Quem está acostumado à imagem moderna e sofisticada dos Estados Unidos da América ficará surpreso ao notar que este enredo representa também o dia a dia de cantos remotos daquele país.
Por Carolina Maria Ruy
Seu protagonista Raylan Givens, é um agente policial federal nascido em Harlan, um pequeno município do Kentucky, sudeste dos Estados Unidos.
Com uma silhueta altiva de tropeiro, de quem lida com animais de grande porte e precisa mostrar dominância, e seu inconfundível chapéu, Givens é um homem da lei no estilo faroeste do século 19.
Devido à sua pretensamente “justificada” forma de lidar com a máfia – seu pavio curto em bom português – ele é transferido da cosmopolita Miami, para a provinciana Lexington, em seu estado natal, o Kentucky.
Na terceira temporada da série, um breve diálogo – porque caubóis e bandidos não são mesmo de muitas palavras – dá a pista de qual é o contexto de Justified. É assim:
O agente encontra por acaso o criminoso Fletcher Nix no elevador. Ele ainda não o conhece, mas, prepotente, Fletcher o encara e pergunta “Há muita demanda para caubóis hoje em dia?”. O agente responde “Você ficaria surpreso”.
A série que mistura comédia e ação parece acontecer em outros tempos. Mas, surpreendentemente, se passa nos dias de hoje, fato confirmado por esparsas menções das palavras “google” e “facebook” (não, eles não são típicos usuários das redes sociais. O mundo de Justified é o mundo do “olho por olho, dente por dente”).
Quem está acostumado à imagem moderna e sofisticada dos Estados Unidos da América ficará surpreso ao notar que este enredo representa também o dia a dia de cantos remotos daquele país.
As principais atividades econômicas do Harlan de Justified são a mineração, o tráfico de drogas e a prostituição. Jovens nascidos e crescidos nas terras selvagens de um mundo quase esquecido rendem-se às atividades ilícitas como que por um chamado da natureza. A hostil mineração parece nunca ter tido nada a oferecer, e o trabalho policial, mesmo que muitas vezes corrompido, não é para qualquer um. Com uma economia cambaleante e fugaz o crime encontra condições para prosperar. Em casos como esses a divisão social do trabalho não é justificada.
O isolamento entre montanhas, a briga do norte contra o sul, os confederados, as tradições dos mais longínquos ancestrais, as históricas brigas por terras, o fundamentalismo e fanatismo religioso, racismo, patriotismo exacerbado, organizações criminosas e provincianismos de todo tipo resistem fortemente à passagem dos anos naquele território.
Resumindo a atmosfera do que ele chamou de “faroeste psicológico”, o músico e blogueiro brasileiro, Ramon S Nunes afirmou que Justified representa “a literatura regional crítica e um olhar atento na América profunda. Filho de Hemingway, Raymond Chandler e da tradição americana policial, o falecido Elmore (autor do romance que deu origem à série) é uma das vozes da América sobre uma América que não aparece”.
Justified
EUA, 2010
Graham Yost
Com Timothy Olyphant, Nick Searcy, Walton Goggins, Joelle Carter
Carolina Maria Ruy é jornalista, coordenadora de projetos do Centro de Memória Sindical