PUBLICADO EM 19 de jul de 2019
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Walter Barelli, que faleceu ontem (18), foi uma grande personalidade do movimento sindical

Walter Barelli, foi uma grande personalidade do movimento sindical, um dos principais responsáveis pela consolidação do Dieese como uma entidade reconhecida nacionalmente. Paulistano, nascido em 25 de julho de 1938, filho de um mecânico de manutenção e uma tecelã, formou-se em economia na USP, foi professor universitário e em 1966 tornou-se diretor técnico do Dieese. Barelli ficou no Dieese até 1990. Entre de 1992 e 1994 foi ministro do Trabalho no governo Itamar Franco, entre 1995 a 2002 foi secretário do Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo (SERT), nos governos de Mário Covas e Geraldo Alckmin e entre 2003 e 2007 foi deputado federal pelo PSDB-SP.
Barelli morreu em São Paulo, na noite gelada da última quinta feira, dia 18 de julho, a exatamente uma semana de completar 81 anos.

Barelli participa de palestra sobre os 50 anos da ditadura militar, na ALESP, em março de 2014. Ao seu lado estão o secretário geral da Força Sindical, João Carlos Juruna, e os sindicalistas Vital Nolasco (CTB), Nair Goulart (Força Sindical) e Valdir Vicente (UGT).

Barelli e a descoberta da manipulação dos índices da inflação, em 1977

No Dieese, Barelli foi o responsável pela denúncia da manipulação dos índices oficiais da inflação, em julho de 1977. A denúncia foi o estopim para a deflagração da onda de greves no ABC em 1978. Isso porque as contas apresentadas pelo Dieese eram mais verossímeis e destoavam das oficiais. A equipe técnica do Departamento, dirigida por Barelli, havia descoberto uma expressiva defasagem: a inflação de 1973 foi de 23,5%, e não de 15,4%, como anunciou na época, o ministro da Fazenda Delfim Netto.

Por conta própria o Dieese refez os cálculos salariais verificando as perdas que os trabalhadores sofreram no período e constatou que os trabalhadores haviam perdido 34,1%. Em depoimento por ocasião dos 50 anos do Dieese, Barelli falou sobre este fato e seus desdobramentos:

Havia uma suspeita quanto à veracidade dos dados oficiais de 1973, que confirmavam que o então ministro da fazenda, Delfim Netto havia atingido sua meta de conter a inflação naquele ano ao nível de 12%. Nós tivemos sorte ao descobrir, nos porões do Ministério do Trabalho, em Brasília, as publicações onde o IBGE tinha manipulado os números. Foi um trabalho franciscano. Franciscano não, beneditino. Eu e a Annez Andraus Troyano acabamos descobrindo a coisa toda. Quem manipulou os índices foi a turma do Delfim. E aí começou aquela briga. Os trabalhadores foram perdendo continuamente, em termos de política salarial. O movimento estava dividido, porque o Joaquinzão abriu um processo na Justiça Federal, reivindicando a reposição. E o Lula, que estava surgindo como líder sindical, disse: “nós não vamos entrar com processo, vamos recuperar os 34,1%, ao longo do tempo, nas nossas campanhas salariais”. Foi um período importante de crescimento do movimento sindical, das primeiras greves em 1978, do novo movimento grevista. E, dentro disso, foram multiplicados os escritórios do Dieese nos estados. Nossa expansão também se deu em cima disso (trecho de depoimento gravado em 2006).

Leia aqui o depoimento completo

Walter Barelli e Joaquim dos Santos Andrade concedem entrevista coletiva sobre a manipulação dos índices de inflação em 1977.

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