PUBLICADO EM 01 de mar de 2018
COMPARTILHAR COM:

2004: quando as “Fake News” eram legais

Muito antes de Trump, as “Fake News” eram a melhor forma de protesto para tipos como John Stewart durante os anos de George W. Bush.

A história: foi um ano de “Fake News”. Não, não 2017, quando as assim chamadas “Fake News” reinaram como um grampo nos tweets do presidente, Facebook reprimiu contas falsas que vomitavam propaganda, e o dicionário Collins ungiu “Fake News” sua “palavra do ano”.

Embora o termo tenha sido cooptado pelos apoiadores de Trump em suas batalhas com algumas organizações de notícias mainstream, “Fake News” – isto é, sátira política empacotada como informação – foi o domínio do ator e comediante John Stewart no pico dos anos de George W. Bush. Para muitos em 2004, fazer mirrar despachos do “The Daily Show” e “The Onion” parecia a melhor arma contra a rotação e a ofuscação de Washington (Imediatamente depois da reeleição do Senhor Bush em 2004, por exemplo, “The Onion” publicou um artigo intitulado “Os pobres da Nação vencem a eleição para os Ricos da Nação”).

Em 2004 Warren St. John escreveu que “Fake News” se tornaram a “tropa de quadrinhos do momento”. Aquela foi também a era de influência para “The Onion” que em 2004 havia se tornado uma leitura obrigatória para as críticas ao presidente e expandia sua edição impressa para novas cidades. Outros humoristas, incluindo Sacha Baron Cohen e Andy Borowitz, também estavam explorando o formato de “Fake News” como piada. Até organizações mainstream estavam mergulhando um dedo do pé. Episódios do “Prime Time Live”, da ABC fechavam com uma interpretação musical de manchetes satíricas. E o programa “Larry King Live”, da CNN contratou o comediante Mo Rocca como um correspondente piadista em convenções políticas.

O grande quadro: bem como o momento político presente, não havia escassez de raiva política em 2004. Democratas ainda se sentiam enganados no despertar dos pendurados boletins de voto da eleição de 2000 e a Guerra do Iraque se tornava cada vez mais sangrenta. Nessa atmosfera de ressentimento, notícias satíricas forneciam um livramento, assim como meios de mercado de massa para aqueles que se sentiam alienados pelas políticas da era Bush. Aquela também foi a última era anterior ao domínio da Internet e das mídias sociais estilhaçarem os hábitos de consumo de notícias da América, significando que ainda havia uma voz de notícias reconhecida institucionalmente que fazia sentido parodiar.

Os Millennials também estavam se unindo à audiência, armados com suas desconfianças sobre grandes instituições. Muitos pareciam concordar com o velho ditado que dizia que “uma piada é verdade embrulhada num sorriso”. O artigo de Times cita um estudo do Pew Research Center, mostrando que 21% das pessoas com menos de trinta anos diziam que estavam consumindo notícias sobre a campanha presidencial de 2004 em fontes satíricas como “The Daily Show”.

“Fake News” como notícias velhas? Eventualmente, a mídia das “Fake News” enfrentaria as mesmas dificuldades que a mídia das notícias reais. Em 2013, depois de um período de declínio das receitas de anúncios, o “The Onion” cessou a publicação de sua edição impressa de vinte e cinco anos.

E, como em qualquer revolução os rebeldes eventualmente se tornam o estabilishment, Mr. Stewart apresentou os Oscars e Steve Carell se tornou uma estrela de sitcom. Mas nada se tornou mais estabilishment do que o próprio termo. Em janeiro, o Presidente Trump apresentou sua definição para o Oscar: o “Fake News Awards”, um projeto antimídia destinado a pichar novas reportagens que ele acredita serem injustas com ele.

Publicado em 9 de fevereiro, 2018

Com Alex Willians, do time.com

Traduzido por Luciana Cristina Ruy

ENVIE SEUS COMENTÁRIOS

QUENTINHAS