PUBLICADO EM 29 de out de 2018
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Os desafios da classe trabalhadora com a eleição de Bolsonaro

Confira Nota produzida pelo PSTU, assinada por José Maria de Almeida.

A eleição de Jair Bolsonaro à presidência da república neste segundo turno das eleições é, sem dúvida, uma vitória da ultra-direita em nosso país, com todas as consequências que se pode esperar deste fato.

Uma parcela importante dos trabalhadores do nosso país votou em Bolsonaro, e só por esta razão ele ganhou as eleições. Mas estes trabalhadores não votaram nele por concordar com as ideias do capitão reformado. Votaram para dar um castigo no PT. O PT surgiu do seio da nossa classe, mas aliou-se aos banqueiros e grandes empresários para ganhar as eleições e para governar. Deu as costas aos trabalhadores. Empenhou-se em defender os interesses dos bancos e grandes empresas. Igualou-se aos partidos tradicionais da burguesia, virou farinha do mesmo saco.

O resultado é esse que está aí: o país não mudou, a vida dos trabalhadores e do povo pobre está cada vez mais insuportável, e ainda chafurdou na mesma lama da corrupção que sempre marcou a política em nosso país. É contra este estado de coisas, contra esse sistema representado pelo PT, PSDB, MDB e outros partidos deste mesmo naipe que estes trabalhadores votaram. É através do vazio deixado pela traição e decepção com o PT que Jair Bolsonaro conseguiu entrar e ganhar o voto de uma parte dos trabalhadores.

Acredito que o PT merece sim o rechaço dos trabalhadores pelo que fez ao país e à classe trabalhadora. Mas não posso deixar de discordar da escolha de votar em Bolsonaro para castigar o PT, para repudiar o sistema. Bolsonaro não é “contra o sistema” representado pelo PT, PSDB, MDB. Ele é parte, na verdade é a pior parte deste sistema – além de atacar os nossos direitos como faria o governo de qualquer destes partidos, ainda quer tirar nossa liberdade de organização, de luta e de manifestação. Quer impedir nossa classe de lutar para defender nossos direitos. Ameaça nosso país com uma Ditadura.

Por essa razão o PSTU, apesar de chamar a votar 13 contra Bolsonaro, afirmava ainda antes do segundo turno que seria oposição a qualquer dos dois governos que saísse das urnas neste 28 de outubro. Reafirmamos agora esta posição, e também que a nossa classe precisa estar preparada para a luta em defesa de seus direitos e interesses.

Preparar a luta para enfrentar os ataques que virão

Sei que uma parte importante da classe trabalhadora não acredita que Bolsonaro vai atacar as liberdades democráticas em nosso país. No entanto, vejam o que já está acontecendo nos últimos dias: ações de setores da Justiça e da polícia impuseram uma espécie de censura nas universidades; no Ceará, um jovem foi assassinado durante uma carreata do PT; o mesmo que ocorreu com o mestre de capoeira Moa do Katendê, na Bahia.

Quanto aos nossos direitos, a imprensa já está anunciando a primeira meta da área econômica do novo governo – aprovar o quanto antes a reforma da previdência. O compromisso do presidente eleito e de seu “guru” na área econômica, de garantir o aumento do lucro dos bancos e grandes empresas só pode ser cumprido aumentando o sofrimento do povo brasileiro. Só poderá ser cumprido com ataques aos direitos dos trabalhadores e aumento da degradação das condições de vida da população mais pobre que vive na periferia das grandes cidades.

No entanto, independentemente da diversidade de opiniões existentes no interior da classe trabalhadora, todos e todas prezam por seus direitos e querem mantê-los. Sabemos que o povo pobre da periferia – independentemente do candidato cada um escolheu para votar – quer colocar um fim ao martírio que lhes é imposto pelo sistema em que vivemos, pelo capitalismo. E todos sabemos que não se pode dar cheque em branco para governo nenhum.

Precisamos estar preparados para defender os nossos direitos e interesses que estão ameaçados. O resultado das eleições não tira da nossa classe a condição de lutar, nossa classe não está derrotada. Ela pode enfrentar e pode derrotar qualquer ataque aos seus direitos. Desde que esteja unida e organizada para a luta.

Uma Frente Única para unir todos os “de baixo” para defender os nossos direitos

Assim, o desafio colocado para todos os trabalhadores e trabalhadores, ao povo pobre que vive na periferia dos grandes centros urbanos, à todos os sindicatos, centrais sindicais, movimentos populares – independentemente do candidato em que cada um votou, e da sua opinião política ou partidária – é a construção da unidade para a luta em defesa dos direitos e interesses da nossa classe.

É preciso organizar os trabalhadores numa frente única em defesa da aposentadoria, de emprego e salário digno para todos e todas, de saúde, moradia e educação para toda a população e fim da discriminação, violência e humilhação imposta aos que vivem na periferia dos grandes centros urbanos, para defender nossas liberdades democráticas, garantir nosso direito de organização, expressão e luta, e impedir que o governo dê sinal verde para que continuem matando e agredindo pessoas como já começa a acontecer.

Uma frente única que reúna a população e construa comitês de luta em todas as comunidades, que assegurem reuniões e assembleias nos locais de trabalho e dos sindicatos, plenárias de entidades e ativistas em cada região e cidade.

É enorme a responsabilidade das centrais sindicais neste contexto. Elas precisam aprender com o erro da desmarcação da greve geral de junho passado. Precisam tomar a frente desse processo e organizar um plano de ação nacional e unificado que possa unir e colocar em luta toda a classe trabalhadora e o povo pobre desse país se qualquer direito da nossa classe for ameaçado pelo governo atual ou pelo que assume em janeiro.

É na luta e nas ruas que os trabalhadores e o povo pobre poderão impedir que se concretize qualquer ataque aos seus direitos. Da mesma forma é na luta e nas ruas que poderemos impedir qualquer retrocesso em nossos direitos democráticos.

Construir uma alternativa política da nossa classe

O PSTU acredita, por outro lado, que é nesta luta que daremos passos concretos para organizar uma alternativa política para o país. Para colocar abaixo esse sistema capitalista que aí está e construir uma sociedade socialista. Uma sociedade onde acabe a desigualdade, a injustiça, onde todos e todas tenham trabalho e uma vida digna. Onde toda a riqueza seja distribuída entre os que trabalham e tenha fim toda forma de discriminação, opressão e violência.

Por outro lado, é preciso aprender com a traição e com os erros do PT. Essa alternativa que precisamos construir não será feita à semelhança nem junto com esse partido, mas contra ele, pois ele é parte do sistema que aí está. Precisamos de uma organização política da nossa classe, contra todos os patrões, que seja um instrumento para a luta dos trabalhadores e do povo pobre. Só assim faremos a revolução que este país precisa para termos em nosso país um governo da nossa classe, dos operários e do povo pobre, que funcione através de conselhos populares. Que mude o nosso país e a vida do nosso povo.

Essa é a razão de ser do nosso partido. E é a essa luta que chamamos a que se integrem todos os lutadores e lutadoras deste país.

Como diz o samba da Mangueira deste carnaval, queremos “um país que não está no retrato”. Um Brasil sem desigualdade social, sem preconceito e exploração. “Na luta é que a gente se encontra”.

José Maria de Almeida é metalúrgico e presidente nacional do PSTU

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