PUBLICADO EM 26 de jul de 2024
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Abdias Nascimento e o Teatro Experimental do Negro do Brasil

Conheça a história de Abdias Nascimento, figura importante do ativismo brasileiro, e seu exílio voluntário. Abdias, que morreu em 2011 aos 97 anos, foi escritor, pintor professor universitário, político e ativista dos direitoshumanos.

Saiba mais sobre Abdias Nascimento e seu exílio voluntário. Conheça esta figura histórica que deixou um impacto duradouro.

Saiba mais sobre Abdias Nascimento e seu exílio voluntário. Conheça esta figura histórica que deixou um impacto duradouro.

Por Peter Lownds

Sentado em uma pequena mesa redonda no café George & Harry’s em New Haven, no inverno de 1969, eu estava lendo e bebendo chá quente com limão quando um casal pitoresco entrou. A mulher, alta e esguia, enrolada em cachecóis e suéteres, reclamava do frio. Minha primeira impressão do homem foi que ele era uma figura de importância histórica, como Haile Selassie. Mas foi o idioma que eles falavam, um português brasileiro suculento e musical, que me tirou do meu assento. Eles estavam parados no balcão esperando para fazer o pedido quando me apresentei:

Sou Pedro. Bem-vindos à Cidade dos Olmos.

Você é brasileiro?

Por dentro, com certeza!

Mas você é uma dádiva de deus! Meu nome é Abdias. Essa é Isabel, minha parceira. Falo pouco inglês. Amanhã converso com alunos de teatro sobre o Brasil. Pode interpretar para mim?

Com prazer.

Oxalá seja louvado!

Sentamos por meia hora em uma mesa maior. Abdias falou sobre seu exílio voluntário. Ele estava em Nova York a negócios quando o segundo “administrador militar” do Brasil, o Marechal do Exército Artur Costa e Silva, fechou o Congresso e impôs a lei marcial. Eu disse a ele que as pessoas com quem eu vivia e trabalhava na favela da Ilha do Mosquito, em Olinda, tinham certeza de que eu era um espião da “empresa” [CIA] que havia se perdido. Mas eles eram tão pobres que não tinham absolutamente nada a esconder. Sua risada foi minha bênção. Sem perceber, eu havia feito um teste e sido escolhido como aprendiz de feiticeiro.

Na tarde seguinte, estávamos lado a lado no palco do proscênio da Escola de Drama da Universidade de Yale. O Professor Nascimento falou sobre a história do Teatro Negro Brasileiro, do qual ele foi fundador. Ele era um contador de histórias fascinante, sem necessidade de script ou slides. Se eu quisesse que ele diminuísse o ritmo, bastava levantar a mão e ele pausava, dando-me tempo para acompanhá-lo. Não houve tempo para discutir os detalhes de sua palestra. Eu estava à deriva em um mundo do qual nada sabia. Sua confiança era meu salva-vidas. Ele assistia e ouvia com atenção enquanto eu traduzia suas palavras para o inglês. Se eu perdesse um detalhe — um nome, um lugar, o título de uma peça — ele repetia. Adotei seus gestos, modulei minha voz como ele fazia. Éramos uma unidade. Nunca experimentei nada parecido antes ou depois. Agora evito interpretar porque sei quantas armadilhas podem surgir, especialmente sem preparação ou um roteiro e diante de um público ao vivo.

Em retrospecto, minha primeira experiência foi sem problemas. Após quase uma hora de narrativa bilíngue, tivemos quinze minutos para responder a perguntas. Lembro como estava exausto naquela altura. Tropecei mais de uma vez ao traduzir perguntas da audiência para o português e as respostas do Professor Nascimento para o inglês. Felizmente, vários membros da audiência me ajudaram traduzindo tanto suas perguntas quanto as respostas dele para a turma da Escola de Drama. O Reitor Robert Brustein se juntou a nós no palco, pegou nossas mãos e nos levou às luzes do rodapé para responder aos aplausos da audiência com uma reverência. Foi o ponto alto da minha carreira teatral, que começou na primeira série e continua até meus oitenta anos.

