Dois Estados brasileiros sofrem forte impacto ambiental nas últimas semanas: Espírito Santo e Minas Gerais. Passa de 50 o número de mortos e, somados, há mais de 30 mil desabrigados. Semanas atrás, o sofrimento acontecia no Rio de Janeiro, onde a água marrom fornecida pelo Estado mostrava-se imprópria ao consumo humano.
Quando a gente olha as fotos dos locais mais duramente atingidos ou assiste às reportagens de TV, constata que as vítimas são quase sempre pobres. Ou muito pobres. Moradores de ocupações nos vales ou de terrenos nas encostas de morros. Nos vales, sofrem com as enchentes. Nas encostas, são atingidos pelos desmoronamentos.
O mundo se urbanizou muito rapidamente e sem planejamento. E, a bem da verdade, com a elite pouco se lixando com a segurança, a saúde ou mesmo a vida desses milhões de seres humanos, inclusive as crianças. Nessa elite, se incluem praticamente todos os governos.
Digo tudo isso a propósito da fala inaceitável do ministro Paulo Guedes, no fórum dos ricos, em Davos, Suíça. Ao tratar da questão ambiental, ele teve o desplante de culpar a pobreza pelo desmatamento ou destruição ambiental. Mas Guedes mentia. O ministro, que é um homem esclarecido, sabe que a principal vítima dos desastres ambientais são as famílias pobres.
Ambiente – Guarulhos passou décadas sem tratamento de esgoto. Quanto isso custou à saúde do nosso povo? Em que nível está hoje a contaminação de nossos córregos, rios, lençol freático e do solo? Todos, de certo modo, sofrem com isso. Mas, sem dúvida, quem mais sofreu e ainda pena são as pessoas pobres, na periferia.
Nosso Sindicato não quer parecer exemplo. Mas durante anos investimos pesado na limpeza dos mananciais em nosso Clube de Campo, no Primavera. Tratamos mananciais, limpamos nascentes e devolvemos água limpa para o córrego que margeia o Clube. Enquanto isso, faltava água nas torneiras das casas e a Prefeitura cobrava por um tratamento de esgoto que não existia.
Paulo Guedes é um homem rico e apátrida. Não faz muito tempo, ao enfrentar dificuldades com a votação da reforma da Previdência, simplesmente ameaçou ir embora pra Miami, onde moram milionários do mundo todo.
Sua fala infeliz em Davos chocou o bom senso das pessoas que têm um mínimo de respeito à natureza e à vida. Ao abordar a questão do meio ambiente, ele bem poderia ter anunciado investimentos na prevenção e parcerias com governos ou entidades internacionais. E não só para a Região Amazônica, mas voltadas ao saneamento básico, cuja precariedade gera doenças, provoca epidemias, contamina regiões e mata pessoas.
Não bastassem as agressões por parte do presidente da República, agora temos seu principal ministro também falando besteiras. Ele tem esse direito? Enquanto homem público, não. Aliás, nem ele, nem qualquer outro.
José Pereira dos Santos é Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
e secretário nacional de Formação da Força Sindical