PUBLICADO EM 07 de jan de 2020
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Onde a Ford quer chegar no Brasil? Por Rafael Marques

Por Rafael Marques

2019 foi um ano muito difícil para os trabalhadores na Ford no Brasil e, aparentemente, 2020 não será diferente.

Esse ano começou com o anúncio do fechamento da fábrica em São Bernardo do Campo, a que estava a mais tempo em operação no País, além de ajustes contundentes no campo de prova de Tatuí, com a demissão de metade dos trabalhadores, e também pressão sobre os companheiros de Camaçari.

Ao longo do ano, a principal carga ficou em São Bernardo, onde a decisão de sair do mercado de caminhões no Brasil prejudicou entre 20 e 30 mil trabalhadores na região metropolitana de São Paulo, entre funcionários diretos e indiretos.

Houve um enxugamento forte em Tatuí e não se sabe qual será a estratégia de curto prazo para o campo de provas. Ainda a fábrica de transmissão e motores de Taubaté teve redução de mais de 150 trabalhadores por PDV (Plano de Demissão Voluntária), em abril.

Agora, as notícias que chegam de Camaçari é que a Ford voltou a pressionar, exigindo redução de custos trabalhistas, fornecedores, diminuição em áreas de logística, jornadas e PLR (Participação nos Lucros e Resultados), com chantagem pesada sobre os companheiros da planta baiana, como condição para investimentos futuros.

Significa que o sofrimento de São Bernardo segue para as outras plantas que a Ford tem no Brasil.

Terminamos o ano com uma grande indefinição do que acontecerá com a planta do ABC Paulista, em função das tentativas até o momento não consolidadas de compra pela Caoa, que relatou um esfriamento nas negociações, mas que ainda não se encerraram.

Em reunião com o presidente da Ford na América do Sul, Lyle Waters, ele afirmou o interesse de outras duas empresas, podendo haver uma terceira, sem revelar o nome delas.

Ele também se comprometeu a manter reuniões regulares conosco, por que não deixaremos essa questão esfriar e precisamos acompanhar toda a evolução das conversas, para assegurar que os compromissos firmados entre Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e Caoa, de condições de trabalho, sejam referência para qualquer outra empresa interessada.

Por isso, é necessário continuar pressionando a Ford por informações e cobrar o governador do Estado de São Paulo daquilo que ele se comprometeu, que foi acompanhar o caso até o final.

Não podemos deixar os trabalhadores na Ford sem conhecimento dos próximos passos, por que eles aguardam com esperança e com muita ansiedade por um desdobramento.

Todo esse cenário que se apresentou ao longo deste ano de 2019 nos revela a importância de continuar batalhando para encontrar saídas para os trabalhadores na Ford em São Bernardo, mas que também é fundamental compreender o que se dará no setor automotivo nos próximos dez anos, com grandes mudanças em função das novas tecnologias embarcadas, com modelos elétricos e autônomos, além de decisões globais, que ameaçam a produção no Brasil.

Nesse momento de muitas incertezas precisamos encontrar uma resposta para um questionamento legítimo: onde a Ford quer chegar no Brasil?

Rafael Marques é presidente do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

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