PUBLICADO EM 25 de jul de 2020
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Entregadores de aplicativos promovem segunda paralisação nacional

Paralisação dos entregadores de aplicativo na praça Charles Miller, Pacaembu/Foto: Rovena Rosa

Os entregadores de aplicativos promovem hoje (25) a 2ª paralisação nacional da categoria. A primeira foi realizada no dia 1º de julho. Eles reivindicam melhores condições de trabalho, fim de bloqueios indevidos, maior remuneração e apoio para prevenção contra a contaminação durante a pandemia do novo coronavírus.

Os trabalhadores requerem das empresas elevação da taxa mínima e da taxa por quilômetro. Atualmente, eles recebem um valor fixo por corrida e um variável por distância percorrida. Eles argumentam que os dois valores são insuficientes para custear as despesas básicas.

Outro pleito é o fim dos bloqueios indevidos. Entregadores afirmam que são impedidos de continuar prestando o serviço sem explicações. Outra crítica é o fato de que os envolvidos nas paralisações são punidos com esta medida. “Defendemos o fim dos bloqueios. Os caras bloqueia mesmo, aí não quero correr o risco”, relatou um entregador.

Paralisação dos entregadores de aplicativo na praça Charles Miller, Pacaembu/Foto: Rovena Rosa

O chamado “breque” traz entre suas pautas a adoção de medidas efetivas pelas empresas de proteção no cenário de pandemia. Enquanto algumas empresas forneceram equipamentos e insumos como álcool em gel, outras ainda não tomaram medidas. Eles pedem também um seguro saúde em caso de contaminação ou de acidentes.

Publicações nas redes sociais de grupos de entregadores registravam paralisações marcadas em pelo menos seis unidades da Federação: São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Paraná.

Rio de Janeiro
No município do Rio, existem cerca de mil entregadores por apps, os que trabalham de motos, bicicletas e por patinetes. A concentração começou às 11h, na Candelária, na região central da cidade. De lá, os manifestantes iriam percorrer os bairros da Glória, Flamengo e Botafogo. Mas, como houve um problema com o carro de som dos manifestantes, apreendido pela Polícia Militar, essa parte do protesto foi suspensa. A outra parte prosseguirá normalmente. O movimento está previsto para terminar às 17h, na Rua Miguel de Frias, em Icaraí, na zona sul de Niterói. Os entregadores vão atravessar a ponte Rio-Niterói para se juntar aos cerca de 500 entregadores de Niterói.

Um dos líderes do movimento, que se identificou como Simões, disse que, devido ao movimento de hoje, os aplicativos estão fazendo promoções de entregas delivery com a finalidade de esvaziar o movimento. E muitos entregadores que estavam bloqueados foram liberados para trabalhar. “Os aplicativos não dão retorno pra gente. A gente quer o aumento da taxa mínima de entrega um seguro de acidentes”, informou.

Simões disse que teve um amigo que fraturou a bacia em um acidente e tentou interceder junto ao aplicativo para conseguir que o tratamento fosse custeado. “A resposta do aplicativo foi de R$ 1mil a R$ 15 mil a gente paga. Vai ao hospital particular dá entrada e depois a vítima será ressarcida. Mas como um de nós vai ter condições de pagar a conta num hospital particular para depois ser ressarcido?”, indagou. E acrescentou: “A gente não quer brigar, a gente quer ser ouvido”.

São Paulo
Em São Paulo capital, os atos tiveram início na parte da manhã, quando núcleos de motoboys espalharam-se por diferentes endereços. Diferentemente da manifestação ocorrida no início deste mês, agora a rota priorizou centros comerciais.

A previsão era de que os protestos fossem realizados na entrada de seis locais: Shopping Tatuapé, Morumbi Shopping, Shopping Center 3, Shopping Center Norte, Shopping União e Shopping Grand Plaza. A orientação dos organizadores era de que os entregadores se concentrassem diante do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho (Estádio do Pacaembu), às 15h. Por volta desse horário, dirigiram-se para o local, inclusive, alguns entregadores que utilizam bicicletas para trabalhar.

Dessa vez, o Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas Intermunicipal do Estado de São Paulo (SindimotoSP), não aderiu à mobilização. A entidade representativa tinha marcado uma audiência de conciliação com 13 empresas de aplicativos, por iniciativa do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 2ª Região, mas a reunião não pôde ser finalizada, por problemas técnicos. De acordo com o presidente interino do SindimotoSP, Gerson Cunha, não foi definida nova data para o encontro.