Teatro Experimental do Negro

Abdias fundou o TEN, Teatro Experimental do Negro, no Rio de Janeiro, no ano em que nasci, 1944. Ele descreveu isso tão vividamente naquela tarde que me senti parte disso — as longas filas de motoristas, porteiros e empregadas domésticas esperando para fazer o teste para um lugar na companhia no dia seguinte ao anúncio de Abdias no Jornal do Brasil. Ele falou do processo de audição, dos cantores, dançarinos e atores ensaiando juntos por falta de espaço, das aulas diárias de alfabetização tornadas alegres por um colega brilhante, Ironides Rodrigues, que se tornou ativista, autor e crítico social.

Abdias havia acessado uma fonte de talento e sabia exatamente o que fazer com ela. Ele escreveu uma carta para Eugene O’Neill, após ver uma produção de sua peça The Emperor Jones em Lima, Peru, com um ator branco pintado de negro interpretando o papel principal. Ele pediu permissão para traduzir e encenar a peça em português, explicando que as únicas pessoas negras que já haviam pisado no Teatro Municipal do Rio eram zeladores que começavam a limpar a casa quando a cortina caía e o público saía. O’Neill concedeu ao TEN os direitos de todas as suas peças, renunciando aos royalties.

Getúlio Vargas, o autocrata perene do Brasil, após conhecer Abdias, ordenou que a produção de estreia do TEN tivesse uma única apresentação no Municipal em 8 de maio de 1945 — que coincidentemente era o Dia da Vitória na Europa. Na frente da cortina, antes do início da peça, Aguinaldo Camargo (que interpretou o papel principal), Abdias, Ilena Teixeira e Ruth de Souza recitaram “três poemas de luta” em inglês, português brasileiro e espanhol cubano: “Always the Same” de Langston Hughes, “Menina de Favela” de Aladir Custódio e “Negro, Hermano Negro” de Regino Pedroso.

Quase meio século depois, Abdias escreveu: “A estreia pública do TEN teve um tom radicalmente esquerdista, inconfundivelmente favorável à política mundial progressista. No entanto, os ‘progressistas’ brancos brasileiros não retribuíram esse apoio. Eles nos acusaram de racismo e fascismo. Fizeram o possível para nos destruir e desacreditar.”

Outra revelação para mim foi que Abdias, Léa Garcia e outros sete membros do TEN foram escalados na peça em versos Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes, com música composta por Antônio Carlos Jobim e cenário de Oscar Niemeyer, principal arquiteto da capital criada do zero, Brasília. A produção, financiada por Vinícius com licença de seu posto diplomático em Paris, teve uma curta temporada no Teatro Municipal de 25 a 30 de setembro de 1956, e é mais conhecida como a inspiração para o filme de Marcel Camus de 1959, Orfeu Negro, uma produção francesa filmada no Rio de Janeiro que ganhou tanto o Oscar de melhor filme estrangeiro quanto a Palma de Ouro em Cannes em 1959. A peça de Vinícius foi malfadada, no entanto: após a temporada curta no Municipal, o caminhão que transportava o cenário de Niemeyer de Rio para São Paulo sofreu um acidente e o cenário foi destruído.

Orfeu Negro

Minha geração foi galvanizada por Orfeu Negro. Sua trilha sonora foi crucial para lançar o “jazz samba”, mais conhecido como bossa nova. Carlos (Tom) Jobim e Luis Bonfá compuseram as melodias inesquecíveis *Felicidade*, *O Nosso Amor* e *Samba de Orfeu* (Jobim) e *Manhã de Carnaval* (Bonfá). Vinícius e Jobim colaboraram na música para a peça, mas Sacha Gordine, o produtor do filme, pediu que criassem músicas para que ele e Marcel Camus, o diretor/roteirista, pudessem ter uma parte do lucro.

No filme, o papel principal de Serafina, prima de Eurídice, foi criado por Léa Garcia, que interpretou Mira, amante rejeitada de Orfeu na peça. Marcel Camus escalou Lourdes de Oliveira como a Mira cinematográfica e foi casado com ela e com Marpessa Dawn em momentos diferentes. Ele foi um “one-hit wonder”, mas não um bigamista.

