PUBLICADO EM 04 de mar de 2022
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Pochmann: país não conseguiu voltar a 2014 e tem economia como um ‘queijo suíço’

Além de um prolongado período sem crescimento, economista aponta problemas estruturais que são desafio para uma efetiva recuperação

Agronegócio já teria reconhecido erro de abrir mão do sistema produtivo nacional, como mostra crise dos fertilizantes – Foto: Reprodução

Os resultados do PIB de 2021, divulgados nesta sexta (4) pelo IBGE, mostram o país voltando a 2019 “do ponto de vista do valor da produção”, mas ainda distante do melhor momento da economia, observa o professor Marcio Pochmann. “Está se falando que houve uma recuperação. É uma recuperação pontual, do ponto de vista da pandemia”, observa o economista. A estagnação prolongada, acrescenta, “expressa de certa forma, o pior cenário do Brasil republicano”.

“É importante dizer que não voltamos a 2014”, ressalta Pochmann. Pelos dados divulgados hoje pelo IBGE, o país está 2,8% abaixo de sua melhor marca histórica, alcançada naquele ano. Além disso, diz o economista, o desempenho da economia brasileira revela problemas estruturais que desafiam uma volta do crescimento.

Pontual, parcial e desigual
Para o ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Fundação Perseu Abramo, a “recuperação” nos números do PIB de 2021, além de pontual, é parcial e aprofunda desigualdades. “Temos uma economia aberta, com muitos buracos. Parece um queijo suíço”, compara. O crescimento das importações expõe essa “economia aberta”, principalmente porque – aponta Pochmann – o país foi se desfazendo de seu setor industrial.

Assim, é preciso pensar em um programa de substituição das importações. O próprio setor do agronegócio, diz, estaria reconhecendo essa fragilidade, como mostra a atual dependência dos necessários fertilizantes, situação que preocupa pela guerra entre Rússia (que vende os insumos ao Brasil) e a Ucrânia. Hoje mesmo, Pochmann escreveu em rede social anos que “após o ingresso mal feito na globalização que desarticulou o sistema produtivo nacional, o agronegócio reconhece o erro da privatização” que acabou com a autossuficiência brasileira.

Inflação e defasagem tecnológica
Mais que isso, o desenvolvimento tecnológico mundial, “em saltos”, torna ainda mais desafiadora uma efetiva recuperação brasileira. “Cada ano perdido torna mais difícil acompanhar o ritmo das transformações tecnológicas.”

Ele aponta ainda outro “problema estrutural” da economia, que leva ao aumento da inflação. “Houve fechamento de empresas. Você tem, vamos dizer assim, menos agentes econômicos, um economia mais oligopolizada. Qualquer aumento de custos se repassa para os preços.”

Em um período de tempo mais amplo, lembra ainda Pochmann, o país avançou pouco. “São quatro décadas de decadência. Mas também foi não foi uma reta. A primeira década do século foi muito boa.”

Outro aspecto das informações divulgadas hoje mostra o pouco impacto desses dados para o chamado “mercado”, que há tempo já tem o olhar voltado para este ano, não o anterior. “Nos mercados especulativos, de fato o dado passado pouco ajuda. Isso já demonstra, de alguma forma, como as estatísticas brasileiras estão ficando anacrônicas. Como se o retrovisor informasse para onde se está indo.”

Fonte: Rede Brasil Atual

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