PUBLICADO EM 13 de out de 2020
COMPARTILHAR COM:

Fome de paz

Um dos piores flagelos da guerra é a fome. Um mundo sem fome é um mundo potencialmente em paz. A fome gera conflitos de toda ordem: desde massacres étnicos e genocídios raciais até as mais singulares tragédias familiares, passando pela migração que atormenta os que acolhem e os que ficam para trás. No exato sentido inverso, onde há conflito, há fome: as duas guerras mundiais deixaram milhões de mortos em combate e outros milhões morreram de fome.

Tanto a Liga das Nações (1919) que dá origem a Organização das Nações Unidas (ONU), fundada em 1945, nascem ao final das duas grandes guerras mundiais e tem, entre seus principais objetivos, evitar o conflito e promover a paz. O Programa Mundial de Alimentos da ONU que acaba de receber o Prêmio Nobel da Paz de 2020 é parte expressiva desse esforço contínuo e se realiza no exato momento que o mundo sai de uma pandemia cujas consequências podem ser equiparadas aos de uma guerra mundial. Se estima que o número de pessoas em insegurança alimentar “severa” pode superar 230 milhões em 2021. Pessoas que não encontrarão meios para comer todos os dias, entre elas, crianças e mulheres migrantes e refugiados das secas e de conflitos étnicos e regionais, os mais vulneráveis.

Segundo a ONU, cerca de 20 mil pessoas morrem por dia em decorrência da falta de alimentos, muito mais que a média diária estimada de mortes por COVID-19.

As políticas de austeridade econômica que priorizam o sistema financeiro ao invés das pessoas e, os governos ultraliberais que priorizam o mercado ao invés dos trabalhadores estão na origem de muitos problemas sociais que resultam em mais fome, sendo o principal deles, o desemprego. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), essa situação se tornou ainda mais explosiva durante a pandemia do novo coronavírus, quando mais de 34 milhões de pessoas perderam seu posto de trabalho, alguns de forma definitiva.

A concessão do prêmio Nobel mais importante a uma organização multilateral do sistema internacional dedicada ao combate a fome representa uma forte mensagem de paz e solidariedade nesses tempos de ódio e de extremos, dominados por ideologias fascistas e pela intolerância que resultam em mais desigualdade, mais pobreza e mais violência. O mundo tem fome de paz, não de guerra.

Nilton Freitas, especialista em Relações Internacionais, representante Internacional de Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM) na América Latina e Caribe.

ENVIE SEUS COMENTÁRIOS

  • João Francisco F Andrade

    Muito boa matéria Nilton…

    Quem tem fome…tem pressa….espero que a sociedade política de todos os países, inclusive o Brasil, se sensibilizem em mitigar este caos chamado fome…

  • Jose Nunes da Silva

    Nilton
    Bom dia. Muito bom.
    Agora esperamos que o governo não corte o auxílio emergencial.
    Nossos alimentos primários (arroz, frango, carne bovina, carne suína, soja, ,etcs),estão sendo exportando para grandes países, como China e outros, deixando o brasileiro, sem alimentos e o povo pagando a conta.

  • Penha

    Parabéns Nilton, por essa conduta ímpar.É mais que merecido o prêmio,o combate à fome ao meu ver é a ação mais importante .Brilhante texto

  • Jurandir ignacio

    A fome não espera , ela tem urgência e uma país que se diz celeiro do mundo em hipótese alguma poderia passar por essa experiência tão desumana fruto de uma política não voltado ao seu povo ….

QUENTINHAS