Camus e seu roteirista Jacques Viot despojaram a peça de Vinícius de muito do excesso mitológico em favor da combinação vencedora de uma trilha sonora maravilhosa, cinematografia impressionante em Eastmancolor por Jean Bourgoin e vibrato sexual palpável entre Marpessa como Eurídice e Breno Mello como Orfeu.

Encontrei Marpessa por acaso uma noite em 1977, em Manhattan, em uma festa no loft de Soho. “Eurídice está aqui”, disse minha esposa. Aproximei-me dela com a mesma falta de apreensão com que havia abordado Abdias e Isabel, acreditando que ela fosse brasileira.

Oi Marpessa! Sou Peter….

Isso é português? ela respondeu.

Marpessa me disse que havia aprendido as falas de Eurídice “foneticamente”, embora fosse fluente em francês, o que ajudou. Ela havia sido casada duas vezes, uma vez brevemente com Marcel Camus e depois, felizmente, com o ator belga Georges-Eric Vander-Elst, com quem teve cinco filhos. Ela preferia ser chamada de “Gypsy”. Estávamos ambos procurando trabalho como atores e decidimos fazer uma produção showcase de uma peça de um ato de Lanford Wilson. Não houve flerte ou intriga entre nós. Apresentei-a à minha esposa e foi isso. Abdias era um pai de santo brasileiro que nos trouxe juntos e, se sim, para que propósito? Ele estava ensinando na SUNY Buffalo na época e pintando os orixás, deuses da Umbanda e do Candomblé, religões afro-brasileiras.

Abdias foi também um aclamado pintor

Além de líder do movimento negro e artista performático, Abdias foi também um aclamado pintor que expôs em vários países, incluindo Alemanha, Argentina, Brasil, Espanha, Estados Unidos, México e Venezuela. Ele começou a pintar em 1968, enquanto ensinava cultura brasileira na Universidade do Estado de Nova York em Buffalo. A pintura se tornou seu trabalho mais reconhecido no mundo. Ele disse que a arte o ajudou a “revisitar” a África e as Américas “numa contínua, interminável viagem através do Atlântico Negro.”

Ele é mais conhecido por suas pinturas de deuses e orixás, divindades de religiões afro-brasileiras. Esses retratos vibrantes e poderosos são interpretados em estilo único. Nascimento explicou a importância de apresentar esses deuses no contexto da diáspora africana: “Trago os orixás de volta ao seu lugar de origem e também os projetos no futuro. É uma forma de reconectar com nossas raízes e afirmar nossa identidade cultural.”

Abdias ficou exilado nos Estados Unidos por treze anos. Ele não poderia voltar ao Brasil porque temia ser preso e provavelmente torturado. Ele retornou ao seu país natal em 1983, quando a ditadura militar começou a relaxar. Ele foi eleito deputado federal em 1986 pelo Partido Democrático Trabalhista e senador suplente em 1997, após a morte do titular, Darcy Ribeiro.

Abdias Nascimento morreu em 2011, aos 97 anos. Ele deixou um legado duradouro como um defensor incansável da igualdade racial e cultural no Brasil. Em reconhecimento à sua contribuição, a ONU o homenageou postumamente com o Prêmio Direitos Humanos em 2011.

Em 2004, publiquei a primeira tradução para o inglês do romance *Sortilégio* de Nascimento. Intitulado *The Sorcery of Color*, a tradução foi bem recebida e ajudou a trazer a obra de Nascimento para um público mais amplo. Embora ele não esteja mais conosco, o impacto de suas palavras e ações continua a ressoar, inspirando futuras gerações a lutar pela justiça e igualdade.

Paulo Freire e a ditadura militar

Em setembro de 1966, meus colegas voluntários e eu pegamos um voo direto de oito horas da Pan Am, de Idlewild para o Galeão, dois aeroportos agora nomeados em homenagem a heróis nacionais, John Fitzgerald Kennedy e Antônio Carlos Jobim. Assim como o envolvimento dos EUA no Vietnã, a missão do Peace Corps no Brasil teve problemas desde o início. A CIA havia infiltrado os sindicatos e universidades no Rio e em São Paulo e ofereceu apoio clandestino ao golpe de estado de 1964, que derrubou o governo “populista” do presidente João Goulart, substituindo-o por cinco ditadores militares que afastaram a democracia por 21 anos (1964-85).

