PUBLICADO EM 17 de maio de 2019
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Não se governa um país que não existe mais

A História é cíclica. E neste dinâmico embate entre progressos e retrocessos, geralmente, as sociedades evoluem, transformam-se.

Essas transformações, atualmente, podem ser facilmente percebidas como nos casos das relações do trabalho, em que a antiga imagem do operário dentro de uma fábrica, na linha de produção, vem cedendo espaço a novas formas ligadas às tecnologias. Essas novas configurações trabalhistas desdobrar-se-iam em milhões de teses sobre os efeitos positivos e negativos, mas o que se evidencia aqui são as alterações das relações empregatícias, as quais parecem um caminho sem volta.

Em um sistema que se estimula o consumo exacerbado, as questões ambientes tornaram-se pautas obrigatórias, ainda mais quando o que se está em jogo é o futuro do planeta e, consequentemente, da humanidade. Defender políticas para a preservação do meio ambiente é defender a existências das futuras gerações. É outro caminho sem volta, que vai além da razão, mas até mesmo do instinto de sobrevivência.

Principalmente depois do século XVIII, com a Revolução Francesa, iniciando a Era Moderna, a Educação ganhou mais amplitude para a formação de povos e nações. A necessidade de expandir o conhecimento e torná-lo acessível a todos passou a ser questão de Estado. Esse movimento, mesmo que encontrando muita resistência até os dias atuais, uma vez que está ligado ao controle, poder e à dominação, também avançou e já se encontra instalado no DNA das novas gerações.

Outras mudanças em curso se verticalizam nas relações afetivas, na concepção do Amor e compreensão de si. Mesmo sob milênios de dogmas, as sociedades estão alterando completamente os moldes do amor estabelecidos essencialmente na Idade Média. Não se trata de apologia, mas de constatação de que o mundo se transformou e segue transformando-se. Com isso, gays, lésbicas e outros gêneros são realidades em nossa sociedade e nenhum decreto, unguento ou culto mudarão o sentimento que se existe de fato dentro das pessoas.

O mundo transforma-se em velocidade vertiginosa: inteligência artificial, automação, redes sociais, medicina, nanotecnologia, whatsapp, holograma, streaming, youtubers e mais um sem número de invenções e novos comportamentos que nos fazem afirmar que há uma nova forma do homem em sociedade.

Não dá para negar que estamos iniciando e vivenciando uma nova era, que ainda se confunde e conflita-se com antigos valores. Nesse choque de realidades, entre o novo e o arcaico, encontra-se o Brasil de 2019, querendo retroagir ao Brasil de 50, 60, 70 anos.

Eis o grande ponto cego de parte da sociedade e de governantes que, sem compreender as profundas mudanças sociais, estabelecem políticas públicas sem conexão com a realidade do Brasil e do mundo, adotando medidas para um país que não existe mais.

Por mais que se tente, por meio de teorias e decretos, a fórceps, reconstruir esse país de décadas atrás, as novas gerações, obviamente, são rebentos formados em um outro tempo, com novas compreensões da vida e da sociedade.

Com todo o conservadorismo e reacionarismo, que ainda permeiam corações e mentes de muitos, é inegável que o Brasil se transformou em muitos aspectos. Essa condição de compreender o novo mundo é imprescindível ou, então, corre-se o risco de administrar um país imaginário, que não existe mais, seremos homens brigando contra moinhos de vento ou cavaleiros em busca de Aurocastro.

Ricardo Flaitt é assessor de imprensa do Sindicato Nacional dos Aposentados.

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