PUBLICADO EM 14 de abr de 2025

EUA: Movimento sindical e sociedade civil se unem na National Action Network

Saiba mais sobre a Conferência do National Action Network e como ela busca ser uma luz em tempos sombrios pela equidade social.

Primeiro dia da Conferência do National Action Network. Foto: People´s World.

Primeiro dia da Conferência do National Action Network. Foto: People´s World.

Por Taryn Fivek

Milhares de delegados de todo os Estados Unidos se reuniram no Hotel Sheraton da Times Square, em Nova York. Talvez mais do que em convenções anteriores da National Action Network (NAN), esta ocorre em um momento crítico na história de 34 anos da organização.

Donald Trump é agora o 47º presidente dos Estados Unidos e, em seus primeiros dias no cargo, tem travado uma guerra aberta contra grande parte do que esta assembleia mais valoriza: a democracia, os direitos civis e os princípios de diversidade, equidade e inclusão.

O tema da conferência é “ser uma luz em tempos sombrios” e tem como objetivo “estrategiar um caminho adiante que preserve o progresso da nossa nação na construção de uma sociedade justa e equitativa”.

Não à margem

Ainda assim, os painéis e a multidão não parecem estar paralisados por derrotas. O advogado de direitos civis Benjamin Crump moderou um painel chamado “Do luto à ação: a luta pela justiça social continua”, que contou principalmente com pessoas que sofreram a perda mais devastadora de todas: o assassinato brutal e sem sentido de um filho ou irmão devido à violência policial, ao vigilantismo – sobretudo ao racismo.

A semelhança física dos entes queridos perdidos ressoava nos rostos dos familiares, mas eles se mantêm firmes. Estavam presentes Gwen Carr, mãe de Eric Garner; Pamela Dias, mãe de AJ Owens; Sybrina Fulton, mãe de Trayvon Martin; Wanda Cooper Jones, mãe de Ahmaud Arbery; e Philonese Floyd, irmão de George Floyd.

Eles foram acompanhados no palco pelo vereador Yusef Salaam, da cidade de Nova York, um dos Central Park Five, que perdeu sete anos de sua liberdade e hoje é uma figura influente no Harlem.

Apesar da imensa dor que carregam, são inabaláveis. “Nada do que enfrentamos hoje em 2025 é maior do que aquilo que nossos ancestrais superaram”, disse o advogado Crump do púlpito ao apresentar os painelistas, recebidos com aplausos de pé.

Invocando os nomes de Angela Davis, Frederick Douglass e Malcolm X, Crump afirmou que nunca houve momento melhor para o que chamou de “mentalidade do ‘por todos os meios necessários’”.

Unidos na ação

O tema comum dos painelistas era de que a comunidade afro-americana enfrentou desafios ainda maiores do que Trump e sobreviveu. “Estamos aqui porque Deus disse que deveríamos estar”, declarou o vereador Salaam à plateia. “Deus nos quebrou e nos mudou e fez ouro escorrer pelas rachaduras, transformando-nos em obras de arte… Precisamos dessa visão de 50 mil pés de altura, que nos permita enxergar 50, 100 anos no futuro, onde estaremos bem.”

“Estamos acostumados a lutar”, disse Sybrina Fulton. “Entendemos a missão.”

Gwen Carr tocou em pontos semelhantes. “Olhem para nossos ancestrais. Eles não tinham um décimo do que temos para lutar. Mas eles foram sem ter, para que pudéssemos ter. Precisamos lembrar sobre quais ombros estamos em pé. Nós construímos este país.”

O chamado à ação também foi semelhante. Das bocas que inspiraram milhões a irem às ruas em protesto para proteger vidas negras vieram apelos por boicotes a empresas que não respeitam essas vidas. Os painelistas listaram algumas preocupações principais: Amazon, Target, Walmart, Sam’s Club.

“Essas [empresas] estão tentando eliminar vocês”, disse Philonese Floyd, como justificativa para a manutenção do boicote. Afinal, são empresas que cederam rapidamente às exigências de Trump para encerrar iniciativas de diversidade, equidade e inclusão.