Goulart havia se encontrado com Fidel Castro em Havana. O Departamento de Estado dos EUA temia que o sindicalismo emergente dos cortadores de cana-de-açúcar na fértil zona da mata nordestina criasse um reduto socialista que o carismático ministro das Relações Exteriores de Fidel, Che Guevara, pudesse usar como trampolim para a América do Sul.

O programa de “alfabetização em 40 dias” de Paulo Freire estava prestes a ser implementado nacionalmente para que milhões de camponeses, operários da construção civil e pescadores autônomos se tornassem alfabetizados funcionalmente e votassem em Goulart.

O Método Paulo Freire foi desenvolvido como parte do Movimento de Cultura Popular em sua cidade natal, Recife, capital de Pernambuco, um estado historicamente rebelde. O regime populista de Goulart foi derrubado em um golpe amplamente não violento em 1º de abril de 1964. Um ano antes, em 2 de abril de 1963, o marechal Humberto Castello Branco, o primeiro da ditadura iminente, participou de uma cerimônia marcando a primeira formatura do Método Freire, supervisionada pelo próprio Paulo Freire e patrocinada pelo governo do Rio Grande do Norte para mais de 300 adultos recém-alfabetizados. O primeiro dos ditadores militares do Brasil, marechal de campo Humberto Castello Branco, em uniforme completo, sentou-se no palco logo atrás e à esquerda do presidente João Goulart. Antes de retornar à sua guarnição em Recife, Castello Branco comentou com Calazans Fernandes: “Vejo que você está engordando cascavéis aqui!” Um ano depois, as cascavéis se tornaram dragões e Castello Branco, o primeiro dos cinco preservadores do status quo, assumiu o improvável papel de São Jorge.

Freire foi preso poucos dias após o golpe. O novo governo militar se opôs ao fato de os voluntários do Peace Corps promoverem o controle de natalidade, alegando que eles eram a vanguarda do desejo de “Tio Sam” de tornar as vastas selvas verdes da Amazônia brasileira suas. Na época, havia apenas 70 milhões de brasileiros. Os generais achavam que a nação estava subpovoada. Sessenta anos depois, há mais de 200 milhões.

No Senado Brasileiro Abdias elucidava as glórias da cultura afro-brasileira

Em 1969, fui intérprete de Abdias em várias ocasiões. Uma que perdi foi sua reunião com representantes do Partido dos Panteras Negras, em New Haven, um ano antes do julgamento dos “Nove de New Haven”, incluindo o líder dos Panteras, Bobby Seale, pelo assassinato de um espião negro em seu meio.

Enquanto estava em Yale como “acadêmico visitante”, Abdias me pediu para traduzir Sortilégio, uma peça que ele havia escrito para o Teatro Experimental do Negro, que foi publicada em inglês dez anos depois como Sortilege (Black Mystery) pela Third World Press. Desde então, foi encenada por teatros universitários e se tornou parte de uma antologia de Teatro Negro. De repente, em um momento em que não nos encontrávamos nem correspondíamos há muitos anos, ele me informou que queria compartilhar os royalties da minha tradução da peça comigo.

Quando estávamos todos em Nova York após minha graduação no Yale College em 1969, organizei um brunch para Abdias e Isabel com meu pai, que nasceu um dia antes de Abdias em 1914, em Düsseldorf, Alemanha. Abdias nasceu em Franca, no estado de São Paulo. Meu pai, inspirado pela presença de Abdias, falou com ele em francês. Abdias tinha sido guia de Albert Camus no Rio de Janeiro quando o autor argelino visitou o Brasil em 1949, então não fiquei surpreso que o diálogo entre eles fosse possível. Meu pai teria se ofendido se eu tivesse que traduzir para ele. Aproveitamos mimosas, chá Darjeeling, salmão defumado, cream cheese e bagels. Foi a primeira vez que Abdias comeu salmão defumado e bagels. Sua viúva e coautora Elisa Larkin Nascimento me disse anos depois que ele desenvolveu um gosto por essas iguarias e encontrou uma delicatessen no Rio onde estavam disponíveis.

