PUBLICADO EM 26 de mar de 2021
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MPB4 canta: Roda Viva; música

Escrita no início da ditadura militar, ainda sob impacto do golpe e às vésperas do endurecimento do AI-5, Roda Viva expressa o espírito daquela época. Espirito de incertezas, de pesar e, sobretudo, de uma busca desesperada por criar uma resistência.

 

Logo no início a letra entrega “Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, a gente estancou de-repente, ou foi o mundo então que cresceu”, revelando um sentimento de impotência que se instalou em grupos políticos, culturais e sociais.

E logo depois declara: “A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega a roda vida e carrega o destino pra lá”, “A gente vai contra a corrente até não poder resistir. Na volta do barco é que sente o quanto deixou de cumprir” e “Faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há, mas eis que chega a roda viva e carrega a roseira prá lá…”. Importante notar que a roseira é a metáfora do socialismo, combatido pelos militares. A música fala sobre como era difícil criar uma resistência naquela época, sendo a Roda Vida, ironicamente, a representação de uma pulsão de morte.

A canção é parte da peça de mesmo nome, dirigida por José Celso Martinez Corrêa em 1967.

Hoje, 54 anos depois, ela, além de sua importância histórica e de seu tom nostálgico, volta a ter um sentido real. O fantasma do regime autoritário voltou a nos assombrar após a eleição, em 2018, de um presidente apoiador da ditadura e de seus torturadores. Voltou a sensação expressa no verso: Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, a gente estancou de-repente, ou foi o mundo então que cresceu” e também a sensação “do quanto deixou de cumprir”. Com todas as suas mazelas aprofundadas pela pandemia, a atual Roda Viva que carrega o destino pra lá é o governo antissocial, negacionista, com arroubos autoritários.

Roda Viva
(Composição: Chico Buarque/1967)
Intérprete: MPB4

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu…

A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá …

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá…

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…

A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou…

A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá…

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…

O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou…

No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá …

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…(4x)

Fonte: Centro de Memória Sindical

 

 

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