PUBLICADO EM 14 de fev de 2019
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Empresa dona de helicóptero do voo em que morreu Boechat teve três acidentes

A empresa do helicóptero que se acidentou na última segunda-feira (11), matando o jornalista Ricardo Boechat e o piloto Ronaldo Quattrucci, tem um histórico de pelo menos outros três acidentes aéreos, envolvendo suspeitas de má condução do tripulante e falta de manutenção. Nenhum dos casos, porém, com mortes.

Foto: Arquivo

A RQ Serviços Aéreos Especializados tem como um dos sócios o próprio Quattucci.

Nesta quarta-feira (13), a Anac suspendeu a empresa e interditou suas aeronaves, após a constatação de que a RQ estava fazendo táxi aéreo de maneira irregular.

No histórico de acidentes vinculados à empresa, o primeiro ocorreu em novembro de 2005. Um helicóptero Robinson 22, com prefixo PT-YCZ, estava sobrevoando a marginal Pinheiros, com um repórter que transmitia para a rádio Eldorado a situação do trânsito na via.

Após perder o controle do voo, o helicóptero fez um pouso forçado na pista expressa da marginal, junto à ponte Eusébio Matoso. Na época o piloto disse que perdeu o controle do helicóptero a 150 metros de altura. O piloto chegou a declarar que, se a emergência tivesse durado mais alguns segundos, a aeronave cairia como uma geladeira. No pouso forçado na marginal, dois carros foram atingidos.

Uma investigação da Aeronáutica indicou que um dos elementos contribuintes para o acidente foi a falha na transmissão, o sistema responsável por levar a força do motor para os rotores da cauda e da hélice. O problema foi gerado, segundo os militares, pela má manutenção do helicóptero da RQ. Uma correia teria se rompido devido a fadiga do material. Dias antes do acidente, a aeronave passou por uma revisão em que a correia deveria ser trocada, o que não aconteceu.

A seguradora da aeronave chegou a processar a empresa que fez a manutenção do helicóptero, solicitando o ressarcimento de R$ 380 mil pagos à RQ a título de seguro. Neste processo na Justiça, um perito judicial declarou que a aeronave acidentada também havia recebido o rolamento já usado por um outro helicóptero da RQ, fato que é descrito no processo como “absolutamente condenável e não recomendado pelo fabricante da aeronave”.

Em 2010, outro acidente. Um helicóptero modelo Robinson 44 operado pela empresa de Quattrucci teve de fazer um pouso forçado no canteiro central da rodovia Anchieta, após decolar de São Bernardo do Campo.

Oficialmente, a aeronave estava registrada no nome de outra empresa com sede em Campinas que disse que a operação ficava à cargo da RQ, o logo da RQ inclusive estava estampado na fuselagem do helicóptero. No voo estavam um piloto e três passageiros, dois deles saíram com ferimentos leves.

Em relação a este caso, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) emitiu diversas multas relacionadas a informações que deveriam ter sido enviadas à agência sobre esse voo, mas não foram, como as viagens anteriores e nível de combustível da aeronave, por exemplo.

A aeronáutica verificou que o piloto na ocasião era habilitado, mas inexperiente e havia acabado de ser admitido na empresa. Ele teria, por exemplo, deixado de checar o peso de seus três passageiros, estimando 70 kg para cada (na verdade, eles pesavam de 92 kg a 120 kg). O voo foi iniciado com peso acima do permitido.

Já em 2012, outro helicóptero registrado na Anac como de Ronaldo Quattrucci caiu em um matagal na cidade de Itaquaquecetuba. O helicóptero de modelo R44 e prefixo PT-YPY partiu do aeroporto de Campo de Marte, em São Paulo, e faria um sobrevoo. Três dos ocupantes foram socorridos a hospitais e um deles teria passado por uma crise de convulsão.

Além desses casos, uma das antigas sócias da RQ, que foi substituída pelo filho de Quattrucci em 2015, já tinha tido duas aeronaves suas envolvidas em acidentes, em 1998. Em um dos acidentes, quando uma equipe da TV Globo era transportada ao monte Roraima, um operador de áudio morreu e o ator Danton Mello ficou internado na UTI.

No voo da última segunda-feira (11), quando Quattrucci e Boechat morreram, a empresa do piloto não tinha autorização para fazer táxi aéreo, uma modalidade de transporte mais restritiva e fortemente regulada pela Anac.

Segundo empresas do ramo, muitos operadores de táxi aéreo não regulares trabalham com preços abaixo do mercado e fogem de fiscalização dessa modalidade de transporte.

O jornalista Ricardo Boechat embarcou no helicóptero de Quattrucci por volta do meio dia, em Campinas com destino a São Paulo. Boechat havia participado de um evento da farmacêutica Libbs. A RQ foi contratada pela Zum Brazil para o transporte aéreo — a Zum Brazil, por sua vez, foi contratada pela Libbs para organização do evento.

Enquanto aguardou o jornalista no evento, o piloto pousou o helicóptero no aeroporto Campo dos Amarais, em Campinas. Quattrucci parou no hangar da empresa Helitec, que presta serviços mecânicos em helicópteros. Segundo a Helitec, o piloto parou ali apenas para tomar um café com o dono da empresa. Quattrucci não teria reportado nenhuma avaria na aeronave. Ainda segundo a empresa, nenhuma inspeção ou manutenção foi feita enquanto a aeronave esteve no aeroporto.

Após o término do evento, Quattrucci decolou novamente e buscou Boechat no hotel para levá-lo de volta a São Paulo. No meio do caminho, o helicóptero perdeu o controle e caiu sobre a pista da rodovia Anhanguera. Segundo a Polícia Civil, o piloto tentava fazer um pouso forçado após detectar uma falha no helicóptero.

A reportagem tentou contatar o sócio de Quattrucci na RQ, mas não obteve resposta.

Fonte: Folha SP

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