Lembro-me de enviar a Abdias um poema que escrevi sobre o nascimento de Iemanjá, filha de Abdias e Isabel, que nasceu em Buffalo durante o que foi chamado de “motim” na penitenciária estadual de Attica, Nova York, que terminou com a morte desnecessária de muitos prisioneiros, a maioria negros. Abdias correspondia-se com alguns dos “prisioneiros políticos” e ficou profundamente abalado com o ocorrido a apenas 35 milhas da SUNY Buffalo, onde ele ensinava história brasileira a partir de uma perspectiva africana.

Pouco depois de vir para Los Angeles em 1982, conheci e me tornei amigo do segundo filho dele e de Léa Garcia, Henrique Cristóvão. Henrique me deu o endereço de seu pai no Rio, e nossa amizade foi renovada. Quando se tornou senador federal após a morte de seu ilustre antecessor, o antropólogo Darcy Ribeiro, Abdias me enviou um belo pôster de uma exposição de suas pinturas em Brasília, bem como uma edição bimestral de sua revista, THOTH, repleta de biografias de artistas, poetas e pensadores afro-brasileiros acompanhadas de suas explicações discursivas sobre a importância exemplar deles, discursos cheios da mesma paixão e persistência pela causa que traduzi em 1969.

Sou um dos fundadores do Instituto Paulo Freire na UCLA. Minha dissertação de doutorado de 2006, “À Sombra de Freire: Educadores Populares e Alfabetização no Nordeste do Brasil”, considera vários educadores e pesquisadores que “reinventaram Freire” na década após sua morte. Na THOTH #2, a “homenagem póstuma de 8 de maio de 1997 ao educador Paulo Freire e ao ator Anselmo Duarte” do senador Abdias Nascimento foi inspiradora. Abdias relembra observar Paulo Freire em ação na Guiné-Bissau, uma ex-colônia portuguesa, agora uma república da África Ocidental.

“Coerente e fiel aos seus princípios”, escreveu Abdias, “ele também ensinou na Guiné-Bissau, onde, várias vezes, eu o vi inclinado sobre os alunos que estudavam sob as árvores nas ruas da cidade, recém-libertada do colonialismo português. O país ainda não possuía um sistema educacional. Paulo Freire estava trabalhando na organização dessa instrução, expandindo a consciência de que apenas a educação liberta. Registro isso com orgulho e emoção, prestando homenagem a um brasileiro de competência pedagógica singular e de incomparável sentimento de solidariedade humana. (THOTH #2, p. 49).

Abdias retornou do exílio e transformou o plenário do Senado Brasileiro em uma sala de aula, onde elucidava as glórias da cultura afro-brasileira “sob a proteção de Olorum”—sob a proteção do deus Olorum. Ele morreu em 23 de maio de 2011, aos 97 anos. Reencontramo-nos em 2009, quando minha esposa e eu visitamos Abdias e Elisa em seu apartamento no bairro da Glória, no Rio de Janeiro. Termino este ensaio duas semanas após o erro na notícia da morte de Noam Chomsky, de 95 anos. Ele teve o bom senso de se casar com uma mulher brasileira que o trouxe de volta para a casa deles e para um hospital bem equipado em São Paulo depois que ele sofreu um ataque cardíaco massivo nos EUA.

Dr. Chomsky é o santo padroeiro da linguística do século XX, e Dr. Nascimento um senador federal, ator, poeta, dramaturgo, pintor e produtor teatral que se envolveu completamente na luta de seu povo por mais de sete décadas, mantendo-se atualizado com a história e a política mundial, escrevendo, falando e inspirando gerações de afrodescendentes brasileiros. Eles atravessaram o primeiro e o segundo milênios como colossos gêmeos e permanecerão nos corações e mentes de milhões de pessoas que incentivaram a romper as correntes da opressão, seja social, racial, sexual ou espiritual, liderando pelo exemplo e deixando um caminho visível para trás.

Peter Lownds é autor e tradutor. Vive em Los Angeles, com um amor pela cultura e tradição literária brasileira. É um dos fundadores do Instituto Paulo Freire na UCLA.

Traduzido do People’s World por Luciana Cristina Ruy

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