Energia em alta: defesa do poder sindical

A energia na sala aumentou ainda mais com o painel intitulado “Defendendo o Poder Sindical: Protegendo os Direitos dos Trabalhadores em Tempos Incertos”.

“Quantos de vocês são membros de um sindicato?”, perguntou o reverendo Al Sharpton, moderador do painel, sendo respondido com uma explosão de aplausos. Sharpton apresentou Claude Cummings Jr., presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Comunicação (CWA); Everett Kelly, presidente da Federação Americana de Empregados do Governo (AFGE); Rebecca S. “Becky” Pringle, presidente da Associação Nacional de Educação (NEA); Lee Saunders, presidente da Federação Americana de Funcionários Estaduais, Municipais e de Condado (AFSCME); e Randi Weingarten, presidente da Federação Americana de Professores (AFT).

Um painel notável

Este painel trabalhista foi notável porque não aparecia nos cronogramas da NAN disponíveis online. Mas, como o painel deixou claro: o ataque à diversidade, equidade e inclusão (DEI) e o racismo de Trump não podem ser separados dos ataques ao movimento sindical.

“Se este presidente e esta administração tiverem sucesso, eles literalmente tentarão acabar com os sindicatos,” alertou Sharpton. “Se não fosse pelo trabalho organizado, não teria havido movimento pelos direitos civis. Vamos deixar isso claro.”

Sharpton então contextualizou historicamente a Marcha sobre Washington de 1963 para os presentes — alguns deles, certamente, estiveram lá. Explicou como muitas pessoas que compareceram nem sabiam que veriam Dr. King naquele dia — sabiam apenas que seus sindicatos os convocaram a marchar por igualdade racial e empregos com dignidade.

“Eles foram organizados pelos sindicatos,” disse ele. “Sendo nós uma organização de direitos civis, precisamos entender que, se o trabalho organizado cair, nós cairemos também.”

Os painelistas então passaram a detalhar os muitos ataques da nova administração Trump: destruição do Conselho Nacional de Relações do Trabalho (NLRB), cortes na Previdência Social e no Medicaid, revogação dos direitos de negociação coletiva de mais de um milhão de funcionários públicos e demissões em massa no governo.

Weingarten apontou que a mentira sobre ineficiência e funcionários públicos preguiçosos remonta a Ronald Reagan, e que os presidentes republicanos subsequentes só agravaram essa percepção pública.

“Temos que estar na defensiva com os casos na Justiça,” disse Saunders da AFSCME. “Mais importante ainda, precisamos ir para o ataque. Não pode ser apenas o trabalho organizado. Tem que ser todo mundo.”

“As pessoas querem o poder que um sindicato proporciona,” afirmou Weingarten. “Todos nós juntos precisamos reagir.”

Ela também reconheceu a desmoralização de muitos em relação à falta de avanços e à posição vulnerável do movimento sindical. Ela não foge disso. Diz que muitos estão com razão decepcionados porque “o arco da justiça não se curva rápido o suficiente. Mas Trump está contando com essa decepção. Ele está contando com nossa divisão.”

Sem medo de nomear o que considera a verdadeira natureza dos ataques de Trump, Everett Kelly, da AFGE, usou apenas uma palavra para descrever os planos de desmantelar a Seguridade Social, o Departamento de Assuntos de Veteranos e os direitos sindicais: “maligno”. E qual a resposta? Mobilização. Ele ergueu um cartão-postal pedindo que o público ligasse para seus representantes e se opusesse à agenda de Trump. “Precisamos ocupar as ruas.”

Rebecca Pringle, da NEA, resumiu os apelos: “Haverá grandes mobilizações no dia 1º de maio,” ela disse, aludindo ao Dia Internacional dos Trabalhadores. A plateia explodiu em aplausos. Mas até lá, e depois disso, “preciso que vocês se mantenham firmes em seu poder.”

Taryn Fivek é repórter do People’s World em Nova York.

Artigo traduzido do People´s World por Luciana Cristina Ruy

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