L’État c’est moi – O Estado sou eu – esta frase, atribuída ao absolutista rei Luís XIV, da França (que governou de 1638 a 1715), é semelhante à dita pelo capitão-presidente Jair Bolsonaro para tentar justificar sua participação no ato público golpista ocorrido em Brasília neste domingo (19). “Eu sou a Constituição”, disse – e enfatizou: “Eu sou realmente a Constituição”.
É alarmante: a emenda piorou muito o soneto, se é que pode ser assim designada a péssima trama ocorrida em Brasília no domingo.
Ação que deixou ainda mais visível o isolamento de Bolsonaro. Embora exista, é preciso reconhecer, uma fatia do eleitorado que acompanha sua insânia e quer fechar instituições democráticas e implantar a ditadura. Essa fatia envolve, talvez, no máximo 20% do eleitorado – algo como 28 milhões dos 146,6 milhões de eleitores brasileiros, diz o TSE. O número é grande, mas absolutamente minoritário ante os demais cerca de 118 milhões de cidadãos aptos a votar, e que apoiam a democracia.
Eles são a retaguarda das instituições – Congresso Nacional, TSE e governos estaduais – e organizações – como a Ordem dos Advogados do Brasil e outras da sociedade civil, como as centrais sindicais e as organizações estudantis, populares, de artistas, intelectuais, religiosos e demais democratas – que rejeitam os atentados ao Estado Democrático de Direito praticados por Bolsonaro e sua gang. São os que respaldam também manifestações de generais – inclusive que participam de seu governo, diz “O Estado de S. Paulo” – que encararam com “enorme desconforto”, como uma saia justa, as ações do capitão-presidente. E, sem se identificar (os militares não podem pela lei manifestar opiniões políticas) condenaram aquelas ações antidemocráticas e as condenaram, lembrando, diz o jornal paulista – que ouviu sete oficiais-generais: cinco do Exército, um da Aeronáutica e um da Marinha – que as Forças Armadas servem ao “Estado brasileiro, e não a um governo”. Todos eles preocupados com a “verdadeira guerra” contra o vírus que o país vive, não podendo por isso gastar energia com alvos diferentes.
Na segunda-feira (20), Bolsonaro tentou desdizer o que insinuou no domingo, quando vociferou contra as instituições e disse que não há o que negociar com nenhuma delas. Mas a manchete de “O Estado de S. Paulo” refletiu o clima – e o isolamento de Bolsonaro – entre os generais: “Recuo de Bolsonaro após participar de ato foi pedido por militares”, que o teriam alertado, diz o jornal, de que sua participação no ato de domingo expôs as Forças Armadas a uma situação constrangedora.
Bolsonaro tenta construir o caminho do golpe. Seu constante “morde e sopra” sonda o terreno com balões de ensaio para ver como o país reage – ele busca o momento que julga mais adequado para seu pretendido ataque às instituições e à democracia.
Neste momento está isolado – não consegue aprovar no Congresso todas as maldades ultraliberais que pretende (a carteira “vede-e-amarela”, por exemplo, foi agora rejeitada), e suas ações políticas o colocam em grande isolamento (como a demissão do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, no dia 16, e sua intervenção no ato golpista, no dia 19).
Mas ele insiste, como mostra sua imitação involuntária de Luís XIV. E comete outro abuso ao dizer que “eu sou a Constituição”. Não é. A Constituição é a Lei Maior, a Carta Magna que subordina todos os brasileiros, e por todos deve ser obedecida. A começar pelo presidente da República, que, no ato de sua posse em 1° de janeiro de 2019 jurou mantê-la, defendê-la cumpri-la, observando as leis, promovendo o bem geral do povo brasileiro, sustentando a união, integridade e independência do Brasil – obrigações que estão em falta na presidência da República em nossos dias.
José Carlos Ruy é jornalista, escritor, estudioso de história e do pensamento marxista e colunista do Portal Vermelho.
Dalvimar Machado
Bolsonaro sofre de transtorno com crises de identidade política. Em suas recaídas de Sabujo, tem sempre que – como um Pitbull –, vociferar: “o presidente sou eu”! “Eu que mando”!. Como se o Brasil inteiro não soubesse que ele usurpou a democracia, querendo dar-lhe um golpe. Como não conseguiu, taí… Nem mesmo ele se convenceu de sua própria eleição.
Cecília
Bolsonaro além de todos os desmontes que está fazendo ao povo brasileiro, cometeu perjúrio, jurou falsamente, traiu a pátria, ficou muito evidente nesta manifestação que ele convocou.