PUBLICADO EM 11 de jul de 2024
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Clodsmidt Riani Filho lê carta que seu pai escreveu no momento da repressão pelo golpe militar

No Dia da Luta Operária, Clodsmidt Riani Filho leu uma carta que seu pai, o histórico sindicalista Riani, enviou à sua mãe, no momento em que sofreu repressão do golpe militar. Reproduzimos aqui o conteúdo da emocionante carta.

Clodsmidt Riani Filho lê carta que seu pai, o histórico sindicalista Riani, enviou à sua mãe, no momento em que sofreu repressão do golpe militar. Ao seu lado, João Carlos Juruna, da Força Sindical, e Márcia Viotto, da CTB.

Clodsmidt Riani Filho lê carta que seu pai, o histórico sindicalista Riani, enviou à sua mãe, no momento em que sofreu repressão do golpe militar. Ao seu lado, João Carlos Juruna, da Força Sindical, e Márcia Viotto, da CTB.

O sindicalista Clodesmidt Riani foi um dos homenageados em memória no Dia da Luta Operária, em 9 de julho de 2024.

Riani, que morreu em 2023 aos 103 anos, foi presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Industria (CNTI) e do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) na década de 1960, além de ser amigo pessoal e conselheiro do ex-presidente as República João Goulart.

Clodesmidt Riani em 2009

O sindicalista Clodesmidt Riani em 2009

Com perfil trabalhista, Riani ingressou no PTB de Getúlio Vargas e de Jango em 1950. Foi deputado estadual, mas nunca deixou de lado a luta sindical. Envolveu-se nas negociações que criaram o salário mínimo e o 13º salário, além de participar de lutas históricas como a Greve dos 300 mil, em 1953, e a Greve dos 700 mil, dez anos depois.

No golpe de 1964, foi cassado e preso pelos militares. Foram anos duros, de repressão e de perdas. Com a anistia, Clodesmidt retomou sua ação política, sempre fiel aos compromissos com os trabalhadores.

Para receber a homenagem das Centrais Sindicais e do Deputado Federal Antônio Donato (PT/SP) no dia 9 de julho, seu filho, Clodsmidt Riani Filho, veio de Juiz de Fora para São Paulo. Ele recebeu a placa das mãos do secretário geral da Força Sindical, João Carlos Juruna, que ressaltou a importância de Riani para a história dos trabalhadores. Riani Filho emocionou a plateia ao ler uma carta que seu pai deixou para sua mãe na ocasião em que sofria repressão do golpe militar. A carta, datada de 5 de abril de 1964, foi fotografada, com a permissão de Riani Filho, pelo jornalista e ativista sindical Sérgio Gomes, e compartilhada com o Centro de Memória Sindical. Reproduzimos aqui seu conteúdo:

Rio de Janeiro, 3 de abril de 1964

Minha querida esposa, saudações

Espero, ao receber esta carta, esteja gozando de plena saúde junto de nossos queridos filhos.

Estive preocupado com você, mamãe e nossos filhos. Penso muito em meus amigos e irmãos que foram presos em Juiz de Fora e Belo Horizonte. Mas a vida é esta de luta. Lutar para viver e não viver para morrer de fome e nossos filhos na miséria. Estou mais animado do que nunca para lutar por um Brasil melhor e que nossos filhos e filhas de milhares de trabalhadores tenham mais oportunidades do que eu. Tenham uma vida mais humana e mais digna. Norma, a única coisa que reclamo é da injustiça de querer nos tratar como agitador ou comunista. Eu nunca fui, não sou e não serei comunista jamais. Sou católico por convicção, sou democrata por instinto, sou lutador das causas sindicais e trabalhistas e feliz daqueles que tem um ideal para lutar e defender. Lutarei enquanto puder por um Brasil progressista, para que haja melhor condições de vida para a classe operária, para que haja menos fome e menos misérie, que acabe com as doenças, com o analfabetismo. Norma, diga aos nossos estimados filhos, parentes e amigos, que estou lutando pela liberdade, e aqueles que lutam pela liberdade, viverão para eternidade.

Agradeço a você, à minha querida mãe, meus queridos filhos, por tudo que tem feito por mim.

Estou bem, graças a Deus, e espero, dentro em breve, estar junto de todos vocês.

Estou tomando várias providências. Não acredite em boatos. Já falaram que fui preso em São Paulo, aqui no Rio e muito ainda vão dizer mais. A verdade é que estou com a minha consciência tranquila, de dever cumprido. Deus tem me ajudado sempre e nada mais poderei pedir a Deus a não ser saúde para mim na luta e felicidade para você e nossos queridos filhos. Norma, receba forte abraço, abraço nossos filhos e peça minha mãe me abraçar,

Adeus, Garoto

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