Dois novos relatórios destacam o tamanho do desafio. Em 16 de julho, a Energia Sustentável para Todos, uma ONG dedicada a energia limpa e afiliada às Nações Unidas e ao Banco Mundial, disse que 1,1 bilhão de pessoas pelo mundo não têm acesso a resfriamento adequado. E uma análise de maio deste ano, da Agência Internacional de Energia (IEA), organização intergovernamental, mostra que apenas 8%, das 2,8 bilhões de pessoas vivendo nas regiões mais quentes do mundo, possuem ar-condicionado, comparado com mais de 90% em lugares como os Estados Unidos e Japão.
Para esses bilhões, ganhar acesso ao ar-condicionado não é apenas um luxo. Sem resfriamento, a exaustão pelo calor pode romper o funcionamento do corpo, e levar a doenças extremas, como falência dos órgãos, e, eventualmente, morte. O número de pessoas que morrem de doenças relacionadas ao calor pode crescer para mais de 250.000, em 2050, de acordo com um relatório da Organização Mundial de Saúde. Todos se tornaram menos produtivos trabalhando sob o sol, com algumas partes da Ásia e da África encarando um declínio de 12% nas horas de trabalho, em 2050, como resultado de stress por calor, de acordo com relatório da Energia Sustentável para todos. Mais amplamente, uma falta de resfriamento frequentemente também significa que as pessoas não possam garantir a segurança alimentar ou armazenar remédios.
Na superfície, se dirigir à questão parece simples: os países precisam expandir o acesso ao ar-condicionado e fornecer locais de refrigeração públicos, para as pessoas que não podem pagar seus próprios dispositivos. Isso está acontecendo. A Energia Sustentável para Todos estima que mais de 2,3 bilhões de pessoas nos países em desenvolvimento querem comprar ar-condicionado graças as crescentes rendas, quando eles deixam a pobreza e entram na nova classe média global. E em alguns lugares, programas de governo têm procurado construir centros de resfriamento públicos, para aqueles sem seus próprios dispositivos.
“O mundo está ficando mais rico. Ele está crescendo e a maior parte disso está acontecendo nos trópicos”, disse Dan Hamza-Goodacre, que lidera o Programa de Eficiência de Refrigeração do Kigali, uma iniciativa que tem como alvo poluição por resfriamento. “Nós estamos preparados para uma absoluta explosão na demanda por resfriamento”.
Mas usar o ar-condicionado como uma ferramenta para o desenvolvimento é complexo, tanto globalmente, como localmente. A IEA estima que, sem ações dos governos, o ar-condicionado vai usar tanta energia em 2050 como a China usa hoje toda a sua eletricidade. Isso representa um aumento triplo no consumo de energia por ar-condicionado de hoje, muito do que pode vir em países em desenvolvimento que continuam fortemente dependentes de combustíveis fósseis. Como fundamento, as nações também vão precisar construir novas usinas elétricas, para acompanhar a demanda, ou arriscar uma grade instável.
“O ar-condicionado tem sido um enorme dreno de eletricidade” disse Erik Solheim, que lidera o Programa de Meio Ambiente nas Nações Unidas. “O resfriamento é provavelmente o maior consumidor de energia, e as pessoas tendem não pensar sobre isso”, afirmou.
Além do consumo de energia, produtos de resfriamento podem também contribuir para as mudanças climáticas por emissão de hidrofluorcarbonetos (HFCs), compostos químicos que podem aprisionar o calor na atmosfera, em taxas alarmantes. Cientistas dizem que emissões sem diminuição de HFCs sozinhos podem adicionar quase 1ºF (-17.2ºC) de calor na atmosfera até o fim do século – quase um terço do alvo de 3.6ºF (2.2ºC) considerado como valioso no Acordo de Paris pelos cientistas, como o máximo de alta de temperatura antes que o mundo sinta alguns dos mais catastróficos efeitos das mudanças climáticas.
O começo de uma solução global é emergente. As companhias têm desenvolvido tecnologias de resfriamento mais eficientes, que também são livres de HFCs, e planejam expandir a venda de tais produtos nos países em desenvolvimento, nos próximos anos. E em 2016, mais de 170 nações alcançaram um acordo chamado Alteração Kigali, que definem alvos para acabar com o HFCs, e vai reformular padrões internacionais sobre como fazer ar-condicionado. (Os Estados Unidos não ratificou o acordo até agora, apesar do apoio de empresas e alguns senadores republicanos, que acreditam que as empresas americanas podiam vender as soluções).
Esses esforços terão que coincidir com a magnitude do problema à frente. “Não é sobre todos que podem pagar comprando um ineficiente ar-condicionado”, disse Rachel Kyte, que lidera o programa de mudanças climáticas do Banco Mundial, e que agora lidera a Energia Sustentável para Todos. “Os governos têm que perceber a extensão da questão que eles têm. Não é algo que eles podem adiar”, concluiu.
Fonte: Justin Worland para TIME, julho de 2018.
Tradução Luciana Cristina Ruy.