PUBLICADO EM 06 de dez de 2017
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“É necessário que a economia do país reaja”, diz Luiz Carlos Miranda

Em entrevista ao Diário do Aço, o representante dos Trabalhadores e Aposentados da Usiminas no Conselho de Administração, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga, fala sobre perspectivas, história e afirma que as condições de Minas e o Brasil geram boas perspectivas.

Luiz Carlos Miranda é advogado, foi funcionário da Usiminas por 45 anos, eleito seis vezes presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga (Sindipa), e foi presidente da Força Sindical em Minas. Exerceu o mandato de deputado estadual entre os anos de 2010 e 2011, quando recebeu a expressiva votação de 42 mil votos. Militou com Leonel Brizola no Partido Democrático Trabalhista (PDT), é fundador do Solidariedade e, atualmente, exerce o cargo de secretário-geral do partido no Estado. Por último, foi eleito representante dos Trabalhadores e Aposentados da Usiminas no Conselho de Administração da empresa, em 2016. Na entrevista, Miranda aborda, também, pontos polêmicos e afirma: “Os que me batem a vida inteira são os mesmos”:

Diário do Aço – De um modo geral, qual sua percepção sobre o futuro político e econômico de Minas e do Brasil?

Luiz Carlos Miranda – Minas e o Brasil têm vivido nos últimos quatro anos a maior instabilidade política da sua história, com efeitos danosos na vida das pessoas, como o alto índice de desemprego e a prestação de serviços públicos de péssima qualidade. O controle da economia de um país transcontinental como o nosso é complexo e carece de políticas e ajustes que, na maioria das vezes, são extremamente amargos. Veja o caso da Usiminas, que está aqui do nosso lado, repare o que uma boa gestão pode fazer a bem do coletivo, eu fico me perguntando: Por que os governantes não seguem o mesmo modelo na gestão dos recursos públicos? As Empresas Usiminas, que empregam diretamente mais de 17 mil pessoas, passaram por momentos críticos nos anos de 2015 e 2016, e agora vêm se restabelecendo, com resultados extremamente positivos nos últimos trimestres. Mesmo diante de um cenário econômico adverso, a recuperação da empresa vem contando com o apoio e mobilização dos trabalhadores por melhores resultados. Há de se destacar o trabalho incansável do atual presidente e todos os executivos da sua diretoria. Além do apoio incondicional do conselho de administração, do qual faço parte.

DA – Especificamente em relação à Usiminas, quais são as perspectivas econômicas e financeiras em curto prazo?

LCM – Bastante positivas, principalmente se o Brasil voltar a crescer nos próximos anos. Os resultados que a Usiminas vem obtendo nos últimos 11 meses são surpreendentes. Até mesmo para os grandes analistas econômicos tem sido uma grata surpresa a recuperação da empresa em tão pouco tempo. Tudo isso fruto do esforço coletivo dos colaboradores, direção e conselho de administração, sob a liderança do CEO Sergio Leite. As perspectivas são as melhores possíveis. No entanto, é necessário que a economia do país reaja, para que essa trajetória de bons resultados permaneça ativa pelos próximos anos, para se tornar definitivamente sustentável. O dever de casa os atuais gestores da Usiminas estão fazendo, o que falta, agora, é o governo brasileiro ajudar, propondo medidas para a retomada do desenvolvimento econômico no país.

DA – O senhor entrou na vida metalúrgica como ajudante em uma terceirizada, posteriormente foi contratado pela Usiminas, trabalhou na manutenção, se tornou supervisor de área, presidiu o sindicato por seis mandatos e hoje se tornou conselheiro dessa mesma empresa também eleito pelo voto dos trabalhadores e aposentados. O que diria a um jovem que começa agora a carreira como metalúrgico em uma terceirizada ou mesmo na própria Usiminas?

LCM – Diria que vale a pena lutar, sempre. Antes de chegar à Usiminas vendi picolé, engraxei sapato, lavei carros, fui padeiro em Governador Valadares para conseguir pagar meus estudos e ajudar meus pais. Tive que ajudar a criar meus sete irmãos, pois meu pai morreu muito cedo. Cheguei à Usiminas para jogar no time da empresa em troca de um trabalho quase subumano para os tempos de hoje. Mas sempre fui curioso e audacioso ao mesmo tempo. Fazendo além da minha função e aprendendo um pouco mais. Fui estudar Direito viajando 100 km todos os dias, e nesse mesmo período comecei a militar no movimento sindical. Convivi em São Paulo com grandes sindicalistas nacionais, inclusive com o ex-presidente Lula, Vicentinho, Paulinho, Meneguelli, Magri, dentre outros. Por várias vezes, corri o risco de perder meu emprego para participar dos movimentos sindicais em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, apenas para citar alguns momentos. Mas nunca tive medo do enfrentamento, meus medos nunca venceram meus ideais. Apesar de uma infância, adolescência e juventude difíceis, creio que venci. Tenho muito orgulho daquilo que ajudei os trabalhadores conquistar, ou muitos casos, não deixar que perdessem. Assumi um assento no conselho de administração da empresa no momento mais tenso e adverso que poderia ocorrer, com a disputa interna entre os acionistas, decidi junto com outros conselheiros que as coisas precisavam ser mudadas. Mudamos e está dando certo, os resultados estão aí. Aos mais jovens, deixo a minha mensagem de otimismo e perseverança de sempre, em qualquer tempo, vale a pena lutar por aquilo que você acredita.

