Subir na carreira, ascender socialmente e almejar pequenas tentações da sociedade de consumo ou arriscar-se na luta por um mundo mais justo? Este impasse ideológico de muitos trabalhadores é o mote de A Classe Operária vai ao Paraíso.
O filme conta a história de Lulu, um metalúrgico tão dedicado que chega a ser adorado por seus patrões e odiado por seus colegas. Considerado alienado e despolitizado, ele não se envolve em protestos sociais e vive sonhando com aquilo que imagina que o dinheiro lhe permitirá consumir. Eis que um acidente reverte esta história. Ao operar sua máquina de trabalho Lulu perde um dedo. Sentindo-se injustiçado, descobre a vida sindical.
Ao se politizar ele ainda tropeça nos desejos pela sociedade de consumo. Neste processo de conscientização política ele se vê entre o radicalismo do movimento estudantil e o pragmatismo do movimento operário, e procura o velho companheiro Militina, operário que enlouquece devido às condições do trabalho na fábrica.
Perder o dedo é um choque de realidade que faz com que Lulu perceba que a vida propagada pelo mercado capitalista não está ao seu alcance. Ele, então, passa a se ver como parte de uma classe social, a classe operária.
Um dos temas principais do filme é o despertar da consciência operária. Ela não ocorre em condições ideais, como muitos imaginam; ocorre devido às contradições concretas do modo de produção capitalista e das mazelas às quais a classe operária é submetida.
O filme mostra o fordismo, sistema técnico organizacional do capital, então dominante nas fábricas e empresas, levado ao seu limite, subordinando os trabalhadores à máquina, com seu séquito de desvalorização da força de trabalho, degradação do trabalhador e a consequente resistência operária.
O filme reflete as profundas mudanças do capitalismo na década de 1970 e a crescente contestação do padrão fordista dominante.
A Classe Operária vai ao Paraíso (La classe operaia va in paradiso)
Itália, 1971
Direção: Elio Petri
Elenco: Gian Maria Volonté, Mariangela Melato, Gino Pernice, Luigi Diberti, Donato Castellaneta
Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical. Do livro “O mundo do Trabalho no cinema”.