PUBLICADO EM 25 de set de 2022
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Em The Front, Prince passa de um homem alienado a um contestador da censura; filme

Durante o macarthismo, a acusação de ”comunista” era grave. E o governo perseguiu, ameaçou e isolou suspeitos

O debate sobre a guerra fria é permeado pelo radicalismo e pelo sectarismo. Enquanto a URSS levantou a bandeira da igualdade social, os EUA levantaram a da liberdade e da social democracia. Mas na prática nem uma coisa nem outra se concretizou.

Cada lado usou artimanhas não só para atingir seus ideias, mas também para influenciar e conquistar poder político. Não era, contudo, uma balança equilibrada. O poder de fogo e de opressão americano desde o início foi desproporcional e criou fantasmas para aniquilar o adversário soviético. Responsável por disseminar o terror anticomunista o governo americano perseguiu em seu próprio país qualquer pessoa que não rezasse a cartilha imposta de cima à baixo.

E o filme Testa de Ferro por Acaso é um recorte desta situação. Um lado Howard Prince, um mero operador de caixa de restaurante, vê sua vida mudar quando o velho amigo Alfred Miller lhe pede para ser seu “testa de ferro”. Renomado roteirista de novelas e programas de televisão, ele se vê impedido de exercer seu trabalho após o acirramento do macarthismo nos Estados Unidos. Sua única saída é contar com um amigo, no caso Howard, para assinar e vender seus textos.

Como muitos escritores estadunidenses Miller flertava com ideais socialistas entre as décadas de 1940 e 1950. Naqueles anos, entretanto, o governo dos EUA disseminaram o comunismo e a espionagem em sua sociedade.

Durante o macarthismo, a acusação de ”comunista” era grave. E o governo perseguiu, ameaçou e isolou suspeitos, impossibilitando-os de exercer suas profissões. Comumente o conchavo era feito com as cúpulas das instituições, que seguiam a instrução de não contratar ou demitir quem tinha o nome na chamada “lista negra”.

Em consequência, foi instituído um clima de histeria, delações e vigilância. Como mostra o filme, a pressão era tanta que levou muitos ao suicídio. Na área cultural, o macarthismo realizou o que alguns denominaram de “caça às bruxas”, atingindo atores, diretores e roteiristas.

Esta situação se arrastou até o ponto em que o povo estadunidense, indignado com as flagrantes violações dos direitos individuais, pressionasse pelo fim destes atos.

Muitos filmes foram produzidos como forma de documentar e denunciar este período sombrio da história dos EUA. Entre eles Boa Noite e Boa Sorte, dirigido por George Clooney, O Nosso Amor de Ontem, de Sydney Pollack, e este, dirigido por dois autores que tiveram seus nomes inclusos na lista negra do macarthismo. Nele, Howard Prince passa de um rapaz alienado a um artista politizado, contestador da repressão e da censura. Ele sente que a ordem política se infiltra em todos os poros de sua vida. Sente que a liberdade e a garantia aos direitos civis proclamadas não passam de fantasia imposta a seus conterrâneos como se fossem verdades absolutas. Verdades que, como ele nota, se desfazem quando esbarram em interesses políticos e econômicos.

Testa de Ferro por Acaso (The Front)

EUA, 1976
Direção: Martin Ritt e Walter Bernstein
Elenco: Woody Allen, Zero Mostel, Herschel Bernardi, Michael Murphy, Andrea Marcovicci, Remak Ramsay, Danny Aiello, Josef Sommer, David Marguiles

 

 

 

 

 

Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical. Do livro “O mundo do Trabalho no cinema”, publicado por Centro de Memória Sindical

Assista o trailer:

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