PUBLICADO EM 29 de nov de 2023
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Produzir semicondutores no Brasil

Como e por que investir nessa área considerada absolutamente estratégica é o tema colocado em pauta no seminário que a FNE realizou nesta terça-feira (28/11), na sede do SEESP, em São Paulo.

Há mais de 50 anos, foi desenvolvido no Brasil o primeiro circuito integrado da América Latina, realização notável do professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) João Antônio Zuffo. O feito abriu caminho para o surgimento de processadores, máquinas de calcular, supercomputadores e a realidade virtual.

Semicondutores ImagemLamentavelmente, essa vereda não foi percorrida como deveria e hoje o Brasil se vê em situação de grande dependência do mercado externo, importando a maior parte dos semicondutores utilizados no País. Conforme dados da indústria do setor, dos R$ 11 bilhões aplicados ao consumo do item em 2022, apenas 8% foram produzidos internamente. O déficit comercial em eletroeletrônicos ficou em US$ 38,6 bilhões.

Ou seja, estão sendo drenados para outras nações os ganhos potenciais com o gigantesco mercado interno, que registra atualmente em uso 464 milhões de dispositivos digitais, entre computadores, notebooks, tablets e smartphones, segundo estudo do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGVcia).

Além disso, tendo sofrido um processo precoce de desindustrialização, o Brasil precisa urgentemente recuperar o segmento cuja participação no Produto Interno Bruto (PIB) foi reduzida de forma preocupante – especialmente a de transformação, que caiu de 30% em 1980 para 13% na atualidade. Isso demanda assegurar ganhos de produtividade e competitividade, o que implica autonomia na produção de chips, considerados por especialistas o motor da inovação e o catalisador para o desenvolvimento de outras tecnologias.

É mais que tempo de traçar um plano estratégico para que o Brasil tenha condições de desenvolver e produzir o material, e não apenas fazer o seu encapsulamento como ocorre hoje. O desafio é se inserir de forma relevante nas etapas de design do semicondutor e fabricação do wafer (circuito montado na base de silício).

Atingir esse objetivo exige ação conjunta do Estado, do setor empresarial e das universidades. Há que se juntar esforços dos atores protagonistas de uma empreitada como essa e assegurar os investimentos, o desenvolvimento tecnológico e a qualificação profissional necessários.

Os caminhos para tanto foram abordados no seminário que a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) realizou nesta terça-feira (28/11), na sede SEESP. As duas questões essenciais são as estratégias empreendedoras e os investimentos para estabelecer uma indústria de semicondutores no Brasil, assim como os caminhos para consolidar o domínio da tecnologia necessária.

Em meio a dificuldades de monta, que não podem ser desprezadas, espera-se que se encontrem soluções tanto factíveis quanto criativas, que aproveitem o potencial nacional. Como anuncia a mais nova edição do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, mantido pela FNE desde 2006, é hora de avançar para garantir uma nação soberana, próspera e com justiça social.

Eng. Murilo Pinheiro – Presidente do Sindicato dos Engenheiro SP

 

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