PUBLICADO EM 31 de ago de 2019
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Sombrio, alienado e desinteressante como Secos & Molhados, Milton Nascimento e Chico Buarque veem o mundo do trabalho

Aqui são apresentadas três canções de autores muito diferentes sobre o mundo do trabalho.

Por Marcos Aurélio Ruy

A música popular brasileira sempre esteve antenada com os acontecimentos da vida brasileira. Nenhum tema escapou de sua verve. Muito porque grande parte dos artistas pertence às classes populares ou nutre simpatia por uma sociedade menos desigual e injusta.

Aqui são apresentadas três canções de autores muito diferentes sobre o mundo do trabalho. A primeira é a poesia do português Fernando Pessoa (1888-1935), musicada por João Ricardo, do grupo Secos & Molhados, O patrão nosso de cada dia.

O grupo Secos & Molhados explodiu em sucessos no ano de 1973 com João Ricardo, Gérson Conrad e Ney Matogrosso. A melodia soa como um os sinos que dobram longe do chão da fábrica, ressaltando a rudeza de um mundo do trabalho opressor como mostra o poema. Trecho da bela canção diz que:

“Eu vivo preso
A sua senha
Sou enganado

Eu solto o ar
No fim do dia
Perdi a vida”

Sufocado pelo anseio de suplantar o trabalho sombrio, alienado e desinteressante.

O patrão nosso de cada dia, de Fernando Pessoa/João Ricardo:

Quase um complemento radical da música dos Secos & Molhados é a canção Caxangá, de Fernando Brant (1946-2015) e Milton Nascimento. A luta de classes explícita nos versos que contradizem o presidente Jair Bolsonaro que disse ser muito difícil ser patrão no Brasil. Porque ser trabalhador num governo como esse, com certeza, é muito pior.

“Veja bem meu patrão como pode ser bom
Você trabalharia no sol
E eu tomando banho de mar…

…Saio do trabalho, ei
Volto para casa, ei
Não lembro de canseira maior
Em tudo é o mesmo suor”

Caxangá, de Fernando Brant/Milton Nascimento:

Chico Buarque tem várias músicas sobre o tema. Em Cotidiano, ele relata a vida de um operário, em 1971. A mulher que lhe acorda, faz o café e o beija. A sofreguidão de não poder dizer não ao patrão e se resignar porque pensa na vida pra levar.

“Todo dia eu só penso em poder parar
Meio dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão”

E mesmo com toda essa dureza, o amor prevalece entre o casal.

Cotidiano, de Chico Buarque:

 

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