PUBLICADO EM 13 de set de 2018
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Mais empregos e menos armas

Os estudos mostram outros dados que merecem reflexão. Por exemplo: de cada 100 mortos de forma violenta, 71,5 são negros. Como o negro e a negra estão na base social, é fácil concluir que os homicídios atingem, esmagadoramente, os mais pobres.

Antigamente, muitas casas nem fechadura tinham. A tranca ou tramela era um pedaço de madeira que mal encostava a porta, pra proteger de animais, do vento ou da chuva. Roubo ou assassinato eram raros. Quando aconteciam, geravam espanto e falatório durante meses.

Isso acabou. Com o mundo tecnológico e o consumismo, veio também a violência, e o Brasil ficou mais violento ainda. O Mapa da Violência registrou que em 2016 aconteceram 62.537 homicídios. Entre 1995 e 2015, houve cerca de 1 milhão e 100 mil assassinatos no Brasil, o equivalente ao número de mortos na Guerra do Vietnã.

Os estudos mostram outros dados que merecem reflexão. Por exemplo: de cada 100 mortos de forma violenta, 71,5 são negros. Como o negro e a negra estão na base social, é fácil concluir que os homicídios atingem, esmagadoramente, os mais pobres.

Quando houve a explosão migratória nos anos 70, com o inchaço populacional das Capitais, a violência era quase que localizada nas grandes periferias. Isso mudou. A cidade brasileira com maior índice médio de homicídios, em 2017, é Altamira, no Pará.

Pesquisas de diversas fontes, inclusive de órgão da ONU, mostram que a imensa maioria dos assassinatos decorre de briga. Motivo fútil é a causa de 83,3% das mortes, a imensa maioria por armas de fogo. E muitas dessas armas não têm registro. São ilegais e provenientes, em muitos casos, do próprio crime organizado.

Quando se observa o recorte por idade, verifica-se que a grande vítima da violência é a população jovem – 56,5% dos assassinatos atingem jovens entre 15 e 19 anos. Observe que essa faixa também é duramente atingida pelo desemprego e a evasão escolar.

Os dados referentes a 2016 mostram que nosso País é, em média, 30 vezes mais violento que um país da Europa. Estudos indicam que a posse de arma nas casas estimula a violência e a criminalidade. Essas informações podem ser checadas em várias fontes. Uma delas é o Mapa da Violência – o site é www.mapadaviolencia.org.br

Qual a saída? Por isso tudo se vê que a solução não é armar mais a população, porque aí a violência cresceria, com mais agressões e explosão dos homicídios. Viraríamos uma Faixa de Gaza.

Eu não tenho a solução, mas acho que tem soluções. A primeira, eu acredito nisso, é garantir educação pública e de qualidade para todos, fazendo das escolas não só centros de aprendizado, mas locais de convivência e tolerância.

Também penso que a mão da lei deve ser pesada em cima dos traficantes de armamento e daqueles que portam armas ilegais. Uma vez obtida a arma, pela via legal, seria necessário o portador fazer cursos, ou seja, preparo pra usar a arma como meio de defesa, desestimulando a cultura da agressão e da violência.

Tenho pregado, em vários espaços e oportunidades, que o Brasil precisa ter mais empregos e menos armas. Penso que os candidatos, em todas as esferas, deveriam empunhar essa bandeira. A violência tem várias causas. Uma delas é a injustiça social. Uma das formas de combater essa injustiça é com a distribuição de renda, e a maior delas é o emprego, com salário decente. Pense nisso sempre. Mas pense, principalmente, na hora de escolher seu candidato e de votar.

José Pereira dos Santos é Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região e Secretário nacional de Formação da Força Sindical

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