PUBLICADO EM 09 de fev de 2018
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Jovem negra e pobre entra para o curso de Medicina da UFRJ. Por que isso é novidade?

Como vem acontecendo nos últimos anos, mais uma vez uma estudante negra e pobre consegue entrar no curso de Medicina da uma conceituada universidade pública. A mídia burguesa viraliza o assunto como prova da “meritocracia”, ressaltando o esforço pessoal da jovem.

Beatriz Albino Sevilha, de apenas 19 anos, foi uma das 53 estudantes que tirou nota máxima na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e com um bom desempenho nas outras provas, conseguiu vaga no curso de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Em entrevista ao G1, a estudante diz que “filha de pobre também pode ser médica”. A sua mãe é telefonista e o pai, pedreiro. “Certamente essa jovem tem muitos méritos, mas onde estão os outros e outras na mesma situação?”, pergunta Mônica Custódio, secretária de Igualdade Racial da CTB.

“Não dá mais para nos contentarmos com uma mente brilhante passar na universidade”, argumenta. “A realidade brasileira exige cotas para estudantes de escolas públicas e raciais para criar oportunidades iguais no futuro. O que alcançamos até agora ainda é muito pouco”.

E “esse governo sinaliza com o fim das cotas e e mostra intençãode acabar com as universidades públicas federais”, acentua Marilene Betros, secretária de Políticas Educacionais da CTB.

Sevilha conta ao G1 também que essa era a sua terceira tentativa de “entrar na faculdade” e confirma ainda que a difícil situação financeira de sua família “não me impediu de correr atrás do que eu queria”.

Exatamente o que a mídia ressalta. “Não podemos mais jogar o peso de passar ou não num exame seletivo para a universidade nas costas dessa juventude que estuda em escolas precárias e ainda necessitam ajudar a família no orçamento doméstico”, diz Custódio.

Para a estudante, a política de cotas “é a forma de o governo corrigir um erro que é deixar o negro de lado, negligenciar a educação do pobre”. Custódio concorda e afirma a necessidade de se “criar condições de que esse tipo de acontecimento deixe de ser novidade”.

Crise pode agravar situação

O Censo Escolar 2017, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) recentemente, comprova a preocupação da sindicalista. Mais de 1,5 milhão de jovens entre 15 e 17 anos continua fora da escola. O número de matrículas no ensino médio caiu 2,5% de 2016 para 2017.

“A dificuldade de implantação das metas do Plano Nacional de Educação (aprovado em 2014), a reforma do ensino médio e o corte severo dos investimentos na educação devem criar ainda mais dificuldades para que pobre na universidade deixe de ser novidade”, afirma Betros.

Marcos Aurélio Ruy

Fonte: Portal CTB

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