PUBLICADO EM 24 de fev de 2022
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Aos 30 anos, FEM-CUT cumpre papel fundamental em defesa da classe trabalhadora

Foto: FEM-CUT

O ramo metalúrgico foi o primeiro a se organizar dentro da estrutura da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em 1986. Nessa época, os delegados e as delegadas do 3º Congresso Nacional da CUT aprovaram que era preciso romper com as estruturas oficiais e se articular de forma independente. Os metalúrgicos, então, decidem pelo desligamento da Federação Estadual dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas de São Paulo, responsável por discutir a pauta da categoria junto ao empresariado.

Com esse agrupamento dos sindicatos CUTistas, surge, em 1988, o Departamento Estadual de Metalúrgicos da CUT. Foram os passos iniciais para, no dia 16 de fevereiro de 1992 ser fundada a Federação dos Sindicatos de Metalúrgicos da CUT no Estado de São Paulo (FEM-CUT/SP), que neste ano completa 30 anos.

Para a categoria, a decisão de se organizar numa federação mostra-se cada vez mais acertada e necessária frente à atual conjuntura do país, de retirada de direitos, ameaças à democracia do país e ataques às entidades sindicais.

Com 13 sindicatos filiados e representando cerca de 200 mil trabalhadores dos setores automotivos, siderúrgico, alumínio, aeroespacial, eletroeletrônico, bens de capital e de fundição no estado de São Paulo, a FEM-CUT se prepara para o período eleitoral que se aproxima, no qual entende ser fundamental o engajamento da classe trabalhadora, principalmente com candidaturas que representem o projeto de redução da desigualdade, volta dos empregos, da renda e da garantia dos direitos.

A CUT-SP conversou com Erick Silva, presidente da FEM-CUT, sobre os desafios do setor metalúrgico e a retomada no pós-pandemia de covid-19. Formado em Ciências Sociais e com mestrado em Gestão Pública, o dirigente é trabalhador na Volkswagen na planta de São Carlos, no interior, cidade onde presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos da região por dois mandatos.

Na entrevista, Erick também falou sobre a Indústria 4.0, que é o processo de modernização da indústria, realidade que vem afetando os empregos, assim como a participação de mulheres e jovens no movimento sindical.

1 – Quais são os principais desafios da categoria metalúrgica para o próximo período, considerando as eleições que se aproximam?

Considerando as eleições deste ano, a FEM/CUT-SP tem como horizonte a reconstrução dos direitos da classe trabalhadora no Brasil, e nesse contexto os metalúrgicos do estado de São Paulo têm duas tarefas determinantes. Primeiro, consolidar o entendimento que um novo projeto de país que tenha foco na redução da desigualdade, produzindo emprego, renda, previdência, enfim, direitos do povo brasileiro. Em segundo lugar, disponibilizar quadros preparados para candidaturas que representam esse novo projeto de sociedade.

2 – A Volks de São Bernardo fez uma sinalização que poderá antecipar o retorno dos trabalhadores às fábricas num movimento de retorno à normalização. Como estará o setor e a categoria metalúrgica no pós-pandemia?

O setor automotivo deve retomar à normalidade quando o fornecimento de componentes se restabelecer, o que pode ocorrer em momentos diferentes para as diversas montadoras. Há demanda reprimida a abastecer, o que pode aquecer o setor por um período de tempo, mas não é a realidade da demanda no Brasil.

Hoje temos fábricas paradas e as montadoras projetando menor volume de produtos mais caros, encerrou-se o ciclo de investimentos em carros para o povo brasileiro.

Além disso, o Brasil está diminuindo sua capacidade de engenharia, desenvolvimento, ferramentaria e outros setores de suporte para a produção, mas de alta capacidade de agregação de valor. É crescente o processo de utilização de tecnologias desenvolvidas fora do país, o que empobrece e fragiliza nossa indústria.

Passada a pandemia, se nenhuma política pública for estabelecida, teremos a produção de menos veículos, mais importações, menos empregos e carros somente para as pessoas de maior poder aquisitivo.

3 – Como que a FEM-CUT tem acompanhado o debate em torno da Indústria 4.0? O Brasil possui uma discussão avançada sobre o tema?

A FEM-CUT/SP tem participado do debate sobre a Indústria 4.0 pensando em como deve ser a participação dos trabalhadores no processo de transformação, de certa forma a pandemia abreviou várias transformações, como o trabalho remoto, por exemplo, e foi acompanhada de novas cláusulas de proteção nas convenções, o que deve ser aperfeiçoado ao longo dos próximos anos.

A questão da jornada de trabalho certamente é um dos inúmeros temas que devem ser tratados pelos trabalhadores considerando a profundidade das transformações que estão por vir.

O debate no ambiente industrial é muito incipiente, mesmo nas multinacionais. O empresário brasileiro sequer chegou ao Toyotismo [modelo que prega a produção sob demanda e a eliminação do desperdício de recursos] e se recusa a investir em ferramentas de produtividade. A tônica hoje é a da exploração do trabalhador, algo precisa ser feito em nome da indústria no Brasil, e os empresários nacionais não pretendem fazê-lo.

4 – Recentemente o Sindicato de Matão elegeu uma mulher para a presidência da entidade, Edna dos Santos, que também é da direção da FEM-CUT. Como a Federação e seus sindicatos têm discutido a paridade de gênero, juventude e diversidade?

Essa é uma fronteira que foi vencida pela companheirada de Matão [SP] e é um grande mérito, também lembrando do forte trabalho que hoje é liderado pela companheira Ceres Ronquim, que está à frente das mulheres metalúrgicas do estado de São Paulo.

As mulheres representam em média 17% das pessoas trabalhadoras no ramo no estado, além da luta pela representação há de se conquistar direitos e salários iguais, e essa é apenas umas das lutas que temos de travar para conquistar a igualdade que pretendemos. Desconstruir desigualdades e preconceitos é tarefa fundamental e razão da existência da FEM. Parabéns à Edna dos Santos, dos Metalúrgicos de Matão, e a todas as mulheres da categoria.

Fonte: CUT São Paulo

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