Em seu pronunciamento em cadeia nacional, no dia do trabalhador, em 1º de maio de 2019, o presidente Jair Bolsonaro não falou em emprego, em trabalhador e falou apenas uma vez a palavra trabalho, quando disse “É o meu compromisso com você neste Dia do Trabalho”.
Em vez disso ele falou em “proporcionar, por mérito próprio e sem interferência do Estado o engrandecimento de cada cidadão” e usou seus dois minutos para apresentar a MP da “Liberdade Econômica”, que visa facilitar a abertura de negócios e, segundo o próprio, é uma ação para “tirar o Estado do cangote”.
Falou para empreendedores em um país assolado pelo desemprego.
Segundo o IBGE, o desemprego subiu 12,7% em março, atingindo 13,4 milhões de brasileiros e número de subutilizados atingiu o recorde de 28,3 milhões de pessoas.
Neste contexto, o empreendedorismo, que pode até ser interessante para um contingente de pessoas das várias classes sociais, não vai resolver o problema da grande massa de desempregados. Mesmo porque, com desemprego em alta, não haverá mercado para consumir os produtos destas empresas.
Bolsonaro espelha-se, mais uma vez nos Estados Unidos da América, tentando recriar no Brasil, à força e sem base para tanto, o mito do “self-made-man”, cuja conotação original referia-se a um indivíduo que sai de uma situação de miséria e consegue vencer no campo profissional. Algo que até mesmo nos EUA, de cultura protestante, é questionável, uma vez que a identidade individual se dá de forma coletiva.
O pronunciamento do presidente no dia 1º de maio, travestido de técnico e econômico, foi, mais uma vez, puramente ideológico. Em sua cruzada contra tudo e todos que se opõe às suas ideias estapafúrdias, Bolsonaro parece incluir os conceitos de trabalhador e emprego no pacote da esquerda.
O povo brasileiro, ainda mais empobrecido no governo de Bolsonaro, precisa que o Estado invista em ações de inclusão e proteção social e em subsídios para a geração de empregos. O retorno deste investimento para a sociedade é muito maior do que os números abstratos apresentados por sua equipe econômica. O retorno é um povo com mais dignidade, mais poder e, aí sim, mais cidadão.
João Carlos Gonçalves, Juruna, secretário geral da Força Sindical
Fonte: Poder360