PUBLICADO EM 13 de ago de 2020
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Insensatos e gananciosos

Uma espécie de nau dos insensatos. Ou dos gananciosos, enredados na especulação financeira, que fazem vista grossa para o verdadeiro drama da nação.

Nos últimos dias, diante dos desencontros e impasses em que se meteu a equipe econômica sob a liderança do ex-supeministro Paulo Guedes, setores da elite dominante e da grande mídia desenvolvem enorme pressão em favor da agenda ultraliberal.

Porque para essa gente o povo é considerado apenas nas estatísticas, para medir flutuações do mercado.

Temem o que venha acontecer fruto da incompetência do presidente e de um ministério da Economia desfalcado de quadros considerados importantes – Joaquim Levy (BNDES), Marcos Cintra (Receita Federal), Mansueto Almeida (Tesouro Nacional), Marcos Troyjo (Comércio Exterior), Rubem Novaes (Banco do Brasil), Caio Megale (Fazenda), Salim Mattar (desestatização) e Paulo Uebel (desburocratização).

É patética a cena exibida pelas redes de TV em que o presidente da República e os presidentes do Senado e da Câmara repetem de público a ladainha das reformas neoliberais e do respeito ao teto de gastos.

A realidade é dura e crua, por maior que seja a insensibilidade da horda ultraliberal.

Aqui e mundo afora.

A pandemia do novo coronavírus escancarou a profundidade da crise do sistema imperante no mundo e atingiu dramaticamente os países cujas economias já viviam um quadro de recessão e de acentuada vulnerabilidade e dependência dos humores externos.

No Brasil a pandemia segue sem perspectivas imediatas de declínio, seja pela dimensão continental do nosso território e pelas acentuadas diversidades regionais, seja pelo fosso imenso, criado pelo presidente da República, entre o governo central e governos estaduais e prefeituras.

Na dimensão econômica e social da crise, em que a exclusão acelerada de milhões no mercado formal de trabalho pode se converter, em médio prazo, em portentosa bomba de efeito retardado, dá-se essa impertinência entre a minoria que teima em rezar o credo fiscalista em detrimento das necessidades e aspirações da imensa maioria.

Na ampla e diversificada rede oposicionista que espontaneamente se alastra, é item nodal de um plano emergencial para tirar o país da crise o investimento pesado de recursos estatais para reaquecer as atividades econômicas, através da emissão de pedidos públicos com garantia do Banco Central.

Essa tem sido a receita da quase totalidade das economias do mundo, inclusive onde os governantes são inequivocamente adeptos das políticas ultraliberais.

O déficit público fica para solução posterior, pois agora trata-se de salvar vidas, empresas e postos de trabalho.

O recuo tático temporário de Bolsonaro — desde que se viu acuado pela confluência da escalada das mortes pela Covid-19 com o agravamento da crise econômica e social e a revelação das relações espúrias de seus familiares mais próximos com contraventores associados a milícias — tem como ingrediente a tentativa de arregimentar apoio a nefasta agenda econômica.

Aparentemente vem conseguindo. E isso o permite respirar um pouco antes de retomar a sua estratégia de provocações de natureza golpista.
Ao multifacetado campo oposicionista cabe a resistência.

A realidade concreta precisa falar mais alto do que as vozes da conspirata de banqueiros e especuladores contra nação do povo brasileiro.

Luciano Siqueira é médico e vice-prefeito do Recife

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