Em postagens do Twitter, identificadas com a hashtag #BrequedosApps, os manifestantes aparecem diante dos shopping com faixas dizendo “A guerra continua”, “Menos bloqueios, mais respeito” e “Brecar até a taxa aumentar”. Muitos motoboys também colaram adesivos nas mochilas usadas para transportar encomendas, com dizeres como “Nossa vida valem mais do que os lucros deles.”

Paulo Lima – um dos líderes do movimento -, mais conhecido como Galo, afirmou que a agenda de reivindicações vai além de uma melhor remuneração pelos serviços prestados, por exemplo. Conforme afirmou em vídeo que circula pelas redes sociais, a categoria pleiteia vínculo empregatício com as empresas de aplicativos como forma de combater a precarização de trabalho.

Brasília
Em Brasília, os participantes da paralisação trafegaram pela Esplanada dos Ministérios. Segundo Adriano Sorriso, da Associação de Motoristas Entregadores do Distrito Federal, as reivindicações foram as mesmas da greve promovida no dia 1º de julho, já que as empresas não aceitaram negociar.

“Foram marcadas duas audiências públicas, com o Ministério Público do Trabalho, e os representantes das empresas não apareceram. Até agora não tivemos resposta. Vamos continuar a nossa luta”, comentou o representante da AMAE-DF à Agência Brasil.

Segundo ele, as empresas estariam investindo pesadamente em publicidade criando páginas para desacreditar o movimento e pagando entregadores para gravar vídeos elogiando o trabalho. Mas não houve avanço nos pleitos.

Reivindicações
Os entregadores reivindicam aumento da taxa mínima (valor fixo pago a cada corrida) e da taxa por quilômetro. Eles reclamam da falta de transparência e que a remuneração é insuficiente e com a elevação do número de entregadores parte da compensação vem caindo. Outra queixa diz respeito aos bloqueios, que segundo eles ocorrem sem justificativa e sem direito de defesa.

Os trabalhadores defendem também medidas mais efetivas por parte das empresas de apoio à prevenção contra a covid-19. Em Brasília, os entregadores carregavam uma faixa cobrando o fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs).

Na avaliação do professor de sociologia da Universidade de Brasília e pesquisador sobre relações trabalhistas Ricardo Festi, o movimento surge como novidade e se destaca por ter ampliado a mobilização e a número de entregadores envolvidos na luta por melhoria nas condições de trabalho.

“Se você avalia as demandas, é o mínimo das condições trabalho. As jornadas são absurdas. Há pessoas que trabalham de bicicleta que ficam de 15 a 16 horas por dia para ganhar R$ 60. Os abusos cometidos pelas empresas estão ficando mais claros. Isso está abrindo um debate nos parlamentos nacional, estaduais e municipais. Há projetos de lei sendo apresentados buscando atender às demandas, o que é também um resultado importante”, analisa.

Nas redes sociais, entregadores e apoiadores passaram o dia divulgando mensagens de apoio e solicitando que cidadãos contribuíssem com o movimento não fazendo pedidos nos principais apps aos quais estão vinculados a maioria dos trabalhadores, como Rappi, iFood, Uber Eats, James e 99Food.

Centrais sindicais apoiam mobilização 

Em nota, as centrais sindicais afirmam que “Os aplicativos permitem um controle total do capital sobre o trabalho, fazendo intermediação com os consumidores, nessa época de trágica crise sanitária, provocada pela covid-19. Os motoboys passaram a ser uma categoria essencial, por causa do isolamento social, sendo obrigados a trabalhar jornadas superiores a 12 horas por dia, recebendo pagamentos aviltantes, colocando sua saúde e de seus familiares em risco”.

Confirmam que “A luta dos motoboys representa o protagonismo da classe operária, tão massacrada, especialmente nos governos Temer e Bolsonaro. Que essa luta contribua para valorizar o papel do movimento sindical, a relevância da unidade dos trabalhadores, abra a negociação para achar soluções e que os direitos e a proteção sejam alcançados”.

Veja a íntegra das Nota das centrais sindicais PARALISAÇÃO DOS MOTOBOYS DO DIA 25

Fonte: Com Agência Brasil

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