DA – Na condição de representante dos trabalhadores e aposentados no Conselho de Administração da Usiminas, você apresentou nos últimos dias, uma carta reivindicando a antecipação da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) para os colaboradores da empresa, e o presidente Sergio Leite, em evento recente, anunciou que sua sugestão será acatada, como você avalia isso? O relacionamento da empresa com seus funcionários está melhor com a nova diretoria da Usiminas?

LCM – Apresentei sim essa pauta, que foi acatada pela diretoria da Usiminas, uma vez que os trabalhadores da siderúrgica estão prejudicados com o não pagamento da PLR nos últimos anos, fruto da inabilidade e falta de diálogo dos atuais dirigentes do Sindipa. Muitos se lembram de que foi na minha época, como dirigente sindical, que a PLR foi implantada na Usiminas. Lembram também que os melhores reajustes salariais feitos em toda história da Usiminas se deram durante nossa luta de 20 anos. Mesmo não estando mais atuando no sindicato de Ipatinga há anos, os meus opositores não se lembram de que durante o processo de privatização da empresa, no mal fadado governo Color, assegurei o direito de que 20% das ações da empresa ficassem com aqueles que de fato a construíram, ou seja, os trabalhadores. Isso foi uma conquista indiscutível e benéfica a todos trabalhadores da época. Creio que estamos caminhando para uma conscientização de que os tempos são outros, a Usiminas de hoje é uma empresa internacional, mas nem por isso poderia mudar sua genética, que é de uma histórica responsabilidade social.

DA – Essa pergunta, se preferir, não precisa responder. O senhor tem mágoa daqueles que sempre fizeram oposição sistemática às suas gestões no Sindicato? Inclusive, recorrendo a apelidos pejorativos como “boca roxa” e “pelego”?

LCM – Mágoa? Nunca tive e nunca terei. Os que me batem a vida inteira são os mesmos, são petistas inconformados com tudo aquilo que conseguimos beneficiar os trabalhadores sem precisar fazer o teatro da greve. Os apelidos que me deram são da linguagem comum entre nós metalúrgicos. Nenhum desses que me criticam construíram algo de concreto a bem do trabalhador ou da sociedade local. Eles se especializaram em criticar e a fazer política pequena. Nunca serão capazes de reconhecer o direito ao retorno de férias, os melhores acordos salariais do Brasil conquistados por nós para os trabalhadores da Usiminas. O retorno de férias foi extinto em todas as demais empresas da siderurgia nacional há muito tempo, aqui não deixei acontecer o mesmo. Essas são apenas algumas das inúmeras conquistas que tivemos ao longo do nosso tempo de atuação sindical. Tenho orgulho das minhas lutas e mais orgulhoso fico de nunca ter perdido uma eleição como candidato a presidente do Sindipa, com o apoio da maioria dos trabalhadores em todas essas vitórias.

DA – E agora? Na condição de conselheiro da Usiminas, como o senhor tem atuado e quais tem sido as suas principais ações no conselho?

LCM – O Conselho é composto por onze conselheiros, todos indicados pelos grupos controladores que cuidam do capital da empresa, a única exceção sou eu, que fui eleito pelo voto dos trabalhadores para representá-los nesse colegiado. Tenho um papel diferente ao dos demais. Por ter sido funcionário da Usiminas por mais de 40 anos, sou o único do conselho que tenho o sentimento local, por conhecer o sentimento da maioria dos trabalhadores e aposentados da siderúrgica. Tenho tido a missão de lutar pela pacificação entre os sócios, o que de certa forma tem dado certo, diante dos resultados positivos obtidos até aqui. Nesses quase dois anos, minha defesa tem sido a de fortalecer a valorização do ser humano, voltar a gerar riqueza e integração com a sociedade no entorno de onde as Empresas Usiminas estão instaladas, de forma especial em Ipatinga e no Vale do Aço como um todo. Voltar a gerar empregos e melhor renda para as pessoas. A reforma do Alto-Forno 1, reforma do lingotamento 3 da Aciaria, propor estudos para a retomada das áreas primárias em Cubatão/SP e a reaproximação da direção da Usiminas com os seus trabalhadores, com as entidades sociais que prestam serviços relevantes, com os clubes de serviços, comerciantes e empresários locais, tem sido o nosso lema e a nossa prática diária. Tenho procurado ser o “olho” e o “ouvido” dos trabalhadores da Usiminas dentro do conselho. Os resultados já estão aparecendo, depois de mais de três anos a PLR voltará a ser paga, inclusive de forma antecipada, por meio de uma sugestão dada por mim à diretoria da empresa. O fiz por entender que os resultados positivos dos últimos 12 meses são fruto do esforço conjunto de todos os colaboradores, diretoria e conselho de administração. E vamos continuar essa luta.

Fonte: Diário do Aço

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