PUBLICADO EM 03 de maio de 2018
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O novo som do “beiradão”

Por Fernando Rosa

A cena musical de Manaus, capital do estado do Amazonas, no Norte do Brasil, é atualmente uma das mais criativas do país. “Sim, existe uma cena, mesmo que dispersa, dos mais novos como nós, Marcelo Nakamura, Alaidenegão, Tucandeira e outros”, confirma Jeferson Mady, da banda Mady e Seus Namorados. Assim como Belém, também no Norte, seus músicos tem um pé no passado da sua música regional e outro no futuro, abertos à universalidade.

O resultado é uma espécie de “novo som do beiradão”, com potencial de projetar nomes para a cena nacional. Cada um à sua maneira, reverenciam seus mestres e reinventam a musicalidade amazonense. No repertório de todos estão presentes as influências que marcam a música da região, em especial o beiradão, o carimbó, a lambada e os ritmos latinos, especialmente peruanos e colombianos. A influência da música paraense moderna, como a guitarrada, também está presente na mistura dos novos criadores.

“Acredito que estamos a ponto de chegar a sermos ouvidos”, diz Marcelo Nakamura, um dos músicos mais importante da nova cena. “Temos uma lei (de incentivo) agora a nosso favor. Isso facilita bastante”, diz ele. “As mídias digitais ajudam muito, mas infelizmente não pagam hospedagem, nem cachê”, diz ele sobre as dificuldades atuais. Mesmo assim, os mais ativos apostam nas plataformas digitais para romper com o isolamento da cidade, “uma ilha rodeada de floresta e rios”.

Nakamura lançou o disco de estreia, “Psycho Bagaceira”, em 2016, enquanto Mady e Seus Namorados ainda preparam seu primeiro disco-cheio, após singles e EPs de sucesso. Antes, em 2015, Alaidenegão lançou “Senoide sensual” – sucedido de “Alaidenegão” em 2017. A Orquestra de Beiradão do Amazonas, por sua vez, lançou “Das margens urbanas” – em 2017. Já Tucandeira gravou um DVD ainda por ser lançado. Outros grupos, como Trio Matrinxã e Casa de Caba, também lançaram seus trabalhos e preparam novos lançamentos. Na cena rock, vale destacar a banda Luneta Mágica.

Um disco esperado para este ano é o tributo de Rosivaldo Cordeiro aos mestres da guitarra amazonense – Oseas, André Amazonas e Magalhães. Os três guitarristas, ao lado de saxofonistas como Teixeira de Manaus, Chico Caju e Agnaldo do Amazonas, são fundadores da moderna música amazônica, com carreiras desenvolvidas nos anos oitenta. Oseas vivendo em Tefé, e André Amazonas e Magalhães já falecidos, integram o panteão dos gênios da guitarra amazônica junto aos paraenses Mestre Vieira, Aldo Sena, Solano, Mário Gonçalves e Barata, entre outros.

Marcelo Nakamura define o que, de certa forma, está presente na maioria das obras dos novos artistas. “Os ritmos amazônicos sempre me influenciaram muito. Uma parte do meu trabalho revela essa identidade. Outra é universal. Sem títulos”, diz ele. Para Nakamura, “resgatar esses ritmos é de suma importância para a identidade cultural do nosso povo”. “Sem ela, estaríamos apenas tocando sertanejo, sofrências, entre outras coisas ‘vendáveis'”, sintetiza ele.

Fernando Rosa é jornalista, produtor cultural, editor do portal Senhor F e colaborador do site Rádio Peão Brasil.

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