outro destruidor de sindicatos na Casa Branca. “Promessas quebradas são más o suficiente,” o The New York Times citou Trumka.

“Mas o Presidente Trump também usou seu cargo para ativamente prejudicar os trabalhadores. Ele se uniu com as corporações e seus aliados políticos para minar o direito dos trabalhadores de negociar coletivamente. Ele tirou dinheiro dos nossos bolsos e fez nossos locais de trabalho menos seguros. Ele dividiu nosso país, abandonou nossos valores, e deu cobertura ao racismo e outras formas de intolerância.”

Trump não mentiu apenas para os trabalhadores. Ele mentiu sobre qualquer coisa ou qualquer pessoa a qualquer momento que fosse conveniente para ele. Ele fez pelo menos 30.573 alegações falsas ou enganosas enquanto ele foi presidente, de acordo com um cálculo do Washington Post. Evidentemente, nenhum presidente americano mentiu mais grandemente do que Trump.

Sua maior mentira é uma em que ele alega que Joe Biden e os Democratas o trapacearam, deixando-o fora de um segundo mandato. Mas a grande mentira de que ele é pró-sindicatos vem perto em segundo.

Trump adora o “direito ao trabalho”

Se você tem um cartão sindical como eu tenho, você sabe que as leis do “direito ao trabalho” são algumas das ferramentas mais velhas de destruição de sindicatos por aí. (Os sindicatos, por uma boa razão, as chamam de “leis pelo direito de trabalhar por menos.”)

Mas na trilha da campanha em 2016, Trump disse que ele era “100 por cento” pelo “direito ao trabalho.”

Em estados de direito ao trabalho como o Kentucky, todos os trabalhadores por hora em locais de trabalho sindicalizados podem desfrutar de salários e benefícios conquistados pelos sindicatos, sem se unir a ele ou pagar a taxa sindical para representa-los para a gerência. (Sob a lei federal, se um local de trabalho tem um sindicato, este deve representar igualmente todos os trabalhadores por hora.)

Reagan destruiu o Sindicato dos Controladores de Trafego Aéreo Profissional (PATCO, na sigla em inglês), durante seu primeiro ano no cargo, um movimento que “foi a primeira grande ofensiva em uma guerra que a América corporativa travou com a classe média desse país desde então,” Jon Schwarz escreveu no The Intercept.

Enquanto Trump evitou o alistamento e o serviço militar durante a guerra do Vietnam, ele se voluntariou pela guerra corporativa contra a classe trabalhadora. Como Reagan, ele transformou o Departamento do Trabalho dos EUA em um departamento anti-trabalho. Ambos os presidentes nomearam secretários do trabalho que tinham provado sua hostilidade aos sindicatos.

O Conselho de Relações Trabalhistas Nacional deve proteger os direitos dos trabalhadores de se sindicalizarem. Reagan e Trump lotaram o painel com nomeados pró-negócios e anti-sindicais.

“Trump nomeou o executivo de fast-food e crítico sindical Andrew Puzder e (mais tarde) Eugene Scalia para serem secretários do trabalho,” disse Kirk Gillenwaters, um aposentado do United Auto Workers Local 862 e presidente da filial do Kentucky da Aliança para Aposentados Americanos. “Scalia [o filho do juiz de direita da Suprema Corte, Antonin Scalia] foi um advogado de prevenção sindical que tinha feito a vida lutando contra regulações trabalhistas e trabalhadores tentando se organizar.”

Gillenwaters adicionou: “Trump atacou pessoalmente o Presidente do USW Local 1999, Chuck Jones, quando Jones chamou Trump de mentiroso sobre ter salvo empregos em sua fábrica em Indiana.”

Gillenwaters foi um delegado na Convenção do Estado do Kentucky da AFL-CIO, em 2017, em Lexington, onde Jones, que liderou o sindicato na fábrica Carrier HVAC, em Indianapolis, foi um palestrante.

“Há poucos melhores exemplos de quanto um vendedor de óleo de cobra Donald Trump é do que as últimas notícias de ainda mais demissões na Carrier,” Oliver Willis escreveu no The American Independent, em 9 de novembro de 2017.

“A empresa simplesmente anunciou que mais de 200 funcionários iriam perder seus empregos na fábrica de Indianapolis, em janeiro. Isso segue a decisão da Carrier mais cedo no ano de demitir 300 trabalhadores nas mesmas instalações.”

Willis explicou: “A Carrier foi capaz de fazer isso porque Trump e o então governador Mike Pence juntaram um suborno de $7 milhões para a empresa.

Antes de serem jurados na presidência e vice-presidência, os dois juntaram um acordo querido de cortes de impostos para induzir a Carrier a manter os empregos em Indiana, onde Pence era governador. Depois de negociar o acordo, Trump deu um tapinha em si mesmo nas costas e alegou que ele tinha salvo empregos que iriam ser mandados para outro continente.

“Mas Trump e Pence não asseguraram nenhum acordo que iria exigir da Carrier manter aqueles empregos. Ao invés, eles negociaram receitas das pessoas em Indiana em troca de poucos dias de manchetes. A grande imprensa infelizmente jogou o jogo junto com Trump, e a Carrier agora mostrou o quanto ela jogou Trump e Pence por idiotas absolutos.

“O acordo inteiro, jogando fora o primeiro ano da Presidência de Trump, foi um microcosmo de seu enfoque fraudulento de governar.”

Jones disse a convenção que todo o tempo ele duvidou da promessa de Trump de trazer os empregos terceirizados para casa e manter outros empregos nos Estados Unidos. Mas ele concedeu que a promessa de Trump “ressonou em muitos trabalhadores.”

Ele lembrou que na trilha da campanha, Trump nunca disse, “’eu vou trazer meus negócios de volta para esse país’ ou ‘eu vou trazer os negócios da minha filha de volta para esse país…’ eu pensei que ele estava cheio de merda na época, e os tempos provaram que sem dúvida ele é.”

Em 29 de novembro de 2017, em um editorial do Washington Post, Jones escreveu que “além de Indiana, trabalhadores por todo o país sentem que eles também são vítimas de um falso acordo trompista, no qual eles foram convidados para negociar seus votos para manter seus empregos. De fato, de acordo com uma nova pesquisa conduzida pela Good Jobs Nation, mais de 91.000 empregos foram mandados para o exterior desde que Trump foi eleito, a mais alta taxa de empregos perdidos para a terceirização em cinco anos.”

Do Kentucky, Berry Craig é professor emérito de história na West Kentucky Community and Technical College, em Paducah, e escritor freelancer.

Fonte: People´s World

Tradução: Luciana Cristina Ruy

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